Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora
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162 <strong>Culturas</strong> <strong>Contemporâneas</strong>, <strong>Imaginário</strong> e <strong>Educação</strong>: Reflexões e Relatos de Pesquisa<br />
era mais fácil manejar a pasta incandescente. Ogum então forjou uma faca e<br />
um facão. Satisfeito, Ogum passou a produzir toda espécie de objetos de<br />
ferro, assim como passou a ensinar seu manuseio. Veio fartura e abundância<br />
para todos. Dali em diante Ogum Alagbedé, o ferreiro, mudou. Muito prosperou<br />
e passou a ser saudado como aquele que transforma a Terra em Dinheiro”<br />
(ibidem: 95-96).<br />
Nas sociedades tradicionais africanas os búzios eram utilizados como dinheiro<br />
e são símbolos de prosperidade. Não é por nada que nas roupas dos orixás estão<br />
presentes os búzios.<br />
A prosperidade não é a mesma para todos, pois há influência do orixá de<br />
cabeça de cada indivíduo. E são os orixás os responsáveis pelo axé, que dará o poder<br />
de concretização de algo à pessoa. O axé, força manipulada pelos orixás, está presente<br />
nas fontes animal, vegetal e mineral, e é chamado de “sangue vermelho, preto<br />
e branco”.<br />
O axé vermelho (amarelo é variação de vermelho) pode ser animal, sendo<br />
encontrado no sangue (humano ou animal); vegetal, no azeite de dendê e no<br />
mel; e mineral, no cobre e bronze. O axé branco animal está presente no sêmen,<br />
na saliva, no hálito e no plasma; vegetal se encontra na seiva, no álcool e na manteiga<br />
vegetal; e mineral, nos sais, na prata e no chumbo. O axé preto (o azul e<br />
o verde são variações do preto) animal se encontra nas cinzas de animais; vegetal<br />
é encontrado no sumo escuro de vegetais; e mineral, no carvão e ferro (Santos,<br />
1986: 41-43).<br />
A pessoa, estando preenchida pelo axé, tem uma vida mais feliz e próspera.<br />
E, no cotidiano, as pessoas têm contato com esses elementos, seja em casa, no trabalho,<br />
no lazer. O sagrado permeia de tal maneira todos os setores da vida que se<br />
torna impossível realizar uma separação entre o sagrado e o secular, entre o espiritual<br />
e o material, nas atividades do cotidiano.<br />
A riqueza, a prosperidade, na visão afro, é possuir a felicidade, sendo esta<br />
compreendida como a posse do axé, e a infelicidade é estar privado dessa força.<br />
Toda doença, fracasso e adversidade são expressões da ausência de axé.<br />
Em toda natureza reside uma força vital. A pessoa vai adquirindo o conhecimento<br />
sobre isto no dia a dia. Esta aprendizagem no cotidiano acontece sem<br />
pressa, como diz Augras (1987: 53): “o saber ancestral deve ser aprendido aos<br />
poucos, devagar, não constitui simples aquisição de informações, mas é o modo<br />
de ser. A aprendizagem das regras caminha junto com o amadurecimento do<br />
adepto”.