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Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

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Museus e educação 245<br />

Talvez fosse ideal um museu departamentalizado, não com gestos expostos<br />

aleatoriamente. Haveria a seção dos gestos simbólicos (e é tão difícil dizer<br />

qual não é), individuais e coletivos: como o do estudante oriental que se<br />

postou diante do trator na praça da ‘Paz Celestial’ ou o do romeiro que paga<br />

promessa carregando enorme pedra na cabeça, durante a procissão de São<br />

José de Ribamar. O primeiro simboliza a coragem; o segundo, o sacrifício, a<br />

autoflagelação, diríamos, em nome da fé.<br />

Haveria outras seções, como a dos gestos bruscos, dos violentos gestos, a dos<br />

gestos calmos, como o leve levantar das mãos de Hermínio 12 pedindo ‘bênção,<br />

meu padrinho’, nas calmas manhãs de Ribamar.<br />

Haveria, ainda, a seção dos gestos sublimes, dos nefastos, dos negligentes...<br />

Deveria haver um espaço só para gestos obscenos? E um lugar só para os<br />

grandiosos gestos?<br />

Quem sabe houvesse uma seção para os gestos ingênuos, outra para os gestos<br />

maliciosos: aqueles que dizem e não dizem, são e não são.<br />

Talvez fosse necessário colecionar também os gestos ligados ao corpo humano.<br />

Sorrisos de todos os tipos quantos 13 não seriam? Piscares. Abrir e fechar<br />

de bocas. Mãos acenando, caindo, mãos se esfregando, acariciando, apertando<br />

o próprio corpo ou partes dele. Pernas bambas... Seriam tantos gestos.<br />

Pernas firmes, correndo, paradas.<br />

Esse museu seria imenso. Se resolvêssemos catalogar e colecionar esses gestos<br />

diacronicamente, então, talvez acabássemos por contar a própria história da<br />

humanidade: a história feita de gestos, de grandes e de pequenos gestos, de<br />

gestos grandiosos e mesquinhos que levaram o mundo ao que é.<br />

Gestos. Gestos. Gestos. A história e a própria vida resultam deles: sucessão,<br />

um puxando o outro.<br />

A verdade é que cada um de nós guarda um museu de gestos: somos projetor<br />

e tela. Em que espaço selecionar, catalogar e reunir tudo isso?<br />

Só existe um: o espaço mental. Nele, individual ou coletivamente, cabem<br />

todos os gestos da humanidade. 14<br />

12. Hermínio era um deficiente mental idoso que vivia na mesma cidade e chamava de padrinho<br />

ou madrinha a todas as pessoas que o tratavam com dignidade e respeito. Costumava<br />

compor inúmeras músicas de bumba-boi de orquestra, imitando com a boca os sons<br />

dos instrumentos de sopro.<br />

13. “Quanto”, na publicação anterior.<br />

14. “Só existe um: o espaço mental. nele. individual ou coletivamente. cabem todos os gestos<br />

da humanidade.”, na publicação original.

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