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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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oportuno, com to<strong>do</strong> o respeito em relação a eventu<strong>al</strong> posicionamento em contrário, este autor enten<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rão ser aplicadas às<br />

situações <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> consumo as regras relacionadas com a suspensão e interrupção da prescrição previstas no Código Civil<br />

Brasileiro (arts. 197 a 204), em diálogo das fontes.<br />

A fim <strong>de</strong> ilustrar e <strong>de</strong> fixar a aplicação <strong>do</strong> prazo, vejamos tu<strong>do</strong> o que aqui foi exposto, toman<strong>do</strong> como exemplo aquele caso <strong>do</strong><br />

ferro <strong>de</strong> passar roupas que explo<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> maneja<strong>do</strong> pelo seu adquirente. Se o ferro explo<strong>de</strong>, mas não atinge nem fere ninguém,<br />

estará presente o vício <strong>do</strong> produto. Nessa hipótese, o consumi<strong>do</strong>r po<strong>de</strong>rá pleitear <strong>do</strong> comerciante ou <strong>do</strong> fabricante (solidarieda<strong>de</strong>)<br />

um el<strong>et</strong>ro<strong>do</strong>méstico novo. O prazo para tanto é <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nci<strong>al</strong> <strong>de</strong> noventa dias, nos termos <strong>do</strong> art. 26 <strong>do</strong> CDC. Entr<strong>et</strong>anto, se nessa<br />

mesma situação o el<strong>et</strong>ro<strong>do</strong>méstico explo<strong>de</strong> e atinge o consumi<strong>do</strong>r, causan<strong>do</strong>-lhe danos morais e estéticos, estará presente o fato <strong>do</strong><br />

produto ou <strong>de</strong>feito. Na situação <strong>de</strong>scrita, a ação in<strong>de</strong>nizatória <strong>de</strong>verá ser proposta, em regra, em face <strong>do</strong> fabricante e no prazo<br />

prescricion<strong>al</strong> <strong>de</strong> cinco anos a partir da ocorrência <strong>do</strong> fato ou da ciência <strong>de</strong> uma séria <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> pelo consumi<strong>do</strong>r (art. 27 <strong>do</strong><br />

CDC).<br />

Para encerrar o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> fato <strong>do</strong> produto, po<strong>de</strong>m ser colaciona<strong>do</strong>s outros exemplos <strong>de</strong> incidência <strong>do</strong> prazo prescricion<strong>al</strong> <strong>de</strong><br />

cinco anos pela melhor jurisprudência. De início, julga<strong>do</strong> <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> Gaúcho relativo a uma faixa térmica que superaqueceu,<br />

causan<strong>do</strong> danos materiais e estéticos ao consumi<strong>do</strong>r:<br />

“Responsabilida<strong>de</strong> civil. Consumi<strong>do</strong>r. Fato <strong>do</strong> produto. Prescrição. Faixa térmica. Superaquecimento e combustão. Danos ao<br />

patrimônio e à saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Inversão <strong>do</strong> ônus da prova ope legis. Alegação <strong>de</strong> mau uso <strong>do</strong> produto. <strong>Direito</strong> <strong>de</strong> informação.<br />

Juntada <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> recurso, por <strong>al</strong>egação <strong>de</strong> fato novo. Conhecimento da matéria pela Turma. <strong>Direito</strong> à restituição<br />

<strong>do</strong> v<strong>al</strong>or pago pelo produto. In<strong>de</strong>nização por danos morais. A autora adquiriu uma faixa térmica da ré, fato confirma<strong>do</strong> pela juntada<br />

da respectiva nota fisc<strong>al</strong>. A consumi<strong>do</strong>ra colocou o produto em uso sob cobertor, vin<strong>do</strong> a causar superaquecimento, o que acarr<strong>et</strong>ou<br />

danos a seu patrimônio (queima <strong>do</strong> colchão) e à sua saú<strong>de</strong> (queimaduras leves). Corr<strong>et</strong>a a <strong>de</strong>cisão que não acolheu a arguição <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cadência, pois, a se tratar <strong>de</strong> fato <strong>do</strong> produto, o prazo prescricion<strong>al</strong> é <strong>de</strong> cinco anos, ex vi <strong>do</strong> art. 27 <strong>do</strong> CDC. A ré <strong>al</strong>ega que,<br />

diante <strong>do</strong> <strong>de</strong>poimento pesso<strong>al</strong> da autora, que admitiu ter usa<strong>do</strong> o produto sob cobertor, surgiu fato novo. Diante disso, juntou, em<br />

se<strong>de</strong> <strong>de</strong> razões recursais, o manu<strong>al</strong> <strong>do</strong> usuário <strong>do</strong> produto, o qu<strong>al</strong> adverte para que este não seja abafa<strong>do</strong>. Em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> Juiza<strong>do</strong>s<br />

Especiais, diante <strong>do</strong> princípio da inform<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>, é possível conhecer <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumento junta<strong>do</strong> em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> recurso, excepcion<strong>al</strong>mente,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se possibilite o contraditório à parte contrária. A <strong>al</strong>egação <strong>de</strong> mau uso <strong>do</strong> produto não po<strong>de</strong> ser aceita, uma vez que o<br />

<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> informação ao consumi<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s riscos à sua saú<strong>de</strong>, mesmo que <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong> manejo ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>do</strong> equipamento, não foi<br />

cumpri<strong>do</strong> (art. 12, § 1º, II, <strong>do</strong> CDC). Isso porque o manu<strong>al</strong> <strong>do</strong> usuário refere apenas que o produto nunca <strong>de</strong>verá ser abafa<strong>do</strong>, por<br />

baixo <strong>de</strong> roupas <strong>de</strong> cama, pois po<strong>de</strong>rá ocasionar superaquecimento, danifican<strong>do</strong> o produto. Essa advertência não é suficiente para<br />

informar o consumi<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s riscos à sua saú<strong>de</strong>. Restaram prova<strong>do</strong>s a aquisição e os danos, daí porque, inverti<strong>do</strong> o ônus da prova em<br />

virtu<strong>de</strong> da Lei (art. 12, caput, <strong>do</strong> CDC), cumpria à ré <strong>de</strong>monstrar a culpa exclusiva <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r e que o <strong>de</strong>feito inexiste. Não se<br />

<strong>de</strong>sincumbiu <strong>de</strong> t<strong>al</strong> mister, pois, m<strong>al</strong>feri<strong>do</strong> o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> informação, o produto é <strong>de</strong>feituoso, pois não se po<strong>de</strong>ria esperar risco à saú<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> t<strong>al</strong> gravida<strong>de</strong> apenas em função <strong>do</strong> uso ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>do</strong> produto. Sentença mantida por seus próprios fundamentos.<br />

Recurso improvi<strong>do</strong>” (TJRS – Recurso Cível 71002419166, Porto Alegre – Primeira Turma Recurs<strong>al</strong> Cível – Rel. Des. Fábio Vieira<br />

Heerdt – j. 15.07.2010 – DJERS 23.07.2010).<br />

Do Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> São Paulo, acórdão que d<strong>et</strong>erminou o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar da empresa fabricante pela explosão <strong>de</strong><br />

uma garrafa <strong>de</strong> refrigerante, aplican<strong>do</strong>-se o prazo prescricion<strong>al</strong> <strong>do</strong> art. 27:<br />

“In<strong>de</strong>nização. Danos morais e materiais. Sentença que con<strong>de</strong>nou a empresa, uma vez comprovada a ocorrência <strong>do</strong> nexo <strong>de</strong><br />

caus<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> entre o fato e dano <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> fato <strong>do</strong> produto. Explosão <strong>de</strong> garrafa <strong>de</strong> refrigerante. Hipótese, contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong> prescrição<br />

da ação nos termos <strong>do</strong> art. 27 <strong>do</strong> CDC. Ausência <strong>de</strong> elementos para uma interpr<strong>et</strong>ação mais favorável ao consumi<strong>do</strong>r. Dano <strong>de</strong><br />

caráter imediato cujo agravamento não transfere o termo inici<strong>al</strong> <strong>de</strong> contagem <strong>de</strong>sse prazo. Recurso, nesse senti<strong>do</strong>, acolhi<strong>do</strong>” (TJSP –<br />

Apelação Cível 297.806.4/6 – Acórdão 2638058, São Paulo – Quarta Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong> – Rel. Des. Teixeira Leite – j.<br />

29.05.2008 – DJESP 20.06.2008).<br />

Do Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, colaciona-se acórdão que aplicou o prazo em comento para <strong>de</strong>feito em herbicida, que<br />

prejudicou toda a safra <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r:<br />

“Responsabilida<strong>de</strong> civil. Alegação <strong>de</strong> dano por fato <strong>do</strong> produto e não <strong>de</strong> vício <strong>do</strong> produto. Ineficácia <strong>de</strong> herbicida. Prejuízo à safra.<br />

Prazo <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nci<strong>al</strong>. 5 anos. Art. 27 <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. Recurso provi<strong>do</strong> para afastar a <strong>de</strong>cadência prosseguin<strong>do</strong>-se<br />

no exame <strong>do</strong> mérito no tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> origem. 1. Diante <strong>do</strong> fundamento da inici<strong>al</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>do</strong> fato <strong>do</strong> produto, e não vício, no mau<br />

funcionamento <strong>de</strong> herbicida que, por não combater as ervas daninhas, enseja prejuízo à safra, e consequentemente, ao patrimônio <strong>do</strong><br />

usuário, o prazo <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nci<strong>al</strong> é <strong>de</strong> 5 (cinco) anos (CDC, art. 27). 2. Recurso especi<strong>al</strong> provi<strong>do</strong> para afastar preliminar <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência,<br />

<strong>de</strong>ven<strong>do</strong> o Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> origem prosseguir no julgamento <strong>de</strong> mérito” (STJ – Terceira Turma – REsp 953.187/MT – Rel. Min. Sidnei<br />

Ben<strong>et</strong>i – j. 23.06.2009 – DJe 29.06.2009).<br />

Do ano <strong>de</strong> 2015, concluiu o mesmo Tribun<strong>al</strong> da Cidadania, em aresto publica<strong>do</strong> no seu Informativo n. 557 e com clara

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