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Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

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I <strong>Seminário</strong> <strong>Violar</strong> – Problematizando as Juventu<strong>de</strong>s na Contemporaneida<strong>de</strong> –<br />

11 a 13 <strong>de</strong> Agosto 2010<br />

Assistência Social (SAS) e da Fundação Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Econômica (FIPE) em 2003, foi o<br />

número <strong>de</strong> usuários <strong>de</strong> albergue. Portanto, há uma correspondência recíproca entre o crescimento da<br />

população <strong>de</strong> rua e o aumento do número <strong>de</strong>ste instrumento no Brasil.<br />

A existência e o aumento da população <strong>de</strong> rua têm sido associados a circunstâncias macroeconômicas,<br />

assim como a organização política e social do país. Mudanças no processo produtivo e na dinâmica <strong>de</strong><br />

acumulação capitalista, que levaram à diminuição dos postos <strong>de</strong> trabalho, sem expectativas <strong>de</strong><br />

reinserção ocupacional, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final do século XX, imprimiram o que Robert Castel (1991) discute<br />

como uma ―nova questão social‖, que se configura a partir da crise do assalariamento. Esta impõe<br />

uma instabilida<strong>de</strong> dos vínculos sociais dado que encontrávamos na esfera do trabalho a unida<strong>de</strong><br />

principal <strong>de</strong> integração social e cidadania.<br />

O esquema analítico <strong>de</strong> Castel inclui outro eixo importante <strong>de</strong> inserção social, o mundo das relações<br />

sociofamiliares, que também sofre abalos com a precarização das relações <strong>de</strong> trabalho. Segundo o<br />

autor a <strong>de</strong>svinculação na dimensão sociofamiliar é uma ruptura em relação às re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> integração<br />

primárias. Esta ruptura se dá quando o conjunto <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> que envolvem o indivíduo<br />

em sua inscrição familiar encontra dificulda<strong>de</strong>s em reproduzir sua existência e assegurar sua proteção.<br />

A nova questão social <strong>de</strong>finida por Castel leva a um processo <strong>de</strong> fragilização e ruptura dos vínculos<br />

sociais, primordialmente com o mundo do trabalho, e a constituição <strong>de</strong> uma condição <strong>de</strong> exclusão.<br />

Esse processo encontra seu fim quando a precarieda<strong>de</strong> econômica torna-se privação e a fragilida<strong>de</strong><br />

relacional, isolamento.<br />

De forma esquemática po<strong>de</strong>mos dizer que no eixo econômico passa-se do emprego estável e regular<br />

para modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho precário até atingir a situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego, e no eixo da sociofamiliar<br />

a trajetória <strong>de</strong>senrola-se da plena inserção na sociabilida<strong>de</strong> primária (família, vizinhança e<br />

comunida<strong>de</strong>), marcada por solidas re<strong>de</strong>s sociais, ao retraimento das relações familiares e pessoais,<br />

<strong>de</strong>finido pelas fragilizações das relações.<br />

È possível especificar quatro zonas: <strong>de</strong> integração, caracterizada por garantias <strong>de</strong> um trabalho<br />

permanente e por relações sociais sólidas; <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, que conjuga precarieda<strong>de</strong> no trabalho e<br />

fragilização da sociabilida<strong>de</strong> primária; <strong>de</strong> assistência, que revela um quadro no qual várias formas <strong>de</strong><br />

subsídio público se tornaram imprescindíveis e, por fim, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfiliação, que significa não só<br />

<strong>de</strong>semprego, mas também perda das raízes da integração social, baseada no cotidiano do trabalho, do<br />

bairro e da vida em família. "Atualmente a zona <strong>de</strong> integração se fratura, a zona <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong><br />

está em expansão e alimenta continuamente a zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>safiliação‖ (CASTEL, 1991).<br />

O autor realiza a sua análise a partir da realida<strong>de</strong> francesa, na qual existe um contexto no qual há<br />

retração do Estado que havia assumido funções <strong>de</strong> suporte material e simbólico que substituíam a<br />

unida<strong>de</strong> familiar e social próxima. Escorel (1999) <strong>de</strong>staca que no caso da socieda<strong>de</strong> brasileira o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico aprofundou as vulnerabilida<strong>de</strong>s associadas à pobreza, mantendo-se a<br />

unida<strong>de</strong> familiar como suporte das relações sociais, que nunca chegou a ser substituído por ações<br />

públicas. Apesar <strong>de</strong>ssa diferença fundamental em relação a realida<strong>de</strong> francesa, encontramos no Brasil<br />

movimentos similares, como a fragilização da estrutura familiar mo<strong>de</strong>rna, com diminuição das re<strong>de</strong>s<br />

familiares e empobrecimento <strong>de</strong> seus suportes relacionais, além da precarização da inserção no esfera<br />

do trabalho e diminuição das ativida<strong>de</strong>s públicas.<br />

Encontramos em Serge Paugam (2003) a análise dos significados <strong>de</strong>ssas rupturas sociais no plano<br />

individual, sob a forma <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificação que é apresentado pelo autor como dividido<br />

em fases <strong>de</strong> acordo com as transformações no mundo do trabalho e das relações sociais primárias.<br />

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