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Pedagogia dos monstros - Apresentação

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Tal como o sublime de Kant e o romance gótico, o<br />

melodrama pode ser interpretado como uma forma<br />

caracteristicamente moderna de imaginação. Trata-se<br />

de um sintoma da ansiedade gerada por um aterrador<br />

mundo novo no qual os padrões tradicionais de autoridade<br />

moral entraram em colapso. A força dessa ansiedade<br />

é confirmada pelo aparente triunfo da vilania,<br />

dissipando-se, depois, na vitória final da virtude. Nessa<br />

medida, o melodrama parece exercer a mesma função<br />

otimista que o kitsch. Mas ele também partilha com o<br />

sublime — e com certas formas de realismo — a aspiração<br />

a ir além das superfícies. Ele tenta revelar o drama<br />

subjacente daquilo que tem sido chamado de “a<br />

‘moral oculta’, o domínio <strong>dos</strong> valores espirituais em<br />

ação que é tanto indicado na superfície da realidade<br />

quanto mascarado por ela” (BROOKS, 1985, p. 311).<br />

Tal como no romance gótico, o excesso e a irracionalidade<br />

são funcionais: eles nos permitem conceber o<br />

não-apresentável.<br />

Em seu modo mais realista — nas séries de Eugène<br />

Sue ou de G. M. W. Reynolds, em muitos thrillers<br />

e nas “pinturas femininas” ou até mesmo em Dallas e<br />

Dinastia — o melodrama ressalta o caráter estranho,<br />

os traços dessa irracionalidade no familiar e no normal.<br />

Isso, na visão de Schiller, ecoa sobre a irracionalidade<br />

subjacente da sociedade moderna, vista aqui<br />

não como um campo de oportunidades a serem manipuladas<br />

pelos jovens heróis do Bildungsroman, mas<br />

como um reprimido cultural. Em suas formas mais<br />

monstruosas — em Frankenstein, nas narrativas de<br />

terror, nos atuais filmes sanguinolentos — o melodrama<br />

também figura a irrupção daquela aterradora<br />

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