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Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

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160 <strong>Culturas</strong> <strong>Contemporâneas</strong>, <strong>Imaginário</strong> e <strong>Educação</strong>: Reflexões e Relatos de Pesquisa<br />

Um recurso estilístico utilizado pelos afro-brasileiros é a repetição de palavras<br />

ou de partes importantes da frase, para descrever uma situação ou para realçar<br />

o significado de um acontecimento. De forma semelhante são as repetições de<br />

cenas inteiras.<br />

“Se você pergunta a um alto sacerdote: ‘porque isso?’, ele vai te cantar uma<br />

cantiga ou vai te dizer um odu. Então a cantiga e odu são a resposta. Ele não<br />

dicotomiza; ele não esfacela o conhecimento. Para ele, o conhecimento é<br />

uma coisa holística. Ele vai te responder com uma parábola (...). Então,<br />

perguntei um dia: ‘Por favor, porque esse perfume?’ e a dagã da casa me<br />

respondeu: ‘Adá, ada, ada emoriô, dá dálo que modá’ [cantando]” (Silva,<br />

2002: 45).<br />

Observamos também que o africano possui uma memória extraordinária,<br />

podendo guardar de cor trechos enormes e reproduzi-los mais tarde, sem preocupações<br />

com reelaborações constantes. A existência de narradores e cantores que propagam<br />

as tradições de forma oral é presente no interior das casas de tradição afro.<br />

Os oráculos de Ifá, guardados pelos babalawo, sacerdotes especialistas no jogo<br />

divinatório, são proferidos oralmente. Muita coisa se aprende de cor. Os mitos,<br />

os cânticos, as orações foram transmitidos oralmente, de lugar para lugar, de terreiro<br />

para terreiro, de geração para geração, sendo possível explicar todas as espécies<br />

de variantes das narrativas.<br />

O babalawo, guardião dos versos sagrados de Ifá, possui a habilidade para<br />

o jogo divinatório. A divinação não se trata de um modo teórico de resolver os<br />

problemas da vida e do mundo, mas de achar soluções de ordem prática, a partir<br />

de exigências concretas, colocadas diante do orixá. E um dos mitos nos diz que:<br />

“Na criação do mundo, o rei do universo decidiu criar Ifá. Assim, nasceu<br />

um menino que foi chamado Aiedegum. Aiedegum nasceu do feiticeiro Meto-<br />

Lonfim e de Adje, sua primeira mulher. Aiedegum, quando criança, não<br />

falava sequer uma palavra. Já era adolescente quando o pai bateu nele com<br />

um bastão. O menino, para surpresa geral, disse: ‘Gbê-medji’, palavra que<br />

ninguém compreendia. Dias depois, quando apanhou de novo, o menino<br />

mudo disse: ‘Ieku-meji’. E assim, em diversas ocasiões, foram se completando<br />

dezesseis palavras ditas por Aiedegum. Então, ele disse: ‘Pai, se eu apanhar<br />

mais, posso dizer muito mais que uma palavra’. O pai bateu mais no<br />

menino. E Aidegum disse: ‘Vou morrer, mas quero legar-lhe uma herança<br />

magnífica, que há de servir à humanidade para sempre’. Ele explicou que os<br />

dezesseis nomes eram nomes de seus futuros filhos. Que cada filho seu tinha

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