14.06.2013 Views

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

I <strong>Seminário</strong> <strong>Violar</strong> – Problematizando as Juventu<strong>de</strong>s na Contemporaneida<strong>de</strong> –<br />

11 a 13 <strong>de</strong> Agosto 2010<br />

Observa-se nesta música a justaposição <strong>de</strong> religiosida<strong>de</strong> e criminalida<strong>de</strong>. A exclusão social<br />

aparece como motivação para o comportamento criminal i<strong>de</strong>ológico e não ocasional. O crime não é uma<br />

infração pontual, é uma concepção <strong>de</strong> vida, uma constante e a religiosida<strong>de</strong> figura como elemento<br />

legitimador do discurso, uma vez que seus signos normalmente vistos como positivos são associados a<br />

elementos da criminalida<strong>de</strong> comumente vistos como negativos e que, neste rap, simbolizam a idéia <strong>de</strong> um<br />

combate à hipocrisia que não reconhece que ―Muitos metem a mão‖ 447 porque ―eles não dão alternativa‖.<br />

Nessa lógica, a atitu<strong>de</strong> violenta <strong>de</strong> ―um guerreiro na fúria do conflito‖ não é contraditória com ―a virtu<strong>de</strong> do<br />

bom samaritano‖ como em outra música <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> sucesso, do mesmo autor. Nela a voz que prega a fé em<br />

Deus e a união das favelas é a mesma que pe<strong>de</strong> Paz, Justiça e Liberda<strong>de</strong>, o lema do Comando Vermelho.<br />

Rasteiro<br />

Criado no Turano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequeno / Sofri e senti o gosto amargo do veneno /<br />

Mas se o barato é louco e o processo é lento / Fé em Deus é o proce<strong>de</strong>r / O<br />

certo, o fundamento / Aqui não tem artista / Pop star é o caralho / Sou mais<br />

um favelado louco revolucionário / De rolé nas vielas, humil<strong>de</strong> sem mancada<br />

/ Represento o Turano / sou eu, Menor do Chapa / Já é bem cedin‘ / Tá na<br />

laje o neguin‘ / Marcando ativida<strong>de</strong> / Torrando um do boldin‘ / Os fogos na<br />

mão / Na cintura uma pistola / O crime é sua vida, sua família, sua escola /<br />

Também tem muita gente que <strong>de</strong>sce p‘a trabalhar / A criançada, o futuro,<br />

tem que estudar / Até parece, meu mano, não tá nada perdido / Se nasceu<br />

favelado, tu já é perseguido / E se falar <strong>de</strong> nós, tu não sabe o que diz / Tu<br />

não conhece a verda<strong>de</strong>, nem nossa raiz / Favela tem história / Favela tem<br />

cultura / Favelado quer respeito, emprego e fartura / Meu papo é reto / Não é<br />

<strong>de</strong> mancada / Já vi muito sangue escorrer pela escada / Sangue <strong>de</strong> favelado<br />

que foi <strong>de</strong>rramado / O sistema está vencendo / Meu povo é dizimado /<br />

Não perco a fé nem <strong>de</strong>pois da tragédia / Não vou me sentir como um<br />

covar<strong>de</strong>, um comédia / Se Deus é por nós, quem será contra nós? / Jesus é<br />

a salvação / O rap é a voz / A união das favelas pra nós é o que resta /<br />

Paz, Justiça e Liberda<strong>de</strong> / Meu povo se manifesta / pelo Hip Hop / Som <strong>de</strong><br />

vagabundo / Neguin‘ é nós / Até o fim „tamo junto / Vencer, viver<br />

honestamente é um sonho / Não sou dono do mundo, mas sou filho do<br />

dono / Como dizia o homem <strong>de</strong> Belém: / Amém! Faça o bem, não<br />

importa a quem / Se o céu tá Azul / O sol tá brilhando / O Turano tá em paz<br />

/ As crianças estão brincando.<br />

Por isso eu tô <strong>de</strong> pé / remando contra a maré / Deus é nosso guia / A<br />

caminhada é <strong>de</strong> fé / Amor, carinho pras crianças também quero / Sempre<br />

auto-estima e olhar sincero / A luta é cansativa em busca do sucesso /<br />

Favelado também quer or<strong>de</strong>m e progresso / Não fico parado / Não me sinto<br />

oprimido / Sou mais um guerreiro na fúria do conflito / Meu estilo é<br />

favela on<strong>de</strong> vem me discrimina / Quem traz o fuzil, o álcool e a cocaína? /<br />

447<br />

―Meter a mão‖ neste contexto significa ―pegar em armas‖ (se engajar em ativida<strong>de</strong> armada), termo usado em<br />

contraposição a ―meter o pé‖, isto é, fugir. Como em: ―guerra <strong>de</strong> quadrilha / vou dizer como é que é / tem muitos<br />

que metem a mão / tem outros que metem o pé.‖<br />

996

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!