14.06.2013 Views

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

I <strong>Seminário</strong> <strong>Violar</strong> – Problematizando as Juventu<strong>de</strong>s na Contemporaneida<strong>de</strong> –<br />

11 a 13 <strong>de</strong> Agosto 2010<br />

faz aquilo... você vê o sorriso do cara, a sua satisfação, o cara tá lá, <strong>de</strong> pau duro...é a satisfação prá<br />

você‖.<br />

Essa ―super excitação dos sentidos‖ e, ao mesmo tempo, esta ―perda <strong>de</strong> si‖ levam a pensar em<br />

uma autonomia da máquina, revelada pelos relatos, segundo os quais a potência do motor parece<br />

adquirir vida própria. As palavras <strong>de</strong> um ―rachador‖ são, nesse sentido, reveladoras: ―um outro dia eu<br />

tava voltando tranquilo pra casa, tar<strong>de</strong> da noite, ouvindo um sonzinho quando um carro me chamou<br />

pro racha‖.<br />

“Rachas” na rua versus “rachas” no autodromo: entre “excitação séria” e “excitação jogo”<br />

A relação com as normas que opoem os jovens à repressão autoritária dos policiais, enquanto<br />

agentes do sistema securitário, são relações <strong>de</strong> força e <strong>de</strong> conflito. Os jovens se confrontam com uma<br />

autorida<strong>de</strong> policial arbitrária e ambigua que, as vezes, pren<strong>de</strong> os carros e as motos, atribuindo sanções<br />

e multas ou pedindo/aceitando propinas, quando não lhes agri<strong>de</strong> para <strong>de</strong>monstrar seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> força.<br />

Um ―rachador‖ afirma que os policiais ―passam só pra assustar, pra fazê a gente ir embora... mas o<br />

interesse <strong>de</strong> nos prendê eles têm. O que eles gostam mais <strong>de</strong> fazê é batê na gente. Na verda<strong>de</strong>, o<br />

interesse é <strong>de</strong> batê e não <strong>de</strong> prendê. Eles gostam mesmo é <strong>de</strong> batê‖.<br />

A tensão com a polícia po<strong>de</strong> se expressar em conflito latente ou em conflito manifesto. Entre os<br />

jovens, essa tensão ganha ares <strong>de</strong> transgressão e, nas práticas ilegais dos ―rachas‖, criam uma tensão e<br />

um medo suplementares entre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem pegos e a expectativa <strong>de</strong> um surplus <strong>de</strong><br />

reconhecimento ―heróico‖ <strong>de</strong> coragem diante <strong>de</strong> seus pares. Mas a relação com a polícia é bastante<br />

ambigua e se expressa em diferentes níveis. Em um primeiro nível, interpessoal e ainda sociável, o<br />

policial ao parar o jovem começa a perguntar, <strong>de</strong> forma interessada e em uma linguagem técnica, o<br />

que foi mudado no carro ou na moto. A conversa, tensa no início, acaba por se <strong>de</strong>senrolar como se se<br />

tratasse <strong>de</strong> uma troca <strong>de</strong> informações entre pessoas que compartilham o interesse comum pelos<br />

motores. Há mesmo casos conhecidos <strong>de</strong> policiais que praticam ―rachas‖ e se misturam aos jovens.<br />

Em seguida, em um segundo nível, há as corridas-perseguições que os policiais <strong>de</strong>vem empreen<strong>de</strong>r<br />

com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pren<strong>de</strong>r os jovens, o que se dá através <strong>de</strong> uma dinâmica mimética dos ―rachas‖ e<br />

as fugas que os jovens registram em seus celulares para exibir <strong>de</strong>pois como prova <strong>de</strong> sua bravura. Mas,<br />

<strong>de</strong> tempos em tempos, a relação entre eles po<strong>de</strong> <strong>de</strong>passar esses dois níveis interpessoais do ―jogo <strong>de</strong><br />

reconhecimento‖ e beirar a dinâmica subjacente dos conflitos estruturais e violentos.<br />

Isso dá novos <strong>de</strong>lineamentos às condutas <strong>de</strong> risco no contexto das contravenções <strong>de</strong> trânsito que<br />

toma ares <strong>de</strong> um jogo <strong>de</strong> força ou <strong>de</strong> um ―drama social‖, no sentido atribuído por Turner (1974), como<br />

119

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!