Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora
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O desafio de juntar letras, rever e aprofundar conhecimentos... 205<br />
meterão às tendências ou presenças de diferentes estruturas nos microuniversos<br />
míticos que compõem o universo mítico do grupo. É bom lembrar que a curiosidade<br />
que nos move nesta investigação é a de descobrir o imaginário nas representações<br />
de um grupo de idosos que frequentam curso de alfabetização, em<br />
Cuiabá. <strong>Imaginário</strong> entendido, com Gilbert Durand (1989), como o conjunto<br />
relacional de imagens a subjazer as ações, pensamentos e ideias.<br />
Exerço a comparação com a infância ou, mais especificamente, com o alunocriança<br />
que nessa fase da vida desenvolve a coordenação motora, a destreza, orientado<br />
pelo professor ou em brincadeiras manuais várias, domando sua mãozinha e<br />
aprendendo paulatinamente a segurar o lápis – para eles – pesado, mas que aos<br />
poucos vão exercitando a mão e o seguram, de repente, com a suavidade requerida<br />
para a escrita. Na velhice, ao contrário, o exigido para a mesma tarefa se processa<br />
com a dificuldade de pegar com suavidade um leve lápis, com mãos calejadas pelas<br />
árduas e pesadas tarefas da vida, da lida, como eles dizem, do trabalho rude que<br />
exerceram: domésticas, merendeiras, camareiras, sertanistas, pedreiros, etc. A exigência<br />
para a realização da proeza, da escrita, se houve, já se desfez pelo desuso ou nunca<br />
se desenvolveu nesta medida, pela carência do exercício necessário, da postura do<br />
corpo e adestramento da mão, que se sabe domável, notadamente naqueles/nestes<br />
que, mesmo chamados velhos, são idosos – com mais idade – que, plenos de desejo/motivação<br />
genuína, têm ânsia de aprender, de saber: actante atrativo na análise<br />
actancial sugerida por Yves Durand (1988).<br />
A educação/instrução é uma pulsão, um desejo, mas também pressão do<br />
meio cósmico e social, que só será deglutida/entendida/assimilada na hora ou<br />
quando esta pressão ressoar ou encontrar ressonância nos desejos interiores, nas<br />
pulsões. Quando a motivação acontecer. É preciso estarem maduras a situação e<br />
as condições pessoais e culturais para que o processo de aprendizagem e a transferência<br />
da mesma se realizem, para que aconteça a capacidade de raciocínio maior<br />
decorrente do domínio das letras ordenadas, para a leitura e domínio da mão, para<br />
a firmeza do traçado das letras no papel de forma legível, da escrita. Lembro a letra<br />
da canção de Dom e Ravel: “Você também é responsável”, “(...) Então me<br />
ensine a escrever, Eu tenho a minha mão domável; Eu sinto a sede do saber (...)”.<br />
Somem-se as idades, desconsiderem-se momentaneamente as fragilidades<br />
visíveis e embarque-se nesta viagem de tanto tempo passado, mas que, presente,<br />
nos traz e faz emocionados aprendizes da vida, que em qualquer idade, também<br />
na velhice, precisa ser considerada e bem vivida; nos mostra os reflexos da existência<br />
vivida. Quanta vida, morte, alegria, tristeza e coragem!