Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora
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144 <strong>Culturas</strong> <strong>Contemporâneas</strong>, <strong>Imaginário</strong> e <strong>Educação</strong>: Reflexões e Relatos de Pesquisa<br />
Percebe-se no pensamento maffesoliano que a sociedade não é apenas um<br />
sistema mecânico de relações econômicas, políticas ou sociais, mas um conjunto<br />
de relações interativas baseadas em afetos, emoções, sensações que formam o corpo<br />
social: “observa-se um desejo de estar junto que, sendo não-consciente, não<br />
deixa de ser poderoso” (Maffesoli, 1996: 73).<br />
Imagens Simbólicas dos Universos Míticos<br />
Passando, agora, a analisar as estruturas do imaginário dos alunos, apreendidas<br />
por meio do teste AT-9, devemos inicialmente fazer algumas observações no<br />
que se refere à aplicação e análise dos protocolos. Ao optar pela aplicação do AT-<br />
94 em grupos de alunos relativamente jovens, na faixa de 12 a 14 anos, levamos<br />
em conta o risco de coletar um material que talvez não traduzisse corretamente<br />
o seu imaginário, em razão da dificuldade de expressarem-se por meio da escrita.<br />
No entanto, o relato da história contida no desenho é que nos surpreendeu,<br />
pois foi mais fácil fazê-la que o próprio desenho. Procurando entender melhor essa<br />
relativa facilidade encontrada pelos alunos, deparamos com as implicações da cultura<br />
oral, de ricos matizes e significações na comunidade, e sua relação com o processo<br />
de redação em questão, encaminhando-nos a uma importante reflexão a ser<br />
levada em conta na escola.<br />
Segundo Terzi (1995), crianças de meios iletrados, ao iniciar a aprendizagem<br />
da língua escrita na escola, já apresentam bom domínio da língua oral. Desde<br />
muito cedo elas não só ouvem histórias e participam de outros eventos, junto aos<br />
adultos, onde a comunicação se faz necessária, como também começam, espontaneamente,<br />
a produzir suas estórias. A circulação de lendas, mitos, causos, na comunidade<br />
estudada, vem favorecer essa organização do pensamento evidenciada nos<br />
relatos dos protocolos. Além de bem estruturados, isto é, com começo, meio e fim,<br />
os títulos dos mesmos revelaram coerência e capacidade de síntese. Desse modo,<br />
acredito ser de fundamental importância maior aproximação das narrativas orais<br />
na construção da leitura e escrita na escola, uma vez que o desenvolvimento da<br />
língua oral e da língua escrita se influenciam mutuamente.<br />
4. Cabe ainda registrar, apoiando-me em Badia (1999: 79-80), que a aplicação do AT-9 neste<br />
trabalho teve em vista estabelecer “uma situação experimental de encenação de criatividade, autorizando<br />
portanto um amplo espectro de utilização antropológico (...) tratando-se a aplicação<br />
a crianças e adolescentes, funciona como um simples desenho e uma história solicitados por<br />
um adulto (...) e não fará correr mais riscos que aqueles envolvidos por todos os trabalhos de<br />
criatividades propostos nos quadros escolares”.