Culturas Contemporâneas, Imaginário e Educação ... - Rima Editora
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O desafio de juntar letras, rever e aprofundar conhecimentos... 203<br />
Como? Perguntei eu: há quantos anos vocês estão vivendo neste mundo?<br />
Como não sabem nada? Vocês têm a sabedoria da idade, e eu posso aprender<br />
com vocês! Começo então a conversar, a exercer (....), o inaudível, a vislumbrar<br />
o invisível e a tocar o intangível, a procurar entender o ininteligível, e deleitome<br />
e assombro-me calada com as belas, felizes ou escabrosas histórias criadas,<br />
vividas e relatadas e as associações/simbolizações efetuadas pelos idosos com os<br />
elementos do Arquétipo Teste de Nove Elementos – o AT-9, teste criado por Yves<br />
Durand –, nos seus desenhos/dramatizações pictóricas, ditos, de início, impossíveis<br />
de serem feitos e até mesmo de interpretá-los, como coloca Yves Durand<br />
na sua obra (1988: 139).<br />
O “discurso” yvesdurandiano, exigido na segunda parte do teste AT-9, começa<br />
a se processar pelos sujeitos-autores: idosos alfabetizandos, sujeitos de uma<br />
instrução dita “tardia” por Both (2001), mas que sempre será oportuna e em tempo<br />
hábil, mesmo que na prorrogação da partida do jogo da vida. A riqueza das<br />
vidas vividas – bem ou mal vividas, mas existências com mais de sessenta anos,<br />
até mais que oitenta –, se descortina na minha presença e aguça a minha, sempre<br />
alerta e disposta, imaginação – no que preciso cuidado para não colocar excessos<br />
nas análises, pois que a imaginação se ascende ao ouvi-los cheios de saudades e<br />
até de horrores do seu passado. Belezas e felicidades também passam como em um<br />
filme cor-de-rosa desbotado pelo tempo, mas retocado, recuperado pela emoção<br />
de reviver os fatos, revisitar/reabitar lugares, sentir odores e aromas, que revivem<br />
situações na memória, memória que afeta o imaginário dos alunos idosos, imaginário<br />
repartido comigo. Um privilégio!<br />
Estavam em classe treze alunos idosos na faixa de 60 a mais de 80 anos, mas<br />
um negou-se a participar alegando: “não quero esquentar a cabeça”. Os demais,<br />
doze, todos desenharam e contaram a história – pois, na condição de alfabetizandos,<br />
não puderam escrever a história, motivo pelo qual tive de escutá-los um<br />
por um, e por vezes todos juntos ansiosamente a contar a história imaginada, nem<br />
sempre imaginada, mas acontecida no passado e agora rememorada no presente,<br />
com saudades, alegria e mesmo com certa tristeza contida. Ao trazer a realidade<br />
acontecida no passado para o presente, essa história se atualiza e sofre a influência<br />
do desejo do que gostariam que tivesse acontecido, assim se apresentando com<br />
uma dose de imaginação e de retoques oportunos. Como crianças queriam ser<br />
atendidas, por mim, em primeiro lugar; queriam saber a nota que eu daria pelo<br />
desenho. Detiveram-se no desenho de cada elemento do teste, pois parece que não<br />
atinaram que se tratava de uma dramatização com um relato escrito ou falado.