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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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enquadra na <strong>de</strong>finição constante no art. 2º <strong>do</strong> CDC, permitin<strong>do</strong>-se, entr<strong>et</strong>anto, a mitigação à aplicação daquela teoria, na medida em<br />

que se admite, excepcion<strong>al</strong>mente, a aplicação das normas consumeristas a d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res profissionais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>monstrada, in concr<strong>et</strong>o, a vulnerabilida<strong>de</strong> técnica, jurídica ou econômica. Nas hipóteses <strong>de</strong> inadimplemento absoluto, não se<br />

estaria no âmbito <strong>do</strong> art. 18 (e, consequentemente, <strong>do</strong> art. 26 <strong>do</strong> CDC), mas no âmbito <strong>do</strong> art. 14, que, quanto à prescrição, leva à<br />

aplicação <strong>do</strong> art. 27, com prazo <strong>de</strong> cinco anos para o exercício da pr<strong>et</strong>ensão <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Como a prescrição é a perda da<br />

pr<strong>et</strong>ensão por ausência <strong>de</strong> seu exercício pelo titular, em d<strong>et</strong>ermina<strong>do</strong> lapso <strong>de</strong> tempo, para se verificar se houve ou não prescrição é<br />

necessário constatar se nasceu ou não a pr<strong>et</strong>ensão respectiva, porquanto o prazo prescricion<strong>al</strong> só começa a fluir no momento em que<br />

nasce a pr<strong>et</strong>ensão, ou seja, quan<strong>do</strong> se constata <strong>de</strong> forma inequívoca o inadimplemento tot<strong>al</strong> da obrigação. Recurso provi<strong>do</strong>. Voto<br />

venci<strong>do</strong>: A norma consumerista somente tem aplicação quan<strong>do</strong> o contratante pu<strong>de</strong>r ser caracteriza<strong>do</strong> como <strong>de</strong>stinatário fin<strong>al</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> a aquisição <strong>de</strong> bens ou a utilização <strong>de</strong> serviços, por pessoa natur<strong>al</strong> ou jurídica, possui o escopo <strong>de</strong> implementar ou<br />

incrementar a sua ativida<strong>de</strong>-fim não se reputa como relação <strong>de</strong> consumo e, sim, como uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo intermediária,<br />

razão pela qu<strong>al</strong> não se subm<strong>et</strong>e às normas <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. A partir da vigência <strong>do</strong> novo Código Civil, o prazo<br />

prescricion<strong>al</strong> das ações <strong>de</strong> reparação <strong>de</strong> danos que não houver atingi<strong>do</strong> a m<strong>et</strong>a<strong>de</strong> <strong>do</strong> tempo previsto no Código Civil <strong>de</strong> 1916 fluirá<br />

por inteiro, nos termos da nova Lei (art. 206) (Des. Electra Benevi<strong>de</strong>s)” (TJMG – Apelação Cível 1.0024.06.207799-5/0011, Belo<br />

Horizonte – Décima Câmara Cível – Rel. Des. Cabr<strong>al</strong> da Silva – j. 02.06.2009 – DJEMG 23.06.2009).<br />

3.3.2.<br />

Serviço<br />

Estabelece o art. 3º, § 2º, que o serviço é qu<strong>al</strong>quer ativida<strong>de</strong> fornecida no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> consumo, mediante remuneração,<br />

inclusive as <strong>de</strong> natureza bancária, financeira, <strong>de</strong> crédito e securitária, s<strong>al</strong>vo as <strong>de</strong>correntes das relações <strong>de</strong> caráter trab<strong>al</strong>hista.<br />

De início, cumpre esclarecer que, apesar <strong>de</strong> a lei mencionar expressamente a remuneração, dan<strong>do</strong> um caráter oneroso ao<br />

negócio, admite-se que o presta<strong>do</strong>r tenha vantagens indir<strong>et</strong>as, sem que isso prejudique a qu<strong>al</strong>ificação da relação consumerista.<br />

Como primeiro exemplo, invoca-se o caso <strong>do</strong> estacionamento gratuito em lojas, shoppings centers, supermerca<strong>do</strong>s e afins,<br />

respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a empresa que é beneficiada pelo serviço, que serve como atrativo aos consumi<strong>do</strong>res. Dessa forma, concluin<strong>do</strong> pela<br />

presença <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s, da jurisprudência:<br />

“In<strong>de</strong>nização por danos materiais. Furto em estacionamento. Legitimida<strong>de</strong> passiva <strong>do</strong> supermerca<strong>do</strong>. Terceirização <strong>do</strong><br />

estacionamento. Irrelevância. Exoneração <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s estabelecida entre o supermerca<strong>do</strong> e a empresa terceirizada não po<strong>de</strong><br />

ser oposta ao consumi<strong>do</strong>r. Solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> lei. Furto Comprova<strong>do</strong>. A disponibilização <strong>de</strong> estacionamento visa angariar a<br />

clientela, ensejan<strong>do</strong> a configuração <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito irregular e consequente <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> guarda e vigilância, pouco importan<strong>do</strong> tratar-se <strong>de</strong><br />

estacionamento gratuito. Lucros cessantes afasta<strong>do</strong>s. Dano materi<strong>al</strong> correspon<strong>de</strong>nte ao v<strong>al</strong>or <strong>do</strong> veículo furta<strong>do</strong>. Sentença<br />

parci<strong>al</strong>mente proce<strong>de</strong>nte. Recurso não provi<strong>do</strong>” (TJSP – Apelação 0097300-21.2007.8.26.0000 – Acórdão 4895504, São Paulo –<br />

Décima Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong> – Rel. Des. Antonio Manssur – j. 18.11.2010 – DJESP 24.02.2011).<br />

“Civil. Apelação. Ação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização. Furto <strong>de</strong> motocicl<strong>et</strong>a em supermerca<strong>do</strong>. Responsabilida<strong>de</strong> civil da empresa configurada.<br />

Dever <strong>de</strong> guarda e vigilância. Dano materi<strong>al</strong>. Arts. 14 e 29 <strong>do</strong> CDC. Aplicação. In<strong>de</strong>nização cabível. Súmula 130 <strong>do</strong> STJ. Dever <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>nizar. Responsabilida<strong>de</strong> civil <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Não configuração. Recurso conheci<strong>do</strong> e não provi<strong>do</strong>. O estabelecimento que permite,<br />

mesmo a título gratuito, o estacionamento <strong>de</strong> veículo em seu pátio, tem responsabilida<strong>de</strong> pela guarda e vigilância <strong>do</strong> bem, e<br />

respon<strong>de</strong> por qu<strong>al</strong>quer dano causa<strong>do</strong>. Nos termos <strong>do</strong> art. 14 <strong>do</strong> CDC, o fornece<strong>do</strong>r <strong>de</strong> serviços ou <strong>de</strong> produtos respon<strong>de</strong> para com o<br />

consumi<strong>do</strong>r em caso <strong>de</strong> dano, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> culpa. A teor <strong>do</strong> art. 29 <strong>do</strong> CDC, equiparam-se aos consumi<strong>do</strong>res todas as<br />

pessoas d<strong>et</strong>ermináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. O furto <strong>de</strong> veículo em estacionamento privativo <strong>de</strong> empresa gera a<br />

obrigação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar conforme prevê a Súmula 130 <strong>do</strong> STJ. Não há como imputar ao Esta<strong>do</strong> a responsabilida<strong>de</strong> por prejuízo<br />

sofri<strong>do</strong> pelo furto ocorri<strong>do</strong> em estacionamento priva<strong>do</strong> <strong>de</strong> supermerca<strong>do</strong>. Recurso conheci<strong>do</strong> e não provi<strong>do</strong>” (TJMG – Apelação<br />

Cível 1.0702.06.285022-8/0011, Uberlândia – Décima Sétima Câmara Cível – Rel. Des. Márcia <strong>de</strong> Paoli B<strong>al</strong>bino – j. 24.04.2008 –<br />

DJEMG 09.05.2008).<br />

Como se r<strong>et</strong>ira da última ementa, o conceito <strong>de</strong> consumi<strong>do</strong>r equipara<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>do</strong> para se chegar à mesma <strong>de</strong>dução <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong>. A<strong>de</strong>mais, não faz a jurisprudência distinção a respeito <strong>de</strong> ter ou não o consumi<strong>do</strong>r ef<strong>et</strong>ua<strong>do</strong> compras no loc<strong>al</strong>,<br />

haven<strong>do</strong> sempre a responsabilida<strong>de</strong> da empresa, nos termos da Súmula 130 <strong>do</strong> STJ. Nesse senti<strong>do</strong>:<br />

“<strong>Direito</strong> civil. Responsabilida<strong>de</strong> civil. Furto em estacionamento. Shopping center. Veículo pertencente a possível loca<strong>do</strong>r <strong>de</strong> unida<strong>de</strong><br />

comerci<strong>al</strong>. Existência <strong>de</strong> vigilância no loc<strong>al</strong>. Obrigação <strong>de</strong> guarda. In<strong>de</strong>nização <strong>de</strong>vida. Prece<strong>de</strong>ntes. Recurso provi<strong>do</strong>. I. Nos termos<br />

<strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> n. 130/STJ, ‘a empresa respon<strong>de</strong>, perante o cliente, pela reparação <strong>de</strong> dano ou furto <strong>de</strong> veículo ocorri<strong>do</strong>s em seu<br />

estacionamento’. II. A jurisprudência <strong>de</strong>ste Tribun<strong>al</strong> não faz distinção entre o consumi<strong>do</strong>r que ef<strong>et</strong>ua compra e aquele que apenas vai<br />

ao loc<strong>al</strong> sem nada <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r. Em ambos os casos, enten<strong>de</strong>-se pelo cabimento da in<strong>de</strong>nização em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> furto <strong>de</strong> veículo. A<br />

responsabilida<strong>de</strong> pela in<strong>de</strong>nização não <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> contrato <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito, mas da obrigação <strong>de</strong> zelar pela guarda e segurança <strong>do</strong>s<br />

veículos estaciona<strong>do</strong>s no loc<strong>al</strong>, presumivelmente seguro” (STJ – REsp 437.649/SP – Quarta Turma – Rel. Min. Sálvio <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong><br />

Teixeira – j. 06.02.2003 – DJ 24.02.2003, p. 242).<br />

Outro exemplo que envolve as vantagens indir<strong>et</strong>as ao presta<strong>do</strong>r é o sistema <strong>de</strong> milhagens ou <strong>de</strong> pontuação em companhias

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