Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

I Seminário Violar – Problematizando as Juventudes na Contemporaneidade –
11 a 13 de Agosto 2010
diferentes com relação à universidade, algo que poderemos visualizar nas trajetórias que serão
analisadas. Deste modo as expectativas de Kleber estão articuladas ao momento pelo qual ele passa
sem, no entanto, estarem descoladas de suas relações sociais, bem como do momento histórico a partir
do qual Kleber se insere na universidade. Poderemos visualizar melhor isso na fala do próprio sujeito:
A minha expectativa era fazer um curso superior, era botar o estudo em dia, o estudo em prática,
porque eu já tinha me convencido que sem o estudo não ia dar certo, não ia pra frente. Hoje a gente
sabe que só com o ensino superior já não é mais viável, a gente ta correndo atrás de pós-graduação, de
mestrado pra tentar ter diferenciais no mercado de trabalho, que não é só isso também, mas
principalmente no mercado de trabalho. E na época eu sabia que só o ensino médio não ia resolver os
meus problemas financeiros, não ia me dar uma estabilidade de emprego, que era o que eu achava
super necessário pra ter uma vida tranqüila, uma vida digna, uma vida normal, digamos assim, uma
vida em que você trabalha, recebe teus honorários no fim do mês, paga as suas contas e vive em paz.
198
A universidade aparece como uma necessidade, como o único caminho possível para ―uma vida
digna‖. Destaco a condição de construção social dessa afirmação. Hoje a universidade é apresentada
como um modo de alcançar sucesso profissional. Podemos visualizar isso com bastante facilidade
observando as várias propagandas de universidades privadas presentes nas ruas das cidades, nas
emissoras de televisão e rádio, bem como nos jornais e revistas. A narrativa de Kleber dialoga com
todo o imaginário social construído por essas propagandas. Apesar disso, Kleber ressalta que ―não é
só isso‖, não é só a possibilidade de sucesso profissional e financeiro que o atrai à universidade. Há
em sua fala uma constante preocupação em aliar à realização profissional um crescimento intelectual.
Assim a universidade é vista não apenas como um ―trampolim‖ profissional, mas um lugar de
crescimento intelectual para esse sujeito.
A questão profissional passa também pela escolha do curso a fazer. Kleber entra na faculdade
e se forma em História. Diferente de muitos casos, como o de Marina que veremos a seguir, Kleber
ingressa na faculdade com a certeza do curso que deseja fazer, e o conclui com a mesma certeza. Em
muitos casos a escolha pelo curso ocorre a partir de um balanço das possibilidades para se fazer o
curso, como custo, localização, universidade, etc. Já Kleber rememora essa escolha apenas a partir da
questão do curso e da universidade, outras preocupações são apagadas nesse momento de sua fala.
Kleber se expressa da seguinte forma:
Quando eu fiz o curso pra História, eu escolhi antes de tudo o curso, não o campus. A gente sabe que
alguns graduandos, alguns alunos de ensino superior, as vezes escolhem antes o campus, ah eu quero
fazer faculdade em São Paulo, eu quero fazer faculdade no Rio, eu quero fazer faculdade em Cascavel,
depois vai acabar escolhendo o curso de acordo com o que existe de disponível naquela determinada
cidade. Eu fiz diferente, eu olhei os cursos todos que existiam na Unioeste, eu tinha escolhido primeiro
a instituição, eu escolhi a Unioeste, porque era pública, porque era conhecida na região e porque é
considerado um ensino de qualidade, apesar de ter a estrutura física precarizada pela política vigente,
mas a gente sabe que o diploma da Unioeste ainda é um diploma respeitado.
198 Idem.
435