15.05.2013 Views

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

244 <strong>Culturas</strong> <strong>Contemporâneas</strong>, <strong>Imaginário</strong> e <strong>Educação</strong>: Reflexões e Relatos de Pesquisa<br />

de palavras 10 . E um outro mais impossível: de sonhos. Não sei qual seria<br />

mais efêmero.<br />

No Rio de Janeiro existe o ‘Museu do <strong>Imaginário</strong>’, resultado de estudos<br />

iniciados há décadas pela psiquiatra Nise da Silveira, a partir de trabalhos<br />

realizados por ‘doentes mentais´. Não deixa de ser um museu de sonhos,<br />

manifesto em forma de artes plásticas, desenhos, pinturas. A doutora Nise é<br />

uma seguidora de Jung e trabalha de há muito com a simbologia das imagens<br />

pictóricas oriundas das ditas ‘mentes doentias’, e o resultado é fantástico,<br />

pois muitos quadros são verdadeiras obras de arte. Aliás, arte e loucura<br />

andam muito próximas e até existe no Instituto de Psicologia da Universidade<br />

de São Paulo cadeira com esse título: ‘Arte e Loucura’.<br />

Voltemos, então, às perguntas iniciais: ‘Quem nunca se traiu pelas palavras?<br />

Ou por um gesto?’.<br />

Tenho um museu de palavras e gestos. Quem não o tem?<br />

Quantas vezes fomos vítimas de uma traição por outros, através de falsas<br />

palavras ou gestos maliciosos que deram a entender a outras pessoas sobre<br />

fatos que, justamente, desejamos ocultar?<br />

Quem, na infância, não ouviu palavras que no mesmo instante estavam<br />

sendo desmentidas, discretamente, por um piscar de olhos da mãe para o<br />

pai, ou vice-versa? Depois, dormíamos, sonhávamos e, no dia seguinte, acordávamos<br />

e quem sabe até pensássemos que tudo não passara de um sonho.<br />

Especulemos, agora, nosso museu de gestos.<br />

Como seria? Deveria, sem dúvida, haver um critério para sua formação.<br />

Primeiro teríamos de selecionar as peças desse museu, enfim, que gestos<br />

selecionar... Depois procuraríamos saber a quantidade de gestos e, finalmente,<br />

onde guardar todos esses gestos.<br />

Privilegiaríamos os gestos simbólicos ou os diretos? Os gestos individuais ou<br />

coletivos?<br />

Poderiam conviver lado a lado o gesto sublime de Cláudia 11 amamentando a<br />

filha com o gesto duro de um pai repreendendo o filho, sem nem se comover<br />

com as lágrimas que escorrem por aqueles olhos?<br />

10. Importante lembrar que não faz muitos anos foi inaugurado em São Paulo, na Estação<br />

da Luz, o Museu da Língua Portuguesa, que, em sua essência, é um museu de palavras.<br />

Portanto, há quinze anos, quando escrevi essa crônica, sequer imaginava que algum dia<br />

existiria no Brasil um museu de palavras.<br />

11. Trata-se de uma jovem mãe de São José de Ribamar, MA, que ganhara a primeira filha,<br />

cujo gesto de amamentá-la em público, exibindo os seios, chamou-me a atenção pela sublimidade<br />

de tal expressão.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!