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Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

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188 <strong>Culturas</strong> <strong>Contemporâneas</strong>, <strong>Imaginário</strong> e <strong>Educação</strong>: Reflexões e Relatos de Pesquisa<br />

Quando inquiridos a respeito das características de seus trabalhos, explicavam<br />

que o trabalho dos homens adultos consistia em vender objetos de cobre pelas<br />

ruas da cidade e o das mulheres era o de saírem para ler a sorte dos transeuntes.<br />

Quando falavam sobre as atividades que desenvolviam, o faziam com orgulho.<br />

Certa vez, quando chegava ao acampamento, pude presenciar a saída das ciganas,<br />

de seus maridos e filhos. Pelo que observei, deduzi que naquele dia provavelmente<br />

a característica do trabalho seria outra. Como possuíam carros (uns mais novos,<br />

outros já mais velhos), estavam saindo em grupos. As vestes que usavam para esse<br />

“trabalho” eram bem surradas e até mesmo sujas, dando-lhes uma aparência de<br />

indigência. Essa visão das ciganas era bem diferente de quando ficavam no acampamento,<br />

pois eram vaidosas, cheirosas, cheias de “balangandans”. Quanto às<br />

crianças, saiam quase seminuas. Cheguei a ver a nora de Senhor Thomaz tirando<br />

as roupas da criança de dois anos antes de saírem. Falando assim, pode-se pensar:<br />

“Coitadinhas destas crianças!” Porém, um observador mais atento poderia<br />

dizer que, se, por um lado, elas eram “utilizadas” pelos pais para ganharem o sustento<br />

do grupo, por outro, notei nessas mesmas crianças “coitadinhas” uma liberdade<br />

de ação que não encontrara em outras crianças, filhas da “prisão domiciliar”<br />

contemporânea.<br />

Nas brincadeiras, as crianças ciganas eram muito criativas e solidárias, tudo<br />

era de todos e qualquer objeto virava uma brincadeira, estimulando-lhes a fantasia.<br />

Na alimentação eram independentes, autossuficientes, e possuíam vontade<br />

própria. Até mesmo os pequeninos de dois e três anos serviam-se da comida de<br />

que tinham vontade e alimentavam-se sozinhos, ou a criança maior acabava dividindo<br />

com a menor o alimento que tinha no prato. As mães ciganas realmente<br />

eram privilegiadas, diria até mesmo que poupadas, pela maneira como concebiam<br />

a criança. Aparentemente a vinda de uma criança era sempre desejada, e a educação<br />

dada a ela era partilhada por todos. A impressão que tenho é a de que crianças,<br />

adultos e mais velhos ocupavam lugares definidos na organização do grupo e, por<br />

isto mesmo, dentro de suas diferenças, eram amplamente respeitados, porque significavam<br />

partes diferentes de uma mesma totalidade.<br />

Em outra visita por mim realizada, provavelmente a que mais me impressionou,<br />

perturbou, sensibilizou, lembro-me, ainda hoje, dos lamentos de Dona<br />

Zoraide, a esposa do Senhor Thomaz – aparentemente viviam um casamento<br />

monogâmico. Digo que fiquei sensibilizada porque pela primeira vez os vi morando<br />

fora de suas tendas. A polícia estivera no acampamento e exigira que suas<br />

tendas fossem desmontadas. A edícula, ainda em construção, já tinha as paredes<br />

levantadas e as lajes colocadas, porém sem a calefação necessária. Era ali que es-

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