Pedagogia dos monstros - Apresentação
Pedagogia dos monstros - Apresentação
Pedagogia dos monstros - Apresentação
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
governo e da educação. Ao mesmo tempo, é na negociação,<br />
recombinação e bricolage dessas estruturas que a<br />
identificação da subjetividade e a individuação da agência<br />
emergem, de forma contígua, como fronteiras. Nesta<br />
abordagem, a identidade não pode ser derivada de uma<br />
noção homogênea de identidade coletiva, seja ela raça,<br />
classe ou gênero, assim como a agência não pode ser<br />
atribuída a um individualismo transcendente. A individuação<br />
é obtida na divisão entre a identidade e a agência,<br />
uma divisão que permite, então, uma articulação<br />
entre as duas. Ser “um cidadão” em uma democracia<br />
liberal moderna, por exemplo, significa tanto ser membro<br />
da comunidade imaginada da nação quanto ser<br />
um ser ético autoconsciente e automonitorado. Mas o<br />
status pedagógico do primeiro (sua pretensão a dizer<br />
quem você é) é sempre colocado em dúvida pela performatividade<br />
do último (que exige que você seja o autor<br />
de seus próprios enuncia<strong>dos</strong> e de suas próprias ações). 2<br />
Embora a subjetividade e a agência sejam, pois, efeitos<br />
dessas normas pedagógicas, elas não são, nunca,<br />
apenas sua realização. As estratégias e os discursos <strong>dos</strong><br />
aparatos governamentais contam apenas a metade da<br />
história. É igualmente importante examinar aquelas<br />
improvisações da vida cotidiana que, embora sejam<br />
pouco reconhecidas, são bastante engenhosas. Aqui<br />
as normas culturais são transgredidas e retrabalhadas<br />
no próprio momento em que são instituídas. As práticas<br />
da vida cotidiana, argumenta Michel de Certeau,<br />
“apresentam-se essencialmente como ‘artes do fazer’ isto<br />
ou aquilo, isto é, como mo<strong>dos</strong> combinatórios ou utilizatórios<br />
de consumo”. É este aspecto performativo que ele<br />
vê como a mais importante — e, com freqüência, subestimada<br />
— característica da cultura popular. “Estas práticas<br />
65