Pedagogia dos monstros - Apresentação
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ansiedades de Freud e suas próprias compulsões de<br />
repetição; é impossível restringir o significado do estranho<br />
de uma forma tão clara quanto a que ele quer.<br />
As coisas que estão em jogo são a instabilidade das<br />
fronteiras entre o humano e o autômato ou entre o<br />
vivo e o morto, bem como a fragilidade <strong>dos</strong> limites da<br />
identidade. O duplo deveria, portanto, ser visto não<br />
como “contraparte ou reflexo, mas, ao invés disso,<br />
como a boneca que não está nem viva nem morta”:<br />
É o entre que está tingido de estranheza... O que é<br />
intolerável é que o Fantasma [ou o Vampiro ou os<br />
visitantes do futuro] apaga os limites que existem entre<br />
dois esta<strong>dos</strong>, nem vivo nem morto; na passagem, o<br />
morto retorna na forma do Reprimido. É sua volta<br />
que faz com que o fantasma seja o que é, precisamente<br />
da mesma forma que é a volta do Reprimido que<br />
inscreve a repressão (CIXOUS, 1976, p. 543).<br />
Em termos que lembram o herói vendo seu cadáver<br />
sendo confinado em seu caixão, em O vampiro,<br />
ou Drácula dormindo na tumba de sua terra natal,<br />
Cixous (1976, p. 544)<br />
(...) conjura “a idéia supremamente inquietante:<br />
o fantasma do homem enterrado vivo: sua cabeça<br />
textual, empurrada de volta ao corpo maternal,<br />
um prazer horrível”.<br />
Por que a paisagem maternal — o heimlich — e o<br />
familiar tornam-se inquietantes? A resposta está menos<br />
oculta do que suspeitamos: a obliteração de qualquer<br />
separação, a realização do desejo que, em si<br />
mesmo, oblitera um limite...