Anais I Seminário Violar - Faculdade de Educação - Unicamp

I Seminário Violar – Problematizando as Juventudes na Contemporaneidade –
11 a 13 de Agosto 2010
Em determinado momento eu consegui concluir meu ensino médio, e no primeiro vestibular que eu
fiz, eu fui orientado por amigos, porque eu tinha muitos amigos em Cascavel, eu fui orientado por
meus amigos a fazer o concurso vestibular, porque eu tinha vários amigos que cursavam o ensino
superior. Na minha época eu era um dos poucos no meu grupo de amizades que não estava dentro da
faculdade e todo mundo falava: olha, é preciso que chegue a sua vez, é preciso que você vá fazer um
curso superior também, não fique pra trás, ta todo mundo na faculdade. Aí isso me convenceu e aí eu
fui fazer o vestibular. 196
Enquanto que sua opção por abandonar os estudos é rememorada como uma opção individual
em busca de independência, o momento de ingresso na faculdade é rememorado a partir de outros
sentidos. O circulo de amigos de Kleber o incentiva e o pressiona a entrar na faculdade. Vemos aí o
diálogo de Kleber, que antes se colocava como sujeito e único agente de sua vida, com pressões
sociais. Claro que essas pressões sociais estavam presentes também no momento em que abandona a
escola, no entanto, ao construir sua narrativa, Kleber opta naquele momento por narrar uma
experiência que se constrói a partir da individualidade. Experiência essa que deve ter se chocado com
expectativas construídas por amigos e familiares seus.
A entrada na universidade marca também outras instâncias de sua vida. Para poder cursar
História, Kleber tem de ir morar em outra cidade, sair da casa dos pais com quem residia até então. Há
nesse momento uma ruptura, o desligamento da relação de dependência da casa dos pais. Se, quando
adolescente, Kleber busca a independência financeira, é só já com 24 anos que Kleber passará a morar
sozinho. Sua vida familiar é rememorada de maneira tranqüila, vejamos:
Eu nunca tive maiores problemas em morar com meus pais. (...) A minha vida familiar em Cascavel
sempre foi uma vida muito bacana, tanto que eu saí da casa dos meus pais apenas quando eu tive um
motivo de vir fazer faculdade, senão eu não teria saído. De repente, não dá pra gente supor, mas de
repente eu teria levado mais alguns anos ainda morando com meu pai, com a minha mãe se eu não
tivesse passado no vestibular. Se eu não tivesse passado no vestibular eu não teria motivos pra ter
saído de Cascavel, sabe-se lá onde eu estaria, mas provavelmente eu estaria em Cascavel, não dá pra
gente supor, sem anacronismos mas, sei lá, eu saí porque eu passei no vestibular e vim pra Rondon
senão... Se eu não tivesse passado eu não teria vindo. 197
Enquanto, quando adolescente, há a necessidade de independência financeira para a realização pessoal,
já adulto a saída da casa dos pais não é vista como necessidade. Kleber ressalta sua boa convivência
familiar que o leva a sair de casa apenas porque a universidade ficava longe de Cascavel. Vemos nesse
momento uma interferência direta da universidade na vida desse sujeito, sendo que é importante
ressaltar que ao referir-se à família é o primeiro momento que a universidade interfere de maneira
mais efetiva em sua vida narrada.
É na articulação desses momentos específicos pelo qual Kleber passa que ocorrerá a sua
entrada na faculdade. Assim, diferentes expectativas e olhares são lançados à ele, assim como Kleber
lança diversos olhares e expectativas à universidade e à Marechal Cândido Rondon. É importante
destacar, antes de vermos como Kleber se coloca, que os diferentes sujeitos constroem expectativas
196 Idem.
197 Idem.
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