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Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

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Contemporaneidade e educação 9<br />

A criança ao nascer é, de certa forma, toda voltada para si mesma e em si mesma<br />

encerrada. Vinda de um ambiente pré-natal especialmente protegido, tudo no imediato<br />

ambiente pós-natal a agride: o primeiro hausto de ar que respira, a temperatura<br />

ambiente, o contato das roupas e das mãos, a empreitada de adaptar-se,<br />

momento por momento, ao novo mundo e nele sobreviver. Pouco interesse lhe<br />

despertam as solicitações externas, a não ser na medida em que lhe facilitem o<br />

trabalho de adaptar-se, afirmar-se, viver e crescer. Cada dia é uma conquista.<br />

Pouco a pouco, porém, o bebê começa a sair da concha e, proporcionalmente<br />

a sua própria capacidade de se afirmar no mundo, começa a se interessar por esse<br />

mundo. Descobre técnicas de autoafirmação: que chorar pode dar excelentes resultados;<br />

que agredir ou empurrar funcionam; que sorrir ou beijar podem ser remuneradores;<br />

aprende a pedir e a exigir; domina a façanha inaudita de erguer-se<br />

sobre as pernas, sobre elas manter-se e caminhar – uma tarefa extenuante, mas que<br />

abre possibilidades insuspeitadas de domínio e afirmação sobre o mundo ao redor.<br />

E então, um belo dia, a criança terá dominado todas as técnicas a seu alcance<br />

para afirmar-se em seu mundo. É muito curioso, mas é só a partir desse momento<br />

que ela realmente descobre o mundo em que estivera desde o nascimento. Até então<br />

sua tarefa de viver fora, toda ela, voltada para seu pequeno eu – e sua afirmação.<br />

Estivera ocupada demais consigo mesma para poder realmente dar-se conta do<br />

mundo em que vivia. E na medida em que se desobriga, se desincumbe e se desocupa<br />

do comprometimento consigo mesma, descobre, como num encantamento, o<br />

mundo em que está. E quer conhecê-lo, tocá-lo, senti-lo, medi-lo – nada está a<br />

salvo de suas mãos e nenhuma resposta sobre as coisas a satisfaz. É a idade dos ‘por<br />

quê’?, uma etapa de descobertas e deslumbramentos – curiosidade, descobertas e deslumbramento<br />

que se exercem sobre coisas novas com que ela desde sempre convivera<br />

(a chuva, os carros, as árvores, a barba do avô, e por aí vai) e que, de repente,<br />

descobre. E sobre elas passa a indagar insaciavelmente. Como disse há pouco: até<br />

então, a criança vivera o e para o seu eu, não lhe sobrara tempo nem disponibilidade<br />

para ver e descobrir o mundo em que sempre vivera e vivia.<br />

Vive, agora, uma nova etapa – a do mundo. Etapa que vai durar até que a<br />

criança tenha esgotado suas possibilidades atuais de pesquisá-lo e conhecê-lo.<br />

Então, de repente, quando tocou, pesou, mediu, sentiu, avaliou, indagou, experimentou<br />

tudo o que estava a seu alcance, e ao alcance de seus próprios meios<br />

– quando, embora provisoriamente, conhece o mundo em que está – a criança<br />

(que estará deixando de o ser) se descobre. E teme por si mesma. E indaga sobre<br />

si mesma – por seu sentido nesse mundo enorme e caótico, e por suas possi-

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