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Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora

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Os moradores de rua como construtores... 221<br />

ção e de troca de experiências. Sob a égide da proteção, o homem construiu e representou<br />

seus símbolos culturais e compreendeu o significado de fora, como local<br />

de perigo e ameaças, e de dentro, como aconchego e proteção. Essa percepção<br />

colocou o homem em contato consigo mesmo e com seus semelhantes e permitiu<br />

o nascimento da cultura. No primeiro momento do nomadismo, o sentido de<br />

refúgio pode ter sido encontrado no próprio grupo, numa busca de proteção e<br />

sobrevivência. O grupo se reunia para a caça, para a luta e para se resguardar do<br />

escuro profundo e ameaçador da noite.<br />

O convívio social permitiu as trocas de experiências, criando cultura e dividindo<br />

as tarefas; o grupo se organizou e o refúgio adquiriu a forma arquetípica<br />

circular. Do círculo ao redor do fogo às formas espaciais dos aglomerados humanos,<br />

a representação da proteção uterina, inconscientemente, surgiu. Porém,<br />

no processo de humanização, o excesso de especializações dividiu o fenômeno<br />

sociocultural e a formação do indivíduo em “fatias” (histórica, psicológica, demográfica,<br />

sociológica, etc.), o que privilegiou a dimensão patente das organizações<br />

sociais em detrimento do imaginário – que passou a ser considerado como “a louca<br />

da casa” –, e permitiu a Levi-Strauss dizer que “um especialista é um homem que<br />

sabe cada vez mais sobre cada vez menos coisas, tanto e tão bem que, no limite,<br />

saberia tudo sobre nada” (apud Morin, 1998: 55).<br />

Seguindo as propostas de E. Morin e de G. Durand, o que se pretende com<br />

este trabalho é conhecer a força da dimensão latente numa organização patente;<br />

isto é, a interferência do instituinte – enquanto ruído – na ordem do instituído,<br />

numa organização sociocultural do espaço urbano que migra das “franjas”<br />

para o “núcleo duro” da cultura do grupo (tanto do grupo patente quanto do grupo<br />

latente, os moradores de rua, se for possível essa distinção, enquanto aspecto<br />

didático, apenas).<br />

Se a fragmentação e a especialização trouxeram uma visão reducionista do<br />

fenômeno, o que se pretende é, por meio de uma mudança paradigmática, no<br />

esteio de E. Morin e G. Durand, compreender a complexidade – que agrega tanto<br />

o polo das especializações quanto o polo das generalidades – na formação do<br />

homem que não é totalmente biológico nem totalmente cultural, mas que, no entanto,<br />

o que há de mais biológico na sua formação é o que mais se impregna de<br />

cultura, permitindo que biológico e cultural se unam através das normas, proibições,<br />

valores, símbolos, mitos, ritos, etc., possibilitando compreender que:<br />

“o conceito de homem tem dupla entrada: uma entrada biofísica, uma entrada<br />

psicossociocultural; duas entradas que remetem uma à outra.<br />

À maneira de um ponto de holograma, trazemos, no âmago de nossa singu-

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