15.05.2013 Views

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Conhecer é descolar rótulos 67<br />

e vestibulares. Saber lidar com os rótulos que o coletivo nos atribui certamente é<br />

um aprendizado de grande valor que cabe à escola transmitir, mesmo porque eles<br />

continuarão a aparecer pela vida afora, nos diversos contextos institucionais em<br />

que ainda haveremos de nos inserir. A vida escolar é, tão somente, um ensaio, por<br />

vezes bem realista, por vezes bastante fantasioso, do que virá depois. E esta é, a<br />

meu ver, uma das funções sociais e culturais mais relevantes da escola, enquanto<br />

organização social e comunidade de seres humanos.<br />

A competência para lidar com os rótulos e com outros inúmeros revezes inevitáveis<br />

que a vida nos reserva, implica aquisição de autoconhecimento e, destarte,<br />

aptidão para entrar em contato com nossas emoções, expressá-las criativamente e<br />

elaborar respostas ao mundo que, como alteridade, sempre haverá de nos provocar<br />

e confrontar. Quando somos imaturos, são os adultos que nos devem servir<br />

como tutores nesses processos. Teoricamente são os adultos aqueles que se autoconhecem<br />

a ponto de serem capazes de elaborar respostas ao mundo, agindo, portanto,<br />

como os professores de Daniel Pennac que lhe asseguraram que sua lerdeza<br />

poderia ser superada, confiaram nele e o ajudaram a fazer a passagem.<br />

Na busca por formar esses tão necessários tutores de resiliência4 , a escola, que<br />

experimenta a emoção como um fator de atraso indesejável nas programações e<br />

agendas, de desvio da produtividade e do bom desempenho, precisa rever urgentemente<br />

suas posições. Cultivar as emoções e a imaginação, na escola e na família,<br />

no interior dessas culturas de formação e iniciação, seria um imenso passo no sentido<br />

de desmobilizar o poder dos rótulos (e muitos outros poderes sombrios), com<br />

o fito de criar oportunidades menos previsíveis, porém muito valiosas, de educar a<br />

todos os membros da comunidade, sempre que novos rótulos (e outras Medusas)<br />

aparecerem. Numa escola que valoriza e estimula a cooperação e a tolerância à diferença<br />

com a mesma dedicação com que investe na formação do espírito crítico<br />

e na acuidade do raciocínio, os rótulos certamente emergirão, contudo dificilmente<br />

terão tanto poder para petrificar.<br />

Espera-se assim que, como adultos alçados à condição de guias (e não apenas<br />

de eficientes transmissores de conteúdos), os professores estejam mais conscientes<br />

para os gatilhos que, dentro e fora, ativam esse mecanismo defensivo que<br />

tanto empobrece as relações no interior das instituições em geral. E possam ajudar<br />

seus alunos a fazê-lo, desde que também estejam dispostos a considerar honesta<br />

e criativamente essa experiência como uma oportunidade pedagógica, sempre<br />

4. “Eles (os professores) tornam-se tutores de resiliência para uma criança ferida quando criam um<br />

acontecimento significativo que assume um valor de referência” (Cirulnik, 2005: 68).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!