Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora
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184 <strong>Culturas</strong> <strong>Contemporâneas</strong>, <strong>Imaginário</strong> e <strong>Educação</strong>: Reflexões e Relatos de Pesquisa<br />
De parte da direção e de alguns professores, o fato de anunciar meu interesse<br />
em conhecer os modos de pensar, sentir e agir dos “ciganinhos” trazia-lhes alívio,<br />
na medida em que, apesar dos esforços empreendidos com a finalidade de promovêlos<br />
ao final do ano letivo, a maioria daqueles adolescentes abandonava os estudos em<br />
meio ou assim que concluía a quinta série. A direção, oficiosamente, autorizava os<br />
professores a passarem tarefas aos garotos para que fossem realizadas durante a parte<br />
do ano em que viajavam com a tribo, não lhes atribuindo, inclusive, faltas no<br />
período de ausência, porque entendiam ser esta a melhor forma de evitar que reprovassem<br />
ou evadissem do círculo escolar. Para aqueles educadores, a pesquisa que<br />
me propus a realizar permitiria a compreensão do fenômeno da evasão escolar especificamente<br />
vivenciado pelos adolescentes ciganos.<br />
Ao iniciar os primeiros contatos com aqueles meninos e meninas, soube que<br />
várias eram as notícias circulantes na mídia local evidenciando a permanência da tribo<br />
cigana na cidade, bem como o sentimento de repúdio originado a partir de protestos<br />
de descontentamento demonstrados pela comunidade e autoridades locais. Assim,<br />
passo a descrever, sem pressa, o cotidiano e os achados socioantropológicos que fui<br />
identificando ao longo do tempo em que estive próxima daquela tribo cigana, a partir<br />
do reconhecimento à cultura2 que os religava enquanto pessoas tão especiais.<br />
Um Momento de Atenção ao Dizível<br />
Ancorada no que Pierre Erny (1982) conceitua como pesquisa etnográfica<br />
e etnológica 3 , alcei voos ao desconhecido.<br />
2. A cultura de um grupo constitui-se a partir das histórias, formações e ideais, que são vividos de<br />
forma particularmente diversa e complementar, enquanto fenômeno, ou ação, ambos decorrentes<br />
dessa relação mais ampla estabelecida, porque se integram e são incorporados através dos aspectos<br />
intelectuais, reativos e afetivos do seu grupo de pertença (Coelho, 1997: 194-195).<br />
3. Para Pirre Erny (1982: 123) “(...) a prática ‘de campo’, isto é, a observação direta, a entrevista<br />
sob suas diferentes formas, a pesquisa, a coleta de documentos, de informações de primeira mão,<br />
de objetos, de gravações sonoras, de fotografias ou filmes... se prolonga em tarefas de organização,<br />
de classificação, de descrição, de exposição e de primeira elaboração dos dados... é o domínio<br />
próprio da etnografia”. Complementar à etapa de realização da pesquisa etnográfica, “(...) a<br />
etnologia representa a síntese e a abstração. Partindo de dados fornecidos pela etnografia, ela recompõe<br />
em um todo sistemático, e segundo uma lógica de exposição consentânea com o modo<br />
de abordagem escolhido pelo pesquisador, as informações de que se dispõe sobre a etnia determinada,<br />
sobre um grupo de etnias vizinhas ou aparentadas, sobre a história de uma população,<br />
sobre um certo tipo de homens, sobre uma área cultural, sobre um aspecto limitado de uma cultura:<br />
uma instituição, um costume, uma técnica, uma crença, um objeto, um produto, etc.”.