Pedagogia dos monstros - Apresentação
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A reversibilidade é pois uma potencialidade da<br />
experiência do tempo. É ela que trava a irreversibilidade<br />
e modula o fluxo temporal; é ela que faz do presente<br />
não um ponto sem dimensões, mas uma<br />
seqüência que dura, um bloco de presença ubíqüa. A<br />
reversibilidade é uma latência inerente à experiência<br />
da irreversibilidade.<br />
Essa latência está inscrita no corpo: é a própria latência<br />
(ou “iminência”) da simetria especular da anatomia<br />
humana que induz a “crença” na reversibilidade. Porque<br />
entre a esquerda e a direita, a experiência sensorial do<br />
corpo localiza-se como diferença e simetria; e porque<br />
essa experiência é dupla sendo una, de um mesmo corpo<br />
presente totalmente em todas as suas partes, este adquire<br />
limites: ao tocar-se, o tocar vai e vem, volta ao ponto<br />
de partida no mesmo instante (no mesmo tempo) em que<br />
chegou ao ponto de chegada; porque nunca do primeiro<br />
se desligou. “Voltou”, e não, “percorreu irreversivelmente”:<br />
porque a esquerda é a imagem simétrica quiral<br />
(ligeiramente assimétrica) da direita, o caminho foi paradoxalmente<br />
percorrido e o percurso apagado. Daí a<br />
reversibilidade, inerente à experiência do corpo próprio.<br />
Porque a simetria é assimétrica, um certo tempo se escoou.<br />
E porque há simetria potencial, esse mesmo tempo<br />
não passou. O que não passa do tempo que passa<br />
define a nossa “duração” própria (em sentido quase bergsoniano):<br />
e essa é a dimensão da reversibilidade.<br />
Da mesma maneira, e “por extensão da reversibilidade<br />
do corpo tocante-tocado” (Merleau-Ponty), por<br />
extensão da especularidade do corpo próprio na especularidade<br />
da intercorporeidade, o corpo do outro reflecte<br />
a imagem do meu como num espelho. Mais: no<br />
seio da minha imagem de mim habita a imagem de