Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora
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Cultura, escola e sociedade: a educação de grupos sociais 51<br />
só pode aparecer como o produto e o horizonte da experiência vivida individualmente”<br />
(Morin, 2001b: 492).<br />
Admitindo-se tais ideias, muda fundamentalmente a concepção de que a<br />
escola é eficiente enquanto agência de controle social e de divulgação do saber<br />
oficial, podendo ser repensado o seu papel. Para tanto, é necessário reelaborar o<br />
conceito de grupalidade e de cultura.<br />
Para Morin (1999), é na organização humana, ou antropossocial como<br />
quer o autor, que aparecem características desconhecidas em outras organizações,<br />
como a linguagem, a consciência, a cultura. O homem, ser complexo, não<br />
é somente biológico ou cultural, nem metade de cada um, mas totalmente biológico<br />
e totalmente metabiológico (cultural, espiritual, político), consistindo a<br />
complexidade em referir o conhecimento da natureza (bio, physis) às determinações<br />
antropossociais. Ou seja,<br />
“(...) um ser aberto para o mundo, um especialista da não-especialização,<br />
um aprendiz por curiosidade ativa, um lúdico explorador, um ser permanentemente<br />
incompleto e inacabado, portanto um ser do perigo, da álea, do<br />
risco, da desordem complexificante, ser ambíguo, ambivalente e crísico”<br />
(Gehlen & Lorenz, apud Paula Carvalho, 1988: 183).<br />
Trata-se, portanto, de um homem contraditorial, antinômico, a-lógico, que<br />
se caracteriza, segundo Marshal Sahlins (1979: 8), não pelo fato de viver num<br />
mundo material, que aliás compartilha com os demais organismos, mas por fazêlo<br />
de acordo com um esquema (entenda-se esquema simbólico) de significados<br />
criado por ele próprio, nunca o único possível.<br />
Além disso, os grupos sociais formam-se e se transformam na medida em que<br />
controlam e são controlados, ou seja, pela necessidade de organizar e adaptar sua<br />
vida cotidiana às injunções intra e extragrupos, para tanto desenvolvendo sistemas<br />
e práticas simbólicos, que agem como mediadores entre os membros do grupo, entre<br />
os grupos e entre esses e a sociedade, e que atribuem significado à sua existência.<br />
Nesse sentido é que, para Paula Carvalho (1990), as organizações sociais são<br />
necessariamente culturais e só podem ser pensadas a partir do sistema simbólico que<br />
as informa. Ou seja, é a dimensão simbólica que cimenta a socialidade dos grupos,<br />
entendida por Michel Maffesoli (1984) como a expressão cotidiana e tangível de uma<br />
solidariedade de base. Portanto, cada grupo social é simultaneamente diferente e<br />
semelhante, porque perpassam por dada sociedade valores, crenças, costumes comuns,<br />
continuamente reinterpretados tanto pelo grupo como por seus integrantes,<br />
cada qual individualmente.