Pedagogia dos monstros - Apresentação
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casos, as capacidades e as regras que permitem que o<br />
sujeito conheça, fale e aja são dramatizadas em duas<br />
figuras cujo domínio e amor desinteressado são expostos<br />
através de uma competência incontroversa: o<br />
Tutor e o Legislador. Estes fornecem, então, um ponto<br />
de identificação simbólica: isto é, “identificação com<br />
o próprio lugar de onde estamos sendo observa<strong>dos</strong>, de<br />
onde olhamos para nós mesmos de modo que apareçam,<br />
a nós mesmos, como pessoas dignas de amor”<br />
(ROUSSEAU, 1911, p. 56). É, assim, à medida que<br />
Emílio se identifica com a posição autorizada da qual<br />
ele é observado pelo Tutor, que ele recebe um mandato<br />
para agir como um agente livre no interior da rede<br />
simbólica intersubjetiva. 3<br />
Em Emílio, essa agência aparece como a interiorização<br />
de uma segunda natureza que busca recriar a virtude<br />
corporificada no estado de natureza: um estado<br />
deduzido do potencial do homem para a perfectibilidade<br />
no interior da sociedade. Como observou Ernst<br />
Cassirer (1963, p. 9), Rousseau “exige que Emílio seja<br />
educado fora da sociedade, porque só deste modo ele<br />
pode ser educado para a sociedade no único sentido<br />
verdadeiro”. Assim, a produção do bom cidadão é compreendida<br />
como a suposta libertação da criança natural.<br />
Se o “homem nasceu livre e se ele está, em toda<br />
parte, acorrentado”, a futura liberdade à qual Rousseau<br />
aspira é a transformação dessas correntes forjadas<br />
pela mente em compromissos eqüitativos e recíprocos<br />
entre a sociedade e o indivíduo, em vínculos intersubjetivos<br />
de união e amor e respeito. O cidadão virtuoso<br />
é aquele que vive esses vínculos como seus próprios<br />
desejos, como suas próprias aspirações e como sua própria<br />
culpa, manifestando, assim, uma capacidade para