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Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

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I <strong>Seminário</strong> <strong>Violar</strong> – Problematizando as Juventu<strong>de</strong>s na Contemporaneida<strong>de</strong> –<br />

11 a 13 <strong>de</strong> Agosto 2010<br />

Mais do que a correspondência, para os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que trabalham com<br />

adolescência, trata-se da observação daquilo que po<strong>de</strong> sair <strong>de</strong> um padrão aceito <strong>de</strong><br />

normalida<strong>de</strong> e se figurar como situações <strong>de</strong> risco.<br />

A intervenção médica se dá no corpo, lócus <strong>de</strong> sua atuação. Ao mesmo tempo, quando o<br />

público é o/a adolescente, aspectos comportamentais coadunam-se à atenção prestada, ao<br />

mesmo tempo em que se subordinam aos <strong>de</strong>terminantes biológicos, orgânicos que os<br />

explicam.<br />

Em entrevistas, os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> revelam a especificida<strong>de</strong> do atendimento ao<br />

adolescente, levando em conta aspectos comportamentais – como a contestação, a<br />

introspecção, a fantasia e a sensação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>strutibilida<strong>de</strong> –, que o diferenciam tanto da<br />

criança – totalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do adulto -, quanto do adulto – que sabe o que quer e o por<br />

quê <strong>de</strong> estar na consulta.<br />

Esses aspectos constroem uma idéia <strong>de</strong> adolescência ―normal‖, já pressuposta ao atendimento,<br />

da qual fazem parte <strong>de</strong>terminadas concepções <strong>de</strong> gênero e <strong>de</strong> riscos aos quais cada um dos<br />

gêneros estarão mais ou menos vulneráveis. À mulher, o risco <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z na adolescência; ao<br />

homem, o risco <strong>de</strong> doenças sexualmente transmissíveis. O risco <strong>de</strong>ssas mesmas doenças nas<br />

mulheres não é <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rado, mas está em segundo plano se avaliada a preocupação<br />

biomédica com a gravi<strong>de</strong>z na adolescência e suas implicações físicas e sociais, colocadas<br />

como déficits na vida <strong>de</strong>ssas jovens. Nessa atenção, ainda que a ginecologia 234 seja a<br />

especialida<strong>de</strong> médica por excelência, várias outras especialida<strong>de</strong>s médicas e biomédicas<br />

entram em cena no atendimento à adolescência.<br />

A questão central aí colocada é que, na percepção médica e biomédica, especialmente a<br />

atenção ao o/a adolescente <strong>de</strong>ve primar pela multidisciplinarida<strong>de</strong> e, tanto quanto possível,<br />

pelo trabalho ―interdisciplinar‖ 235 . Está por traz <strong>de</strong>ssa percepção uma noção <strong>de</strong> adolescência,<br />

apreendida como um período <strong>de</strong> intensas transformações biológicas, psíquicas e sociais, que<br />

resultam em um sujeito – adolescente – visto como um ser essencialmente complexo e<br />

problemático. Diante <strong>de</strong>sse quadro, o <strong>de</strong>senvolvimento e a utilização da noção <strong>de</strong> ―síndrome<br />

<strong>de</strong> adolescência normal‖ vai ter como função facilitar, para os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a<br />

visualização <strong>de</strong> traços comportamentais que caracterizam a adolescência ―normal‖ e aqueles<br />

que sinalizam a saída <strong>de</strong>ssa normalida<strong>de</strong>.<br />

Um dos traços já mencionados refere-se à experimentação, nos diversos campos da vida,<br />

<strong>de</strong>ntre as quais, aquelas relacionadas à sexualida<strong>de</strong>. Para a biomedicina trata-se da atenção às<br />

conseqüências da experimentação que, no caso da adolescente, vai se referir à gravi<strong>de</strong>z.<br />

234<br />

Como <strong>de</strong>senvolve Rho<strong>de</strong>n (2006, p. 177), a ―ginecologia e a obstetrícia se constituíram como discursos sem<br />

prece<strong>de</strong>ntes sobre a natureza do feminino e da sexualida<strong>de</strong> da mulher.‖<br />

235<br />

A compreensão médica da interdisciplinarida<strong>de</strong> é avalia por Camargo Júnior (2003). Segundo o autor, ao<br />

observar as práticas tidas como ―interdisciplinares‖ pela medicina, observa-se que as mesmas correspon<strong>de</strong>m, na<br />

maior parte das vezes, à mera justaposição das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assistência <strong>de</strong>senvolvidas por profissionais com<br />

formações diferenciadas.<br />

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