Pedagogia dos monstros - Apresentação
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doença e do que a morte (pois é não-forma, não-vida<br />
na vida), permanece escondido mas pronto a manifestar-se.<br />
A fronteira para além da qual se desintegra<br />
a nossa identidade humana está traçada dentro de<br />
nós, e não sabemos onde.<br />
Ora, é essencial para essa identidade não se bloquear,<br />
poder experimentar-se ultrapassando limites.<br />
As questões de identidade — em múltiplos planos,<br />
como o político e o cultural — levantam-se em geral<br />
com um pressuposto equívoco: que a instância do<br />
poder (colonizador, económico, estatal) faz perder uma<br />
essência “étnica” qualquer, dada uma vez por todas (a<br />
identidade). Não se vê que se ela se perde é porque já<br />
não tem capacidade de transformação própria. O pior<br />
que uma colonização pode fazer a uma cultura é fixála,<br />
“gelá-la” irremediavelmente nos traços que tinha<br />
num certo momento. Por isso declina. Há sempre problemas<br />
de identidade quando se esgota a capacidade<br />
de mutação e devir.<br />
A força e a saúde de uma cultura medem-se pela<br />
sua aptidão a transformar-se; pela sua plasticidade, pela<br />
sua apetência em devir, evoluir, provocar grandes<br />
mudanças internas.<br />
Por isso o monstro atrai: situando-se numa zona<br />
de indiscernibilidade entre o devir-outro e o caos, ele<br />
pode aparecer — à maneira dessas figuras culturais<br />
aberrantes que são a “mestiçagem”, a “dupla (ou tripla)<br />
cultura”, a “dupla identidade” — como um foco<br />
atractor de saúde e de vida rodeado por regiões mórbidas<br />
ou mortíferas. Qualquer coisa nele se confunde<br />
e confunde a imaginação: não será a monstruosidade<br />
capaz de suscitar um autêntico devir-outro (para além<br />
de mim próprio)? O devir-animal está sempre latente<br />
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