Pedagogia dos monstros - Apresentação
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seu oposto polar: uma demanda pelo kitsch, pela domesticação<br />
da experiência estética como um adjunto<br />
da vida cotidiana. Enquanto a tentativa sublime para<br />
apreender o não-apreensível exige experimentação e<br />
distância, o popular demanda o familiar e o delimitado<br />
mesmo quando, como no melodrama e no horror, está<br />
lidando com a ansiedade, a irracionalidade e a morte.<br />
Mas o popular denota sempre uma força centrífuga,<br />
assim como sua força centrípeta em direção ao consenso<br />
— e a tensão entre as duas. É por isto que algumas<br />
formas populares — especialmente as mais ofensivas<br />
— partilham com o sublime uma transgressão das<br />
fronteiras e do decoro estético. Assim, não é possível<br />
argumentar, com os surrealistas, que o mau gosto deveria<br />
ter seu lugar, ao lado do fantástico, do estranho<br />
e do sublime, em um carnaval de resistência relativamente<br />
à hegemonia do belo?<br />
Esta poderia ser uma versão daquilo que está em<br />
jogo nos filmes de vampiro. Eles não são apenas mecanismos<br />
ideológicos para domesticar ou subverter o<br />
terror e a repressão na cultura popular, como críticos<br />
como Moretti e Wood algumas vezes sugerem. Eles<br />
não podem ser medi<strong>dos</strong> contra uma escala de efeitos<br />
políticos. Eles são mais bem-compreendi<strong>dos</strong> como sintomáticos<br />
e não como funcionais: não como causas<br />
mas como signos da instabilidade da cultura, da impossibilidade<br />
de seu fechamento ou de sua perfeição.<br />
A dialética da repulsão e da fascinação com o monstruoso<br />
revela como as aparentes certezas da representação<br />
são sempre corroídas pelas insistentes operações<br />
do desejo e do terror. Uma lúgubre obsessão com o<br />
arcaísmo e a limiaridade nos filmes de horror e o jogo<br />
que eles fazem em cima das estranhas ambivalências