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Pedagogia dos monstros - Apresentação

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sobre os irlandeses (ostensivamente apenas para fornecer<br />

informação sobre eles para uma curiosa corte inglesa,<br />

mas, na verdade, como um primeiro passo para<br />

invadir e colonizar a ilha), ele observa:<br />

Trata-se, de fato, de uma raça suja, uma raça mergulhada<br />

no vício, uma raça mais ignorante que todas as<br />

outras nações <strong>dos</strong> primeiros princípios da fé... Eles<br />

têm costumes muito diferentes <strong>dos</strong> outros: ao fazer<br />

sinais seja com as mãos ou com a cabeça, gesticulam<br />

quando querem dizer para você se afastar e balançam<br />

a cabeça para trás tantas vezes quanto queiram para<br />

se livrar de você. Da mesma forma, nessa nação, os<br />

homens passam sua água senta<strong>dos</strong>, as mulheres em<br />

pé... Além disso, as mulheres, tal como os homens,<br />

cavalgam com as pernas separadas, uma perna em cada<br />

lado do cavalo (CAMBRENSIS, 1982, p. 24).<br />

Um tipo de inversão transforma-se em outro, quando<br />

Giraldus decifra o alfabeto da cultura irlandesa —<br />

e lê de frente para trás, contra a norma da masculinidade<br />

inglesa. Giraldus cria uma visão de gênero monstruoso<br />

(aberrante, demonstrativo): a violação <strong>dos</strong><br />

códigos culturais que validam os comportamentos<br />

de gênero cria uma ruptura que deve ser cimentada<br />

(neste caso) com a liga corretiva da normalidade inglesa.<br />

Uma sangrenta guerra de subjugação seguiu-se<br />

imediatamente após a promulgação desse texto, continuou<br />

forte durante toda a Idade Média e, de certa<br />

forma, continua até os dias de hoje.<br />

Por meio de um processo discursivo similar, o<br />

Oriente torna-se feminizado (SAID, 1978) e a alma<br />

da África torna-se escura (GATES, 1988). Um tipo de

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