Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora
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<strong>Educação</strong> e diversidade 151<br />
sarinho e coitada da mata, isso foi um milagre. Porque Deus não quis que o monstro<br />
tirasse a vida do passarinho. E por isso ele mandou a espada, perto do rio, e<br />
a água ia ajudar a combater o fogo. O rapaz pegou o seu balde e conseguiu acabar<br />
com o fogo e Deus não quis que a morte tirasse a vida do passarinho e mandou<br />
a espada para ajudá-lo a combater com o monstro.<br />
O autor projetou-se no personagem que salva o pássaro e, por extensão, a<br />
própria natureza. Há continuidade temporal no relato, havendo uma trajetividade<br />
entre os polos da estrutura heróica (mata o monstro e elimina o fogo) e o da estrutura<br />
mística, potencializada pelo personagem pescador, pela água protetora e<br />
pelos peixes. São imagens divergentes que acionadas integraram-se numa mesma<br />
ação, o personagem luta e depois descansa.<br />
Comparando com os dados obtidos por meio de outros instrumentos, é possível<br />
perceber que seu imaginário expressa não só as configurações socioculturais do<br />
seu meio que, como vimos, é considerado seguro, como também sua consciência<br />
ambiental. No seu Diário de Campo esteve sempre descrevendo a natureza, a chuva,<br />
como bênção, as plantações, as colheitas, “louvando” a vida no campo.<br />
Trabalhador, este aluno descreve sua rotina deste modo: ajuda o avô na roça,<br />
molha café, trata dos porcos, puxa água e depois “vai ler”, deleitando-se com as<br />
luzes do saber. Integrado ao meio, filho e neto de pescadores, descreve o lugar onde<br />
mora como “maravilhoso, não quero mudar dali por nada, e eu não quero e nem<br />
vou morar em lugar algum”. Quem gostaria de ser? “Eu seria eu mesmo”.<br />
Na escola, no entanto, encontra dificuldades, principalmente na escrita,<br />
não sendo considerado “estudioso”. Segundo observações de uma professora, é<br />
“preguiçoso”, não gosta de estudar. No que diz respeito às atividades solicitadas<br />
no decorrer da pesquisa, apresentou excelente desempenho, superando as limitações<br />
trazidas pelas dificuldades de escrita. Belos textos acompanharam as<br />
fotografias selecionadas, revelando sua criatividade, como: “a bananeira”, “o pacu<br />
do rio Jauru”, “o carro”, “o arrozal”, “a minha porquinha Neve”, “o rio Jauru”,<br />
“o galo rei do terreiro” e “o quadro de cartões telefônicos”, desfazendo assim a<br />
imagem de “preguiçoso”.<br />
Suas leituras preferidas concentraram-se no livro Poesia dos bichos, sendo<br />
Carlos Drummond de Andrade seu poeta preferido.<br />
I – FESTA NO BREJO<br />
A saparia desesperada<br />
coaxa coaxa coaxa.