3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)
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em ger<strong>al</strong>, as informações são instantâneas e volumosas, me<strong>de</strong>m-se hoje em gigabytes. Nesse aspecto vivemos também a era da<br />
informação, ou, o que é pior, na era <strong>do</strong>s bancos <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, que assumem as mais variadas formas e fin<strong>al</strong>ida<strong>de</strong>s, como o CADIN,<br />
SERASA, SPC, SEPROC, Ví<strong>de</strong>o Cheque e Tele Cheque”. 9<br />
Não resta qu<strong>al</strong>quer dúvida <strong>de</strong> que esses cadastros contêm informações <strong>de</strong> natureza pública, não obstante sejam <strong>de</strong> empresas<br />
privadas; daí ser cabível o habeas data em t<strong>al</strong> circunstância pelo consumi<strong>do</strong>r. Nesse senti<strong>do</strong>, o art. 43, § 4.º da Lei 8.078/1990, ao<br />
prever que “os bancos <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e cadastros relativos a consumi<strong>do</strong>res, os serviços <strong>de</strong> proteção ao crédito e congêneres são<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter público”.<br />
14.3.3.<br />
<strong>Direito</strong> à r<strong>et</strong>ificação <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />
Haven<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> com fundamento na hipótese <strong>de</strong> cabimento ora an<strong>al</strong>isada, é importante observar que só po<strong>de</strong> pedir a<br />
r<strong>et</strong>ificação <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s o sujeito que tem conhecimento <strong>de</strong> quais sejam esses da<strong>do</strong>s, o que significa que não caberá cumulação <strong>de</strong><br />
pedi<strong>do</strong>s, num mesmo habeas data, <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> informações e correções <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s.<br />
Conforme <strong>de</strong>cidiu o Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, só tem direito a r<strong>et</strong>ificar da<strong>do</strong>s o sujeito que aponta d<strong>et</strong>erminada incorreção<br />
nos mesmos, e, para isso, por questão <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nte lógica, <strong>de</strong>verá ter conhecimento <strong>de</strong> quais sejam tais da<strong>do</strong>s10. Esse entendimento,<br />
entr<strong>et</strong>anto, é duramente critica<strong>do</strong> por consi<strong>de</strong>rável parcela <strong>do</strong>utrinária, que consi<strong>de</strong>ra mais a<strong>de</strong>quada, à luz <strong>do</strong> princípio da<br />
economia processu<strong>al</strong>, a elaboração <strong>de</strong> pedi<strong>do</strong>s em cumulação sucessiva num mesmo habeas data, ao invés <strong>de</strong> <strong>do</strong>is habeas data<br />
sucessivos 11 .<br />
14.3.4.<br />
Anotação sobre da<strong>do</strong> verda<strong>de</strong>iro<br />
A primeira hipótese <strong>de</strong> cabimento <strong>do</strong> habeas data limita-se à ciência, enquanto a segunda permite a r<strong>et</strong>ificação <strong>de</strong> informações<br />
incorr<strong>et</strong>as, sen<strong>do</strong> ambas previstas no texto constitucion<strong>al</strong>, conforme já an<strong>al</strong>isa<strong>do</strong>. O art. 7.º, III, da Lei 9.507/1997 inova ao criar<br />
uma terceira hipótese <strong>de</strong> cabimento, admitin<strong>do</strong>-se que o imp<strong>et</strong>rante exija que, mesmo diante da veracida<strong>de</strong> da informação<br />
constante <strong>do</strong> cadastro ou <strong>do</strong> banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, seja averbada uma contestação ou explicação sobre tais da<strong>do</strong>s, bastan<strong>do</strong> para tanto<br />
que a informação esteja sen<strong>do</strong> discutida judici<strong>al</strong>mente ou extrajudici<strong>al</strong>mente.<br />
Exemplo perfeito <strong>de</strong>ssa hipótese <strong>de</strong> cabimento diz respeito ao pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> inclusão <strong>de</strong> explicação sobre da<strong>do</strong>s constantes <strong>de</strong><br />
cadastros <strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>res (tais como Serasa, SPC <strong>et</strong>c.), quan<strong>do</strong> a dívida que <strong>de</strong>u ensejo à anotação for obj<strong>et</strong>o <strong>de</strong> questionamento,<br />
como, por exemplo, uma ação <strong>de</strong>claratória <strong>de</strong> inexistência da dívida. É natur<strong>al</strong> que, nesse caso, a parte requeira uma tutela<br />
antecipada para r<strong>et</strong>irada imediata da anotação, o que, para ela, se mostrará até mais vantajoso, mas, não haven<strong>do</strong> a concessão <strong>de</strong> t<strong>al</strong><br />
espécie <strong>de</strong> tutela, a indicação <strong>de</strong> que o pr<strong>et</strong>enso débito está sen<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser bastante útil à parte.<br />
Como bem lembra<strong>do</strong> pela <strong>do</strong>utrina, a hipótese <strong>de</strong> cabimento ora an<strong>al</strong>isada não justifica meros caprichos <strong>do</strong> imp<strong>et</strong>rante, <strong>de</strong><br />
forma que a existência <strong>de</strong> discussão judici<strong>al</strong> ou extrajudici<strong>al</strong> a respeito da informação constante <strong>do</strong>s registros públicos não é razão,<br />
por si só, para habilitar a parte ao habeas data. Como em qu<strong>al</strong>quer outra ação judici<strong>al</strong>, o autor <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>monstrar a existência <strong>de</strong><br />
interesse <strong>de</strong> agir, o que justificará a intervenção jurisdicion<strong>al</strong>. No caso específico <strong>do</strong> habeas data nessa hipótese <strong>de</strong> cabimento,<br />
haverá interesse <strong>de</strong> agir sempre que o autor <strong>de</strong>monstrar que a ausência da anotação po<strong>de</strong> lhe gerar um dano concr<strong>et</strong>o, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
materi<strong>al</strong> ou mor<strong>al</strong>12.<br />
Esse interesse <strong>de</strong> agir, entr<strong>et</strong>anto, não guarda qu<strong>al</strong>quer relação com a probabilida<strong>de</strong> e/ou serieda<strong>de</strong> com que a anotação vem<br />
sen<strong>do</strong> questionada, seja em se<strong>de</strong> judici<strong>al</strong> ou extrajudici<strong>al</strong>. Significa dizer que não caberá ao órgão jurisdicion<strong>al</strong> uma análise <strong>do</strong><br />
mérito <strong>do</strong> questionamento, nem mesmo por meio <strong>de</strong> cognição sumária, para se d<strong>et</strong>erminar se o autor tem ou não direito ao habeas<br />
data. T<strong>al</strong> exigência implicaria na criação <strong>de</strong> um obstáculo inexistente na lei e contrário ao espírito da ação constitucion<strong>al</strong> ora<br />
an<strong>al</strong>isada.<br />
14.4.<br />
14.4.1.<br />
FASE ADMINISTRATIVA<br />
Interesse <strong>de</strong> agir<br />
A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> agir, também chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> interesse processu<strong>al</strong>, está intimamente associada à utilida<strong>de</strong> da prestação<br />
jurisdicion<strong>al</strong> que se pr<strong>et</strong>en<strong>de</strong> obter com a movimentação da máquina jurisdicion<strong>al</strong>13. Cabe ao autor <strong>de</strong>monstrar que o provimento<br />
jurisdicion<strong>al</strong> pr<strong>et</strong>endi<strong>do</strong> será capaz <strong>de</strong> lhe proporcionar uma melhora em sua situação fática, o que será o suficiente para justificar o<br />
tempo, energia e dinheiro que serão gastos pelo Po<strong>de</strong>r Judiciário na resolução da <strong>de</strong>manda.<br />
Não se <strong>de</strong>ve an<strong>al</strong>isar se o autor tem ef<strong>et</strong>ivamente o direito que <strong>al</strong>ega ter e que, portanto, se sagrará vitorioso na <strong>de</strong>manda,<br />
porque esse é tema pertinente ao mérito, e não às condições da ação. O juiz <strong>de</strong>ve an<strong>al</strong>isar em abstrato e hipot<strong>et</strong>icamente se o autor,<br />
sagran<strong>do</strong>-se vitorioso, terá ef<strong>et</strong>ivamente a melhora que pr<strong>et</strong>en<strong>de</strong>u obter com o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> concessão <strong>de</strong> tutela jurisdicion<strong>al</strong> que