Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora
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44 <strong>Culturas</strong> <strong>Contemporâneas</strong>, <strong>Imaginário</strong> e <strong>Educação</strong>: Reflexões e Relatos de Pesquisa<br />
nome da eficiência e da produtividade, definem suas competências e hierarquizam<br />
o poder. Ao mesmo tempo, empobrecem, quando não desconhecem, a rica polifonia<br />
do social; as culturas grupais diferenciadas; as relações harmônicas e/ou<br />
conflituais, mas sempre educativas, que se estabelecem entre os componentes do<br />
grupo social-escolar; as trocas constantes, propiciadas por diferentes percepções<br />
de mundo, saberes apriorísticos que os alunos trazem de seu cotidiano, excelente<br />
matéria a ser trabalhada pelos professores, em contraste com conhecimentos decorrentes<br />
do desenvolvimento científico e cultural da humanidade etc., tudo isso<br />
resultando em um processo educativo, para além da função específica de transmitir<br />
conteúdos previamente selecionados.<br />
É do papel tradicional atribuído à escola e da proposta de outra concepção<br />
de educação escolar que trataremos a seguir. Nesse caso, valemo-nos do referencial<br />
teórico desenvolvido por José Carlos de Paula Carvalho (Antropologia das Organizações<br />
e da <strong>Educação</strong>) e de Edgar Morin (Antropologia da Complexidade).<br />
Para Paula Carvalho (1991: 82), em linhas gerais, as organizações sociais são<br />
necessariamente culturais, isto é, grupos reais e relacionais que vivenciam códigos<br />
e sistemas de ações, só podendo ser pensadas a partir do sistema simbólico que<br />
as informa. A esse sistema correspondem práticas sociais do grupo que, por serem<br />
simbólicas (ou seja, a cristalização em ação de um universo imaginário numa<br />
práxis, através de um sistema sociocultural e de suas instituições), são necessariamente<br />
organizacionais e educativas, na medida em que criam vínculos de solidariedade<br />
e de contato. Portanto, educação é entendida como prática simbólica basal<br />
que realiza a sutura entre as demais práticas.<br />
Para o autor (1988: 180), por meio do processo educacional, é possível liberar<br />
os indivíduos da lógica social de dominação, da hipocomplexidade e da repressão,<br />
em suma, do econômico-político e da entropização sócio-histórica, de<br />
modo a viabilizar a emergência do complexo, do multiforme, da polifonia – o lado<br />
instituinte do social, conforme M. Chauí (1980). Propõe, assim, uma concepção<br />
ampliada de educação, quer como o conjunto das práticas socioeducativas e dos<br />
fenômenos educacionais, quer por propiciar (e até estimular) novas formas de<br />
organizacionalidade que não somente as burocratizadas.<br />
De Edgar Morin, tomamos a noção de complexidade e de cultura. De acordo<br />
com o autor (1997), um conhecimento complexo enfrenta a incerteza, a inseparabilidade,<br />
as insuficiências da lógica dedutiva-identitária, os limites da indução<br />
e do princípio de identidade. Não há mais fundamento último ou único para o<br />
conhecimento, nem ordem soberana num universo onde caos, desordens e eventualidades<br />
obrigam a negociar com a incerteza. Não há conhecimento pertinente