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Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

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6 <strong>Culturas</strong> <strong>Contemporâneas</strong>, <strong>Imaginário</strong> e <strong>Educação</strong>: Reflexões e Relatos de Pesquisa<br />

“Quincas Borba vai atrás dele pelo jardim fora, contorna a casa, ora andando,<br />

ora aos saltos. Saboreia a liberdade, mas não perde o amo de vista... Aqui fareja, ali<br />

pára a coçar uma orelha, acolá cata uma pulga na barriga, mas de um salto galga o<br />

espaço e o tempo perdido, e cose-se outra vez com os calcanhares do senhor. (...) Quando<br />

Rubião estaca, ele olha para cima, à espera; naturalmente, cuida dele; é algum projeto,<br />

saírem juntos, ou cousa assim agradável. Não lhe lembra nunca a possibilidade de<br />

um pontapé ou de um tabefe. Tem o sentimento da confiança, e muito curta a memória<br />

das pancadas. Ao contrário, os afagos ficam-lhe impressos e fixos, por mais distraídos<br />

que sejam. Gosta de ser amado. Contenta-se de crer que o é.”<br />

“A vida ali não é completamente boa nem completamente má. (...). Rubião passa<br />

muitas horas fora de casa, mas não o trata mal, e consente que vá acima, que assista<br />

ao almoço e ao jantar, que o acompanhe à sala ou ao gabinete. Brinca às vezes com<br />

ele; fá-lo pular. Se chegam visitas de alguma cerimônia, manda-o levar para dentro<br />

ou para baixo e, resistindo ele sempre, o espanhol toma-o a princípio com muita delicadeza,<br />

mas vinga-se daí a pouco, arrastando-o por uma orelha ou por uma perna,<br />

atira-o ao longe, e fecha-lhe todas as comunicações com a casa:<br />

– Perro del infierno!”<br />

“Machucado, separado do amigo, Quincas Borba vai então deitar-se a um canto<br />

e fica ali muito tempo, calado; agita-se um pouco, até que acha posição definitiva,<br />

e cerra os olhos. Não dorme, recolhe as idéias, combina, relembra; a figura vaga do<br />

finado amigo passa-lhe acaso ao longe, muito ao longe, aos pedaços, depois mistura-se<br />

à do amigo atual, e permanecem ambas uma só pessoa; depois outras<br />

idéias.”(gs.ms) (Gente! Olhaí a ausência de passado!) “a figura vaga do finado amigo<br />

passa-lhe acaso ao longe, muito ao longe, aos pedaços, depois mistura-se à do amigo<br />

atual e permancem uma só pessoa”!!<br />

Gente!! o amigo morto, antigo dono, que fora a paixão de sua vida e que o<br />

amara e acarinhara lealmente – e até garantira que, depois de sua morte, seu cão<br />

tivesse um dono que cuidasse dele... (e para garanti-lo, deixara bens a esse novo-donofuturo,<br />

inclusive a casa em que morava e onde o novo dono morará depois, com o cão<br />

herdado), esse antigo e amigo dono confundido e misturado com o novo que o<br />

escorraça e lhe bate (os célebres tabefes que ele tanto temia!), nada tinham a ver um<br />

com o outro na vida que lhe proporcionavam e na atenção que lhe dispensavam... Esses<br />

dois donos confundidos num só! E ele sentia falta, sim, do Quincas Borba seu antigo<br />

dono de quem herdara o nome... Mas os dois donos se confundem num presente...<br />

Não há passado. É tudo presente. (E Machado é um gênio!...)

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