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Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

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I <strong>Seminário</strong> <strong>Violar</strong> – Problematizando as Juventu<strong>de</strong>s na Contemporaneida<strong>de</strong> –<br />

11 a 13 <strong>de</strong> Agosto 2010<br />

realizada pelo Projeto <strong>Educação</strong> e Cidadania 313 da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Internação Provisória – UIP. Tratava-se<br />

da história <strong>de</strong> um homem que, após cometer um crime, foi sentenciado a <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> reclusão, mas<br />

foge antes <strong>de</strong> completá-los. Após oito anos <strong>de</strong> sua fuga, esse homem levava uma vida bem diferente da<br />

anterior: trabalhava, tinha seu próprio negócio e um bom relacionamento com seus clientes e<br />

funcionários. No entanto, foi <strong>de</strong>nunciado por um vizinho que soube <strong>de</strong> sua história. Colocou-se em<br />

discussão era se a situação <strong>de</strong> ter sido <strong>de</strong>nunciado era justa ou não.<br />

Observamos a lacuna existente entre socieda<strong>de</strong> e adolescentes quando ouvimos dos internos, durante<br />

essa discussão, que o que é justo para a socieda<strong>de</strong> é injusto para eles. Quando indagados sobre quem<br />

eram, respon<strong>de</strong>ram que eram bandidos e que faziam parte do mundo do crime. Nas palavras dos<br />

adolescentes, em relação ao caso do homem que havia sido <strong>de</strong>nunciado, era injusta a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

caguetar 314 .<br />

Interessante notarmos, nesse exemplo, a distância entre os discursos (marginal e da socieda<strong>de</strong>) que<br />

emergem no interior institucional, ao mesmo tempo em que há aproximação entre eles, em alguns<br />

aspectos. Nesse sentido, lembramos o que Foucault (1984) refere sobre os dois aspectos que toda<br />

moral possui: o dos códigos <strong>de</strong> comportamento e o das formas <strong>de</strong> subjetivação. Parece-nos que em<br />

nosso exemplo há gran<strong>de</strong> importância atribuída ao código. Assim como na instituição, conforme<br />

vimos anteriormente, também entre os adolescentes há primazia em relação aos códigos. Nesse<br />

aspecto, o sujeito moral é submetido a uma lei ou a um conjunto <strong>de</strong> leis, sob pena, caso as transgrida,<br />

<strong>de</strong> ser punido. Assim, instituição e adolescentes se aproximam no que diz respeito à ênfase atribuída<br />

ao código. Apesar <strong>de</strong> se tratarem <strong>de</strong> códigos distintos, dizem do mesmo aspecto rudimentar existente<br />

em toda moral.<br />

Referimo-nos às normas <strong>de</strong> convivência entre os adolescentes. Estes, apesar <strong>de</strong> estarem na mesma<br />

situação <strong>de</strong> confinamento, têm regras por vezes mais rígidas que as institucionais, com poucas<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negociação. Tomemos como exemplo alguns tipos <strong>de</strong> condutas prescritas pelos<br />

próprios internos, como bater na mesa para se sentar, pedir licença ao entrar no refeitório, rezar antes<br />

das refeições e assumir <strong>de</strong>terminada postura nos dias <strong>de</strong> visita: não usar camiseta regata e passar pela<br />

visita dos <strong>de</strong>mais adolescentes com a cabeça baixa. Tais comportamentos eram <strong>de</strong>masiadamente<br />

rígidos e, no caso <strong>de</strong> transgressão, a punição - agressão física - era aplicada <strong>de</strong> maneira imediata.<br />

Trata-se, portanto, <strong>de</strong> códigos que po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>nominar marginais, já que não são reconhecidos<br />

abertamente pelas vias institucionais. Além das posturas <strong>de</strong>terminadas para um contexto institucional,<br />

também o que havia sido feito fora, ou seja, a conduta do adolescente no <strong>de</strong>signado crime era cobrada<br />

da mesma maneira incisiva - com pouca ou nenhuma negociação. Assim, segundo relatos dos<br />

adolescentes, aqueles que ―falham no crime‖, ou seja, os <strong>de</strong>nominados X9 (<strong>de</strong>latador), Jack<br />

(estuprador), Rato (o dito ―ladrão que rouba ladrão‖), ao chegarem à instituição, tinham que ser<br />

separados dos <strong>de</strong>mais para evitar agressões.<br />

Ainda com relação aos códigos, ao trabalharmos o tema criminalida<strong>de</strong> no grupo temático realizado<br />

pela pesquisadora, surgiu o seguinte fragmento discursivo:<br />

313 Projeto voltado para adolescentes a quem se atribui ato infracional, em parceria com a organização não<br />

governamental Centro <strong>de</strong> Pesquisas em <strong>Educação</strong>, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), Febem – SP e<br />

Secretaria do Estado da <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> São Paulo (SEE). As ativida<strong>de</strong>s eram realizadas na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Internação<br />

Provisória (UIP) e distribuídas em 5 módulos: Justiça, <strong>Educação</strong>, Família, Saú<strong>de</strong> e Trabalho, além <strong>de</strong> oficinas<br />

culturais. Tal projeto substituía o ensino formal <strong>de</strong>vido à alta rotativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adolescente nessa unida<strong>de</strong>.<br />

314 Caguetar, no linguajar dos adolescentes, significa <strong>de</strong>latar, <strong>de</strong>nunciar.<br />

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