Pedagogia dos monstros - Apresentação
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mas um ponto de vista crítico a partir do qual lidar<br />
com ela (PATEMAN, 1985, p. 143).<br />
Enquanto este primeiro eixo registra as transformações<br />
sociais e históricas, o outro mapeia o desenvolvimento<br />
e o crescimento do indivíduo. Seus pólos são<br />
defini<strong>dos</strong> pelo contraste, feito por Rousseau, entre “o<br />
homem natural” (ou a criança) e “o cidadão”: “O homem<br />
natural vive para si próprio; ele é a unidade, o<br />
todo, dependente apenas de si próprio e de seu semelhante.<br />
O cidadão não passa do numerador de uma<br />
fração, cujo valor depende da comunidade” (ROUS-<br />
SEAU, 1911, p. 7). Rousseau recomenda a República<br />
de Platão como um guia para a educação de cidadãos:<br />
as crianças teriam que ser tomadas de seus pais ao nascerem<br />
e criadas coletivamente. “As boas instituições<br />
sociais são aquelas que estão mais aptas a transformar o<br />
homem em não-natural, a trocar sua independência pela<br />
dependência, a fundir a unidade no grupo, de forma<br />
que ele não olhe mais para si a não ser como uma parte<br />
do todo, e esteja consciente apenas da vida em comum”<br />
(ROUSSEAU, 1991, p. 40). Emílio, em contraste, nos<br />
conta como as crianças devem ser educadas a fim de<br />
permanecerem — ou tornarem-se — naturais. Enquanto<br />
os cidadãos devem ser educa<strong>dos</strong> contra a natureza,<br />
de acordo com as exigências da sociedade, os meninos<br />
e as meninas devem ser educa<strong>dos</strong> contra a sociedade,<br />
de acordo com o padrão inato de seu desenvolvimento<br />
psicológico e sua maturação física.<br />
Esta é a natureza das crianças, que precisa ser isolada<br />
de influências sociais daninhas: “Seus defeitos de<br />
mente e de corpo podem ser to<strong>dos</strong> atribuí<strong>dos</strong> à mesma<br />
fonte, ao desejo de torná-los homens antes do tempo”