14.06.2013 Views

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

I <strong>Seminário</strong> <strong>Violar</strong> – Problematizando as Juventu<strong>de</strong>s na Contemporaneida<strong>de</strong> –<br />

11 a 13 <strong>de</strong> Agosto 2010<br />

No início da pesquisa, responsabilizava apenas os profissionais, a dinâmica das relações interpessoais,<br />

a escassez <strong>de</strong> recursos, a pseudoparceria entre os serviços da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistência social e a rivalida<strong>de</strong><br />

entre os po<strong>de</strong>res municipais pelo fracasso do projeto Recanto da Esperança. Ou seja, estava presa na<br />

armadilha da responsabilida<strong>de</strong> individual das questões sociais. Hoje sei que para além <strong>de</strong>ssas questões<br />

temos uma luta <strong>de</strong> classes, <strong>de</strong> um lado a manutenção do status quo que se oculta no discurso<br />

<strong>de</strong>mocrático do Estado burguês, dos valores liberais, a Liberda<strong>de</strong>, Igualda<strong>de</strong>, Indivíduo, Proprieda<strong>de</strong> e<br />

Democracia e, <strong>de</strong> outro, a resistência, a contestação e a transformação <strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m.<br />

É imprescindível compreen<strong>de</strong>r que o Estado <strong>de</strong> Direito, a socieda<strong>de</strong> civil e ―o resgate da cidadania‖<br />

são conceitos que carregam os mol<strong>de</strong>s do capital, a conformação, a miséria, a morte real e simbólica à<br />

maior parte da população.<br />

As crianças e adolescentes em situação <strong>de</strong> risco compõem uma camada social, parte <strong>de</strong> uma<br />

superpopulação exce<strong>de</strong>nte, que é produto <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> produção da vida em que a realização do<br />

lucro subordina a sobrevivência, submetendo-a as piores condições <strong>de</strong> opressão e <strong>de</strong>gradação<br />

humanas. Nesse sentido, o Estado e suas instituições, as políticas corretivas e assistenciais cumprem<br />

um papel central, seus agentes sociais, estando ou não cientes disto, seja como instrumento <strong>de</strong> controle<br />

ou como mediador <strong>de</strong> conflitos sociais. Verifico isso nas diversas políticas sociais dirigidas à infância<br />

e adolescência brasileira nos distintos contextos econômicos, políticos e sociais.<br />

Nos marcos do capitalismo, com o Estado burguês e com políticas públicas materializadas em projetos<br />

paliativos que se alteram a cada quatro anos mudando as concepções e as práticas, conseguiremos no<br />

máximo torná-los parte constitutiva do ―exército <strong>de</strong> reserva‖, reforçando as ilusões i<strong>de</strong>alistas <strong>de</strong> que<br />

capacitados, educados e civilizados, encontrarão um lugar ao sol, <strong>de</strong>sfrutarão a ―cidadania‖, ou seja,<br />

serão novos produtores e consumidores <strong>de</strong> mercadorias, <strong>de</strong>sfrutarão do direito <strong>de</strong> serem explorados e<br />

<strong>de</strong> escolherem nos processos eleitorais seus governantes. Nessa sociabilida<strong>de</strong>, esse paraíso não se<br />

realiza em sua plenitu<strong>de</strong>, o capital produz e necessita <strong>de</strong> uma superpopulação relativa que não produza<br />

e não consuma e que pressione os produtores e consumidores a níveis compatíveis com a saudável<br />

reprodução social do capital. O espaço reservado a essa população se situa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um círculo<br />

vicioso, o <strong>de</strong> institucionalização assistencial ou correcional e no máximo <strong>de</strong> treinamentos e <strong>de</strong> cursos<br />

profissionalizantes. Capacitados ou não para as <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> mercado, esses sujeitos viverão em<br />

subempregos à mercê <strong>de</strong> trabalhos informais e biscates como produtos necessários à acumulação e<br />

expansão capitalista.<br />

Isso é expresso na ilusão das entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atenção, <strong>de</strong> que através da educação conseguiremos uma<br />

efetiva transformação da realida<strong>de</strong> social. Nesse fio da navalha, uma prática educativa, mesmo não<br />

repressiva, po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>sembocar numa educação para a conformação e resignação. É necessário<br />

consi<strong>de</strong>rar que há um <strong>de</strong>scompasso entre a legislação vigente, o Estatuto da criança e do Adolescente -<br />

ECA, e a necessida<strong>de</strong> do mo<strong>de</strong>lo neoliberal <strong>de</strong> controle dos conflitos sociais, ou seja, o Estado e os<br />

interesses privados utilizam questões legais e práticas institucionais que exaltam ―novas‖ formas <strong>de</strong><br />

intervenção educacional que carregam em si marcas das antigas práticas totalitárias.<br />

Diante <strong>de</strong>sses limites, e consi<strong>de</strong>rando que as novas relações serão construídas a partir da realida<strong>de</strong> em<br />

que vivemos, e que necessitamos superar, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>sprezar as práticas sociais, o exercício<br />

profissional e o necessário <strong>de</strong>bate sobre as alternativas a serem construídas. Uma nova realida<strong>de</strong> não<br />

será construída necessariamente <strong>de</strong> acordo com as nossas vonta<strong>de</strong>s, mas sem elas não haverá futuro a<br />

ser alterado.<br />

575

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!