Pedagogia dos monstros - Apresentação
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formas de cálculo e mobilização modeladas nas formas<br />
particularizadoras do julgamento estético — uma<br />
política preocupada menos com o povo como um mito<br />
arcaico de origens do que com uma pragmática do<br />
popular como um diálogo infindável, desordenado?<br />
Qualquer proposta que misture a política e a estética<br />
deveria disparar sinais de alarme. Estetizar a política<br />
sem, ao mesmo tempo, politizar a estética e, assim, revalorizar<br />
ambos os termos, como nos ensinou Walter<br />
Benjamin, constitui um passo em direção ao fascismo.<br />
O passo que estou tentando imaginar leva a uma direção<br />
diferente. Ele indica uma política cultural e uma<br />
cultura política que levem a sério a heterogeneidade e a<br />
fragmentação, aqueles tediosos e cômicos fatos da vida.<br />
Nesta alternativa, “identidades” de fogo-fátuo seriam<br />
ainda exorcizadas pela dinâmica da fantasia e do desejo,<br />
pela operação das tecnologias culturais, pelas disciplinas<br />
governamentais e pelos sistemas de representação<br />
e pela interação entre eles — exatamente da mesma forma<br />
que sempre foram. Mas seria preciso resistir à tentação<br />
de fundar uma política na expressão ou perfeição<br />
dessas identidades. Em vez disso, como insistiu Frantz<br />
Fanon, em uma frase que lembra as incertezas e as hesitações<br />
do fantástico de Todorov, “é à zona da instabilidade<br />
oculta onde as pessoas habitam que devemos<br />
chegar” (FANON, apud BHABHA, 1988, p. 19). Como<br />
seria uma política apropriada a uma tal sombria terra de<br />
fronteira? Ela ainda exigiria um cálculo político mundano<br />
— sempre isso. Do sublime ela poderia aprender uma<br />
atenção à materialidade e aos limites da representação e<br />
à sua inevitável inadequação à idéia de totalidade; e a<br />
partir deste reconhecimento da impossibilidade de governo,<br />
poderia também aprender uma certa modéstia