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Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

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204 <strong>Culturas</strong> <strong>Contemporâneas</strong>, <strong>Imaginário</strong> e <strong>Educação</strong>: Reflexões e Relatos de Pesquisa<br />

Assim sendo, após terem concluído o desenho, do qual se orgulhavam, já que<br />

que reiteradas vezes declararam que não conseguiriam fazê-lo, pedi que me contassem<br />

a estória do desenho, tarefa que eles não conseguiam, de pronto, imaginar<br />

e/ou associar: como desenhar uma história? Para eles, somente desenhar já é<br />

uma proeza, uma façanha: conseguiam cumprir uma tarefa que, paulatinamente,<br />

foi se tornando prazerosa. Aos poucos colocavam mais detalhes e minúcias nas<br />

imagens pictóricas, nem sempre relacionados com o solicitado no teste, mas com<br />

o gosto do divertimento somado ao prazer de cumprir uma tarefa em sala de aula,<br />

tarefa formal de ensino-aprendizagem. Novidade para eles, com mais de sessenta<br />

anos e, até, mais de oitenta anos, mas de qualquer forma uma atividade para os,<br />

inadequadamente, chamados inativos, pois que, cheios de vontade e energia, que<br />

com coragem, se lançam à aventura de aprender/mudar, de aprender a ler e escrever.<br />

Trata-se de uma habilidade nova, quem sabe apenas não explorada no passado,<br />

mas desejada: decodificar os escritos e registrar/escrever suas visões já opacas,<br />

ou nubladas pelas pressões, ao longo da longa vida.<br />

Não posso me furtar a comparar o incomparável da vida humana: as diversas<br />

e diferentes fases, e reforço minha tese de que o ser humano aprende e que o<br />

velho é um velho, mas humano, que vive apenas uma fase diferente da vida: a gloriosa<br />

e vitoriosa conquista da velhice, e que pode aprender. Quantos ficaram pelo<br />

caminho sem o privilégio de nela chegar. Tirei leite de pedra e com o auxílio do<br />

gravador e a rapidez para escrever, anotar os contos, registrei o discurso, preenchi<br />

a folha 1 (um) de identificação – e a última parte do teste, o pequeno questionário<br />

e o quadro das representações, funções e símbolos atribuídos aos elementos<br />

do teste. O gravador somente foi usado, como recurso – considerando a situação<br />

do ainda não domínio da escrita –, quando permitido previamente pelo alfabetizando.<br />

Não se percebe, inicialmente, na visão de conjunto, uma estória desenhada,<br />

e sim figuras/imagens que, por vezes, nada têm a ver com os elementos do teste:<br />

“fusão e confusão” (Hillman, 2001: 108) podem estar acontecendo! Em se tratando<br />

de idosos que não dominam as letras, não leem nem escrevem, ainda – são<br />

aprendizes, alfabetizandos –, as letras ainda são confundidas e soltas, como disse<br />

uma das alunas: “eu ainda não as domino! Eu ainda não consigo colocá-las em<br />

carreirinha, de mãos dadas, como diz meu bisneto”.<br />

A pseudodesestrutura mítica parece acontecer. O imaginário do grupo, que<br />

se deixa ver nessa olhada inicial, remete à presença de um imaginário com estrutura<br />

“defeituosa” (Y. Durand, 1988). Resta saber se: desestrutura verdadeira ou<br />

pseudodesestrutura. É preciso garimpar para encontrar brilhando os diamantes de<br />

possíveis nós aglutinadores de imagens, talvez fiapos de coerência mítica que re-

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