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Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

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I <strong>Seminário</strong> <strong>Violar</strong> – Problematizando as Juventu<strong>de</strong>s na Contemporaneida<strong>de</strong> –<br />

11 a 13 <strong>de</strong> Agosto 2010<br />

Em ―O Fotógrafo‖ Manoel <strong>de</strong> Barros nos mostra um jogo entre matéria e <strong>de</strong>smaterialização,<br />

representação objetiva e não-objetivida<strong>de</strong>, na medida em que as imagens produzem sentidos outros<br />

que não estão postos. Sua poética é voltada para a palavra numa relação essencialmente disjuntiva para<br />

com a imagem, problematizando tanto o visual como o subjetivo. A imagem poética <strong>de</strong> Manoel<br />

Barros opta pelo figural, pelo não visível, i<strong>de</strong>ntificado através do posicionamento do fotógrafo, que é<br />

ao mesmo tempo sujeito e observador, ou seja, não se <strong>de</strong>ixa capturar, não se permite nomear com<br />

precisão, não se aprisiona em um único sentido. Na poesia <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros exposta acima,<br />

encontramos <strong>de</strong> forma efêmera, fugaz, um <strong>de</strong> nossos temas <strong>de</strong> pesquisa: o silêncio. Através <strong>de</strong>la,<br />

percebemos o silêncio como aquilo que é irrepresentável, que não po<strong>de</strong> ser capturado, que só aparece<br />

na transparência, que não existe na objetivida<strong>de</strong>, mas que transborda em subjetivida<strong>de</strong>, enfim, <strong>de</strong>sliza<br />

por entre os sentidos. Nessa direção, o silêncio acontece como produção <strong>de</strong> sentidos, como um<br />

processo significante, muitas vezes ele se dá nos sentidos que ―atravessam‖ os diálogos e tocam o<br />

sensível do sujeito no discurso. O silêncio se apresenta como limite da palavra, da representação do<br />

mundo, um lugar vazio que se oferece aos sentidos, às infinitas possibilida<strong>de</strong>s do imaginário para os<br />

interlocutores.<br />

Nesse contexto, uma forma <strong>de</strong> pensarmos o silêncio, está alocada na análise <strong>de</strong> discurso, ou seja,<br />

enten<strong>de</strong>mos o silêncio como uma das formas <strong>de</strong> linguagem, enquanto modos <strong>de</strong> produção e<br />

movimento dos sentidos. As palavras, são cheias <strong>de</strong> sentidos e esses, por sua vez, nem sempre são<br />

ditos e, além disso, colocamos no silêncio muitas <strong>de</strong>las. É o silêncio que atravessa as palavras, que<br />

passa por entre elas ou que indica que o sentido po<strong>de</strong> ser outro, ou então, que aquilo que é o mais<br />

importante nunca se diz. Dessa forma, temos então, segundo Orlandi (1993), o silêncio como<br />

fundador, como não-dito, porém inserido na linguagem. Trata-se do silêncio significante, ele tem<br />

significância própria: na perspectiva que assumimos o silêncio não fala. O silêncio é. Ele significa. Ou<br />

melhor: no silêncio, o sentido é. (Orlandi, 1993, p. 33).<br />

Assim sendo, para a referida autora, o silêncio tratado aqui, não é a ausência <strong>de</strong> sons, palavras ou<br />

significados, o nada, mas sim, o silêncio fundador, princípio <strong>de</strong> toda significação, ou seja, é a própria<br />

condição da produção <strong>de</strong> sentido, ele é o lugar que permite à linguagem, significar, ele se instala<br />

enquanto horizonte <strong>de</strong> sentidos.<br />

Diferenciando-se do silêncio fundador, Orlandi (1993) nos mostra ainda, uma outra forma <strong>de</strong> silêncio:<br />

o silenciamento ou política do silêncio. Segundo a autora, o sujeito usa do verbo ou do silêncio para<br />

produzir sentidos, para ser ouvido, a esse fato ela então <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> silenciamento. A diferença<br />

entre o silêncio fundador e a política do silêncio é que esta última produz um recorte entre o que se diz<br />

e o que não se diz, enquanto que o silêncio fundador não estabelece nenhuma divisão: ele significa por<br />

si mesmo.<br />

A política do silêncio compreen<strong>de</strong> a relação dito/não dito, contextualizada sócio-historicamente.<br />

Segundo Orlandi (1993, p. 75), ―... a política do silêncio se <strong>de</strong>fine pelo fato <strong>de</strong> que ao dizer algo<br />

apagamos necessariamente outros sentidos possíveis, mas <strong>de</strong>sejáveis, em uma situação discursiva<br />

dada.‖ Dessa forma, enten<strong>de</strong>mos que, quando escolhemos algumas palavras para nos expressarmos,<br />

silenciamos outras, dizemos apenas aquilo que po<strong>de</strong> ser dito.<br />

Já em Courtine e Haroche (1988, p. 185) encontramos a noção <strong>de</strong> política <strong>de</strong> silêncio, da seguinte<br />

forma: ... exercer controle sobre o humor, o temperamento, os instintos, as paixões, as palavras. Ser<br />

senhor <strong>de</strong> si: <strong>de</strong>ve-se ouvir muito e falar pouco para bem agir no governo <strong>de</strong> um Estado. Portanto, o<br />

silêncio político <strong>de</strong>stina-se aquele homem pru<strong>de</strong>nte que se poupa, que nem sempre diz tudo o que quer<br />

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