14.06.2013 Views

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

I <strong>Seminário</strong> <strong>Violar</strong> – Problematizando as Juventu<strong>de</strong>s na Contemporaneida<strong>de</strong> –<br />

11 a 13 <strong>de</strong> Agosto 2010<br />

"Do rio cujas águas tudo arrasta se diz violento, mas ninguém diz violentas as margens que o<br />

comprimem‖ 405 . Quem produz o quê?<br />

Viver em socieda<strong>de</strong> não é uma tarefa fácil. Ao mesmo tempo em que é preciso percorrer as trilhas <strong>de</strong> realização<br />

dos <strong>de</strong>sejos pessoais, há que inteirar-se no coletivo que produz a humanida<strong>de</strong> que nos diferencia <strong>de</strong> outros<br />

animais. Esse viver coletivamente também po<strong>de</strong> ser aprendido a partir dos muitos cortes, das muitas perdas, das<br />

oportunida<strong>de</strong>s, das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> olhar para si, percebendo-se no espelho refletido do outro. Estar no mundo<br />

já é um <strong>de</strong>safio que necessita <strong>de</strong> alguém que, em sua diferença, também produza diferenças, ao mesmo tempo em<br />

que é produzido por outras tantas, vindas <strong>de</strong> muitos outros. (Campos, 2008, p. 99)<br />

Esse aprendizado que vai do cuidado <strong>de</strong> si ao cuidado do outro é o espaço on<strong>de</strong> estamos inseridos que<br />

vamos buscar sentido à vida, criar marcas, oferecer nossa presença. Esse é o jeito <strong>de</strong> fazer uma política<br />

que consi<strong>de</strong>ra a experiência compartilhada, traçando uma estética coletiva e que inova os padrões<br />

anteriormente <strong>de</strong>finidos como ‗belo‘.<br />

Essa forma <strong>de</strong> fazer política no coletivo, no ―estar-junto‖ empenha-se em cultivar o que Michel<br />

Foucault chamava <strong>de</strong> ―cuidado <strong>de</strong> si‖ articulado com o ―cuidado dos outros‖. Articulação essa que<br />

possibilita consi<strong>de</strong>rar esse empreendimento como uma tarefa política. São cuidados siameses, não<br />

hierárquicos e nem competitivos.<br />

―Não se <strong>de</strong>ve fazer passar o cuidado dos outros na frente do cuidado <strong>de</strong> si; o cuidado <strong>de</strong> si vem eticamente em<br />

primeiro lugar, na medida em que a relação consigo mesmo é ontologicamente primária‖ (FOUCAULT, 2004, p.<br />

271).<br />

Importante se faz ressaltar que cuidado <strong>de</strong> si não é um culto ao narcisismo, culto imposto pelo<br />

consumismo sem freios, mas é um cuidado com um si que se apóia no ato criativo que se produz no<br />

coletivo, na busca por um modo <strong>de</strong> viver que inclui o outro no seu si e não que o anula.<br />

Viver e participar são ações humanas que se fortalecem mutuamente. As juventu<strong>de</strong>s, em seus<br />

diferentes tempos históricos e em suas diferentes formas <strong>de</strong> viver num mesmo tempo apresentam,<br />

inventam, escon<strong>de</strong>m-se, criam, ousam formas múltiplas <strong>de</strong> olhar a vida e sua comunida<strong>de</strong>.<br />

É humana a tentativa <strong>de</strong> querer mudanças, <strong>de</strong> querer inovar e essas posturas batem forte nas relações<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que estão postas. Quanto maior o uso do po<strong>de</strong>r, mais surpreen<strong>de</strong>nte são as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

resistência, e é nessa medida que quem domina para se manter no po<strong>de</strong>r precise usar cada vez mais a<br />

força. Quanto mais elaboradas as formas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, mais resistência aguça. Assim, o po<strong>de</strong>r é produtivo.<br />

Ele não é o ‗não‘ mas é uma força que suscita a criação <strong>de</strong> um novo. É um motor produtivo para o<br />

cuidado <strong>de</strong> si. Sujeitos éticos exercitam maneiras outras, novas <strong>de</strong> se relacionar consigo mesmos e<br />

405 Bertold Brecht, dramaturgo e poeta alemão.<br />

893

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!