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Pedagogia dos monstros - Apresentação

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180<br />

A reversibilidade é pois uma potencialidade da<br />

experiência do tempo. É ela que trava a irreversibilidade<br />

e modula o fluxo temporal; é ela que faz do presente<br />

não um ponto sem dimensões, mas uma<br />

seqüência que dura, um bloco de presença ubíqüa. A<br />

reversibilidade é uma latência inerente à experiência<br />

da irreversibilidade.<br />

Essa latência está inscrita no corpo: é a própria latência<br />

(ou “iminência”) da simetria especular da anatomia<br />

humana que induz a “crença” na reversibilidade. Porque<br />

entre a esquerda e a direita, a experiência sensorial do<br />

corpo localiza-se como diferença e simetria; e porque<br />

essa experiência é dupla sendo una, de um mesmo corpo<br />

presente totalmente em todas as suas partes, este adquire<br />

limites: ao tocar-se, o tocar vai e vem, volta ao ponto<br />

de partida no mesmo instante (no mesmo tempo) em que<br />

chegou ao ponto de chegada; porque nunca do primeiro<br />

se desligou. “Voltou”, e não, “percorreu irreversivelmente”:<br />

porque a esquerda é a imagem simétrica quiral<br />

(ligeiramente assimétrica) da direita, o caminho foi paradoxalmente<br />

percorrido e o percurso apagado. Daí a<br />

reversibilidade, inerente à experiência do corpo próprio.<br />

Porque a simetria é assimétrica, um certo tempo se escoou.<br />

E porque há simetria potencial, esse mesmo tempo<br />

não passou. O que não passa do tempo que passa<br />

define a nossa “duração” própria (em sentido quase bergsoniano):<br />

e essa é a dimensão da reversibilidade.<br />

Da mesma maneira, e “por extensão da reversibilidade<br />

do corpo tocante-tocado” (Merleau-Ponty), por<br />

extensão da especularidade do corpo próprio na especularidade<br />

da intercorporeidade, o corpo do outro reflecte<br />

a imagem do meu como num espelho. Mais: no<br />

seio da minha imagem de mim habita a imagem de

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