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Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

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I <strong>Seminário</strong> <strong>Violar</strong> – Problematizando as Juventu<strong>de</strong>s na Contemporaneida<strong>de</strong> –<br />

11 a 13 <strong>de</strong> Agosto 2010<br />

vida dos jagunços, <strong>de</strong>nominados por Galvão (2000, p.36) como sem-terra, carentes <strong>de</strong> tudo,<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> bens, <strong>de</strong> tradição, <strong>de</strong> raízes, <strong>de</strong> qualificação profissional, sendo seu único<br />

meio <strong>de</strong> vida colocar-se sob a proteção <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>roso.<br />

Trazendo a narrativa <strong>de</strong> Riobaldo para o contexto da vida dos jovens infratores, ou seja,<br />

relacionando o drama da obra com a vida urbana nas periferias das cida<strong>de</strong>s, também estes<br />

convivem com a carência <strong>de</strong> bens materiais e a falta <strong>de</strong> perspectivas <strong>de</strong> vida frente a sua baixa<br />

escolarida<strong>de</strong> e nenhuma profissionalização. E, se no caso dos jagunços, estes se agregavam<br />

aos gran<strong>de</strong>s proprietários <strong>de</strong> terra, já os jovens têm sido ―acolhidos‖ pelos traficantes ou por<br />

outros adultos que <strong>de</strong>les se utilizam para praticarem crimes e saírem ilesos.<br />

Ao empreen<strong>de</strong>r novamente a leitura do romance <strong>de</strong> Guimarães Rosa, várias foram as relações<br />

que surgiram entre a figura do jagunço inserido no sertão e os jovens infratores.<br />

Segundo Bolle (2004, p.117) ―o sistema jagunço, enquanto instituição situada ao mesmo<br />

tempo na esfera da Lei e do Crime, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um fenômeno regional e datado, para tornarse<br />

uma representação do funcionamento atual das estruturas do país‖. Hoje, o sistema <strong>de</strong><br />

violência e criminalida<strong>de</strong> protagonizado por criminosos e por jovens infratores tem<br />

movimentado muito das ações e ―intervenções‖ do governo no sentido <strong>de</strong> manter a or<strong>de</strong>m.<br />

Assim, vale indagar: <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vêm os jovens infratores e sua capacida<strong>de</strong> criativa em tornaremse<br />

transgressores <strong>de</strong> leis e normas? Qual a sua origem geosocial? Seriam eles jagunços da<br />

atualida<strong>de</strong>, da cida<strong>de</strong>, agindo <strong>de</strong> forma diferente, mas sob princípios parecidos com os que<br />

moveram os jagunços no sertão?<br />

Galvão (2000, p.49) fala em carreira <strong>de</strong> jagunço: ―vencer o medo, provar a <strong>de</strong>streza nos<br />

combates e, sobretudo, empenhar lealda<strong>de</strong> a um chefe‖. No caso dos jovens infratores po<strong>de</strong>-se<br />

falar em superar seu medo, ser esperto o suficiente para não ser ―apanhado‖ e nunca<br />

<strong>de</strong>nunciar os outros integrantes <strong>de</strong> sua ―gangue‖.<br />

Outros traços comuns entre a vida no sertão e nas periferias das cida<strong>de</strong>s que se po<strong>de</strong>m<br />

observar são o sentimento <strong>de</strong> vingança e a justiça feita com as próprias mãos. Em Gran<strong>de</strong><br />

Sertão: Veredas, há a narração do julgamento <strong>de</strong> Zé Bebelo, feito pelo bando <strong>de</strong> Joca Ramiro<br />

após vencê-lo. Nas periferias, existem as <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong> não aceitar certas pessoas que<br />

agiram em <strong>de</strong>sacordo com a ―lei‖ do local. As penalida<strong>de</strong>s impostas pelos ―chefes‖ das<br />

gangues vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> impedir a entrada da pessoa dita traidora no bairro ou vila, até a<br />

perseguição com juramento <strong>de</strong> morte. Nestas comunida<strong>de</strong>s urbanas o que se vê é a<br />

manutenção da violência a todo custo, como forma <strong>de</strong> um ritual que mantém o po<strong>de</strong>r<br />

instituído.<br />

Os jovens infratores respeitam mais estas punições extra-oficiais, que acontecem <strong>de</strong> forma<br />

concreta, do que as impostas pelas autorida<strong>de</strong>s judiciais. Um exemplo ilustrativo po<strong>de</strong> ser<br />

dado através do caso <strong>de</strong> um jovem que ―dribla‖ o oficial <strong>de</strong> justiça que o procura para a<br />

entrega <strong>de</strong> um mandado judicial. Conhecendo os funcionários do Fórum que <strong>de</strong>sempenham<br />

esta função, ao avistar a presença <strong>de</strong> algum <strong>de</strong>les nos arredores <strong>de</strong> sua casa, vai pulando <strong>de</strong><br />

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