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Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

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I <strong>Seminário</strong> <strong>Violar</strong> – Problematizando as Juventu<strong>de</strong>s na Contemporaneida<strong>de</strong> –<br />

11 a 13 <strong>de</strong> Agosto 2010<br />

Dentro do ambiente institucional ocorre o encontro entre esses dois discursos que estão inseridos em<br />

duas éticas que, por sua vez, colocam-se em oposição uma à outra. No entanto, não é somente no<br />

contexto institucional que tais discursos se revelam em oposição. Enten<strong>de</strong>mos que as relações<br />

institucionais reproduzem, <strong>de</strong> forma especular, as relações sociais. O encontro com o outro e o<br />

consequente acontecimento <strong>de</strong>salojador referido por Figueiredo (1996) é, portanto, reflexo das<br />

relações sociais vividas fora do ambiente institucional.<br />

Ao afirmarmos que os discursos institucionais são reflexos das relações sociais, é importante salientar<br />

que tais discursos guardam suas diferenças. Os discursos sociais não são simplesmente reproduzidos<br />

da maneira que se apresentam socialmente no interior institucional. Enten<strong>de</strong>mos que todo discurso<br />

guarda consigo um conflito. O conflito, por sua vez, mostra-se <strong>de</strong> maneira incisiva quando as normas e<br />

a missão institucionais contradizem o discurso. Adjetivos como bandido e ladrão são exemplos <strong>de</strong>sse<br />

conflito, já que a instituição <strong>de</strong>stina-se à aplicação da medida socioeducativa, que preconiza a questão<br />

educacional.<br />

Retomemos a questão dos discursos que encontramos na instituição, ou seja, as formações discursivas<br />

que configuravam os discursos e suas relações (ORLANDI, 1999). No contexto institucional<br />

encontramos importantes formações discursivas que salientavam o caráter <strong>de</strong> oposição em que se<br />

encontravam os discursos dos adolescentes e dos profissionais. Sabemos que existem outras formações<br />

discursivas, mas, para o propósito do nosso estudo, interessa-nos aquelas carregadas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia, com<br />

moral própria e em oposição uma à outra.<br />

O discurso da socieda<strong>de</strong>, cujo representante eram os funcionários, tinha por característica a prescrição<br />

<strong>de</strong> condutas aos adolescentes. Nesse sentido, no âmbito institucional, nomearemos esse discurso<br />

prescritivo. Trata-se <strong>de</strong> um discurso que prescreve o modo ―correto‖ <strong>de</strong> comportamento indicado por<br />

parte do corpo funcional da instituição. Citamos como exemplo <strong>de</strong>sse discurso falas como: ―Você não<br />

<strong>de</strong>ve roubar...‖; ―Não use drogas porque prejudica sua saú<strong>de</strong>...‖; ―Sua mãe não merece um filho<br />

assim...‖, ―Estu<strong>de</strong> para ser alguém na vida...‖<br />

Lembramos que a medida socioeducativa <strong>de</strong> internação é a mais severa medida atribuída ao<br />

adolescente que comete ato infracional. Nesse sentido, enten<strong>de</strong>mos que até a chegada do adolescente à<br />

internação, esse sujeito tenha passado por diversas instâncias <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> com discursos que<br />

indicavam o dito certo ou errado, ou seja, os códigos morais da socieda<strong>de</strong> em que vivemos. Dessa<br />

forma, acreditamos que o discurso prescritivo já tenha estado presente em toda a vida <strong>de</strong>sse<br />

adolescente. Enten<strong>de</strong>mos que a adoção <strong>de</strong> um discurso como esse, em uma instituição que se propõe a<br />

acolher e a educar um adolescente em conflito com a lei, possui pouca ressonância. Acreditar que esse<br />

adolescente cumpre a mais rigorosa medida socioeducativa por não saber discernir o moralmente certo<br />

e errado, o legal e o ilegal, o socialmente aceito ou não, é, no mínimo, subestimar esse sujeito.<br />

Assim, encontramos um discurso direcionado ao adolescente que o posicionava <strong>de</strong> forma ainda mais<br />

distante daquilo que a socieda<strong>de</strong> já havia prescrito inúmeras vezes. O discurso prescritivo reiterava a<br />

distância entre os adolescentes internos e aqueles que o acolhiam. Nesse sentido, encontramos uma<br />

formação discursiva que apontava tal distância. Trata-se <strong>de</strong> um discurso que nomeamos marginal, por<br />

representar um sujeito que se encontra à margem da socieda<strong>de</strong>. Tal discurso não só distanciava, mas<br />

também colocava o adolescente em oposição aos funcionários/prescritores.<br />

Com relação a esse distanciamento que se configura na reprodução das relações sociais vividas fora do<br />

ambiente institucional, exemplificamos a oposição existente entre os discursos marginal e da<br />

socieda<strong>de</strong> com uma apresentação <strong>de</strong> caso em uma reunião na qual se discutiu o tema ―justo e injusto‖,<br />

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