15.05.2013 Views

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O desafio de juntar letras, rever e aprofundar conhecimentos... 207<br />

mudança de registro, dimensão e hemisfério”. As nuvens desenhadas por dona Zizi<br />

ao lado do quadro são os personagens que se movimentam conforme o sol e a lua<br />

desenhados e ditos como algo que roda , “(...) o sor que luméia o céu” , o que remete<br />

ao elemento cíclico/movimento, do teste.<br />

Clarear e iluminar parecem metáforas obsessivas no imaginário dessa idosa<br />

sujeito-autor do teste, o que remete à presença de um nó aglutinador de imagens<br />

heróicas. No desenho, o quadro está delimitado, separado, com o arco-íris separando<br />

a água da terra, do sol e da lua, que estão colocadas uma sobre a outra em<br />

ordem. A desestrutura aparece no desenho, mas no discurso apresenta-se diminuída<br />

ou diluída, deixando aparecer “nós” ora heróico, ora místico, o que remete à presença<br />

de um imaginário pseudodesestruturado, com tendência ao heróico impuro<br />

ou ao disseminatório diacrônico(?).<br />

Dona Duda, uma senhorinha simpática, aberta ao diálogo, conta com facilidade<br />

seus problemas passados, sem mágoa ou ressentimento. Conta que aos<br />

doze anos e seis meses de idade – sinal de que guardou o fato indelével na sua<br />

mente – foi estuprada por um garimpeiro, à beira de um riacho, quando levava<br />

à casa de um parente uma encomenda da mãe. Seu pai, que a maltratava<br />

muito, descobriu o malfeitor e fez o casamento deles. Teve nove filhos com o<br />

mesmo homem que a estuprou na infância. Aprendeu a amá-lo e cuidou dele<br />

até sua morte, há vinte anos.<br />

Dona Tetê, uma senhora viúva de 61 anos, semialfabetizada, entusiasmada<br />

e falante, faz teatro uma vez por semana. Tem quatro filhos e mora sozinha. Como<br />

diz: “Moro com Deus, meu anjo da guarda – uma cadelinha – e o riquinho/passarinho”.<br />

Ela frequenta o Centro há dois anos.<br />

Dona Zezé, alcunhada Dona Coragem, de 81 anos e analfabeta, intitulou<br />

sua história: “Meu passado, própria vida, história do meu lugar”. Ela conta:<br />

“Era uma vez uma menina que costumava ir a um açude cheio de peixes,<br />

onde os animais, gado e passarinhos iam beber água. Sua mãe sempre lhe<br />

recomendava para ter cuidado, pois uma cobra andava/aparecia por lá. Um<br />

dia a cobra cascavel, com maracá no rabo (monstro), apareceu para perturbar.<br />

O monstro queria pegar o homem (a menina), que ao vê-lo corre, para<br />

o ‘esconderiu’, para o mato, para se esconder do monstro; cai (queda) e pega<br />

um pau (espada) e mata a cobra. O monstro foi morto pelo homem (personagem).<br />

O peixe, assim, pode ser pescado. Ao lado do açude/rio, no fogo<br />

para espantar os bichos e guiar iluminar o caminho, o homem assa o peixe<br />

que, ‘se eu lá estivesse, ajudaria ele a comer’.”

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!