15.05.2013 Views

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Princípios para uma educação afro-brasileira 159<br />

As saudações (iba) são feitas aos orixás, aos ancestrais e aos anciãos. Os iba<br />

são feitos antes de iniciar qualquer ritual. A finalidade dos iba é a obtenção da<br />

proteção e auxílio, quando dirigidos aos orixás, e sinal de respeito, quando dirigidos<br />

aos mais velhos.<br />

A importância da oralidade nas culturas afro-brasileiras deve-se à sacralidade<br />

da palavra. A palavra humana, mesmo reduzida às suas funções informativa e expressiva,<br />

conserva o axé. Falar não é só comunicar, estabelecer uma relação, mas<br />

também suscitar e criar situações novas.<br />

Nas cerimônias de saída dos iniciados (yaô, para os nagôs, muzenza, para os<br />

bantos), durante as quais se ficou recluso durante alguns dias (varia entre 12, 14,<br />

17 e 21 dias), há um momento em que o orixá (nagô) ou o inquice (banto) grita<br />

o seu nome no terreiro. A dijina1 , nome religioso, dá identidade ao iniciado. No<br />

interior dessas comunidades de tradição afro-brasileira as pessoas se apresentam<br />

pela dijina.<br />

O conhecimento é adquirido ouvindo as parábolas, os mitos, as histórias<br />

contadas. E isto se faz sem a menor pressa, pois tanto a(o) abiã, pessoa que está<br />

começando a frequentar o candomblé, quanto a(o) yaô não têm a prática de se<br />

fazerem questionamentos.<br />

Os membros das comunidades afro-brasileiras acreditam que quem faz<br />

muitas perguntas não aprende. O aprendizado baseia-se na observação, sem que<br />

o iniciado faça questionamentos. Um dos mitos de Exu mostra essa lentidão para<br />

se adquirir o conhecimento:<br />

“Exu não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio, não tinha profissão,<br />

nem artes, nem missão. Exu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.<br />

Então um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá. Ia à casa de Oxalá todos os<br />

dias. Na casa de Oxalá, Exu se distraía, vendo o velho fabricando os seres<br />

humanos. Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá, mas ali ficavam<br />

pouco, quatro dias, oito dias, e nada aprendiam. Traziam oferendas, viam o<br />

velho orixá, apreciavam sua obra e partiam. Exu ficou na casa de Oxalá<br />

dezesseis anos. Exu prestava muita atenção na modelagem e aprendeu como<br />

Oxalá fabricava as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens, as<br />

mãos, os pés, a boca, os olhos, a vagina das mulheres. Durante dezesseis<br />

anos ali ficou ajudando o velho orixá. Exu não perguntava. Exu observava.<br />

Exu prestava atenção. Exu aprendeu tudo” (Prandi, 2001: 40).<br />

1. Dijina: termo de origem banto, mas utilizado também no candomblé yorubá.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!