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Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

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I <strong>Seminário</strong> <strong>Violar</strong> – Problematizando as Juventu<strong>de</strong>s na Contemporaneida<strong>de</strong> –<br />

11 a 13 <strong>de</strong> Agosto 2010<br />

morosida<strong>de</strong> no período da colheita acarretava um risco <strong>de</strong> prejuízo ao empreendimento, levando os<br />

proprietários a questionar a gerência da unida<strong>de</strong> produtiva, responsabilizando-a pelo prejuízo e, assim,<br />

ameaçar a ocupação do posto por um feitor cruel ou mal visto pelos escravos. Se esta tática <strong>de</strong> negociação <strong>de</strong><br />

condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho não servisse para amenizar o rigor gerencial ou os maus tratos cometidos<br />

pelo feitor, os escravos recorreriam ao crime <strong>de</strong> sangue. O assassinato do feitor forçava a alocação <strong>de</strong> outro<br />

funcionário neste posto, estando este sobreavisado das conseqüências possíveis resultantes da inflexibilida<strong>de</strong><br />

na mediação dos conflitos, o que caracteriza uma apropriação invertida da prática do castigo exemplar na<br />

implementação da disciplina do trabalho. Formas <strong>de</strong> dominação violenta são respondidas por formas também<br />

violentas <strong>de</strong> resistência. O extermínio do senhor, por sua vez, envolvia riscos maiores levando a um<br />

imperativo <strong>de</strong> fuga e resultando em uma vida na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. (MACHADO, 1987)<br />

Na cida<strong>de</strong>, os escravos <strong>de</strong> ganho circulavam com <strong>de</strong>senvoltura, estabeleciam laços <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong><br />

com livres, libertos e outros escravos, <strong>de</strong>senvolviam re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte mútuo, dispunham <strong>de</strong> locais <strong>de</strong> reunião<br />

e também <strong>de</strong> maior acesso à informação circulante, agremiavam-se para o lazer e para as manifestações<br />

culturais. Muitos faziam papel <strong>de</strong> mediadores entre o mundo do cativeiro e o submundo criminal urbano:<br />

levavam recados, vendiam produtos roubados, envolviam-se em ―batuques‖, ―capoeiras‖ e outros transtornos<br />

à or<strong>de</strong>m social. Antes da chegada da família real, o Rio <strong>de</strong> Janeiro já se configurava como uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

serviços e os pobres livres, os libertos e os escravos <strong>de</strong> ganho compunham o grosso da população ―<strong>de</strong> cor‖<br />

que habitava a cida<strong>de</strong> e tinham um importante papel no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas formas culturais e políticas.<br />

―Ao longo do século XIX, pelo menos nas cida<strong>de</strong>s, a suspeição é mais generalizada: era toda uma massa <strong>de</strong><br />

indivíduos que era suspeita todo o tempo. Enquanto suspeição generalizada e contínua, tornava-se o próprio<br />

núcleo da estratégia geral <strong>de</strong> controle social‖ (LARA, 1988, p.293)<br />

Uma característica da socieda<strong>de</strong> colonial, e posteriormente também da socieda<strong>de</strong> imperial, era o<br />

exercício da violência social <strong>de</strong> modo particular. Milícias <strong>de</strong> guardas noturnos patrulhavam o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

em fins do XIX e início do XX. A segurança <strong>de</strong> Estado também era vista como matéria particular haja vista<br />

que a Guarda Nacional, formada por proprietários <strong>de</strong> terra e não por militares, era a linha <strong>de</strong> frente do<br />

Império contra invasões castelhanas, movimentos separatistas ou revoltas populares. A República positivista<br />

investiu em direção a uma maior participação do Estado no controle e exercício da violência, mas até o fim<br />

da República Velha a violência relacionada ao controle social foi majoritariamente exercida pela iniciativa<br />

privada. Aos jagunços do ―Coroné‖ somam-se nesse sentido, além das já citadas milícias da guarda noturna,<br />

as maltas <strong>de</strong> capoeira.<br />

A palavra malta significa um grupo <strong>de</strong> pessoas ligadas por laços <strong>de</strong> conhecimento e algum nível<br />

<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e ação conjunta. É usada ainda hoje em Angola e em Portugal no mesmo sentido que na<br />

cida<strong>de</strong> do Rio atribui-se a ―galera‖ ou ―bon<strong>de</strong>‖. As maltas <strong>de</strong> capoeira no Rio <strong>de</strong> Janeiro do século XIX se<br />

dividiam em duas facções predominantes: os Nagoas e os Guaiamuns. Além <strong>de</strong> estarem envolvidos em<br />

constantes ―<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns‖, esses grupos serviam a políticos como cabos eleitorais, seguranças <strong>de</strong> comícios e<br />

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