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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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Atu<strong>al</strong>mente, com a justificativa da coisa julgada secundum eventum litis in utilibus, não há maiores preocupações com a perda<br />

<strong>de</strong> energia, tempo e dinheiro <strong>de</strong> um processo col<strong>et</strong>ivo fada<strong>do</strong> ao insucesso em razão <strong>do</strong> <strong>de</strong>spreparo e/ou má-fé <strong>do</strong> autor. No sistema<br />

sugeri<strong>do</strong>, o sujeito continuaria a po<strong>de</strong>r discutir em ação individu<strong>al</strong> seu direito, mesmo diante <strong>do</strong> insucesso <strong>de</strong> uma ação col<strong>et</strong>iva,<br />

mas como a a<strong>de</strong>quação da representação passaria a ser an<strong>al</strong>isada em concr<strong>et</strong>o, as chances <strong>de</strong> isso ocorrer seriam bem menores, o<br />

que po<strong>de</strong>ria até mesmo servir <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestímulo à propositura <strong>de</strong> ações individuais. Atu<strong>al</strong>mente, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong><br />

direito re<strong>al</strong>izada pelo autor da ação col<strong>et</strong>iva, o direito individu<strong>al</strong> não suporta o seu insucesso, não existin<strong>do</strong> qu<strong>al</strong>quer razão para que<br />

o indivíduo <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ingressar com ação individu<strong>al</strong> na busca da tutela <strong>de</strong> seu direito.<br />

Só enten<strong>do</strong> que esse não é o sistema a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo legisla<strong>do</strong>r pátrio e que, por isso, somente uma mudança legislativa permitiria<br />

sua a<strong>do</strong>ção 147 . E não f<strong>al</strong>taram tentativas para que se chegasse a esse obj<strong>et</strong>ivo. Tanto no Proj<strong>et</strong>o <strong>de</strong> Lei <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Processo Civil<br />

Col<strong>et</strong>ivo, como no <strong>de</strong> mudança da ação civil pública, estava consagrada a representação a<strong>de</strong>quada ope iudicis, mas nenhum <strong>de</strong>sses<br />

proj<strong>et</strong>os vingou no Congresso Nacion<strong>al</strong>. No mesmo senti<strong>do</strong> o art. 3.º <strong>do</strong> Código Mo<strong>de</strong>lo da Ibero-América.<br />

11.4.5.4.5.<br />

Legitimida<strong>de</strong> extraordinária ou representação processu<strong>al</strong>?<br />

O Supremo Tribun<strong>al</strong> Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong> foi chama<strong>do</strong> a <strong>de</strong>cidir, em recurso extraordinário rep<strong>et</strong>itivo, sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeitos não<br />

pertencentes à associação autora da ação col<strong>et</strong>iva, que tem como obj<strong>et</strong>o direito individu<strong>al</strong> homogêneo, po<strong>de</strong>rem se aproveitar da<br />

sentença <strong>de</strong> procedência da ação col<strong>et</strong>iva. Em t<strong>al</strong> julgamento, entr<strong>et</strong>anto, o Supremo Tribun<strong>al</strong> Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong> proferiu <strong>de</strong>cisão ainda mais<br />

ampla, já que não versa somente sobre a legitimida<strong>de</strong> ativa da associação em executar a sentença col<strong>et</strong>iva em favor <strong>de</strong> indivíduos,<br />

mas também estabelece condições para a sua atuação no polo ativo da ação col<strong>et</strong>iva148.<br />

Em equivocada interpr<strong>et</strong>ação <strong>do</strong> art. 5.º, XXI, da CF, o Supremo Tribun<strong>al</strong> Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong> <strong>de</strong>cidiu que as associações <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

autorização expressa <strong>de</strong> seus associa<strong>do</strong>s para a propositura da ação col<strong>et</strong>iva, o que po<strong>de</strong> ocorrer individu<strong>al</strong>mente por manifestação<br />

expressa <strong>de</strong> seus associa<strong>do</strong>s ou por aprovação da propositura da ação em assembleia ger<strong>al</strong>.<br />

A <strong>de</strong>cisão é incorr<strong>et</strong>a porque confun<strong>de</strong> in<strong>de</strong>vidamente os institutos da substituição processu<strong>al</strong> (quan<strong>do</strong> a associação atua em<br />

nome próprio em favor <strong>do</strong>s interesses <strong>de</strong> terceiros) com a representação processu<strong>al</strong> (quan<strong>do</strong> a associação atua em nome <strong>de</strong> seus<br />

associa<strong>do</strong>s em favor <strong>de</strong> seus interesses) 149 .<br />

Segun<strong>do</strong> o dispositivo leg<strong>al</strong> constitucion<strong>al</strong>, “as entida<strong>de</strong>s associativas, quan<strong>do</strong> expressamente autorizadas, têm legitimida<strong>de</strong><br />

para representar seus filia<strong>do</strong>s judici<strong>al</strong> ou extrajudici<strong>al</strong>mente”. Ainda que o dispositivo não possa ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um primor <strong>de</strong><br />

redação legislativa, ao apontar expressamente para a representação <strong>de</strong> seus filia<strong>do</strong>s em juízo, trata <strong>de</strong> hipótese <strong>de</strong> representação<br />

processu<strong>al</strong>, e não <strong>de</strong> substituição processu<strong>al</strong>. O art. 5.º, XXI, da CF, portanto, apesar <strong>de</strong> prever expressamente sobre a legitimida<strong>de</strong><br />

da associação, versa claramente sobre a representação processu<strong>al</strong>, e somente nesse senti<strong>do</strong> po<strong>de</strong>ria ser exigida a autorização <strong>de</strong> seus<br />

associa<strong>do</strong>s para atuar em favor <strong>de</strong> seus direitos.<br />

Para fins <strong>de</strong> atuação da associação na execução da sentença col<strong>et</strong>iva, até se po<strong>de</strong> admitir sua participação como representante<br />

processu<strong>al</strong> <strong>do</strong> indivíduo beneficia<strong>do</strong>, já que nesse caso estará <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> numa execução individu<strong>al</strong> um direito da mesma natureza,<br />

conforme <strong>de</strong>vidamente exposto no Capítulo 16.4.3. No entanto, para fins <strong>de</strong> participação no polo ativo da ação col<strong>et</strong>iva, não é o art.<br />

5.º, XXI, da CF que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> para d<strong>et</strong>erminar as condições <strong>de</strong> atuação da associação, mas sim os arts. 5.º, V, da Lei<br />

7.347/1985 e 82, IV, da Lei 8.078/1990.<br />

Significa que a legitimação da associação para a propositura da ação col<strong>et</strong>iva não exige qu<strong>al</strong>quer preenchimento <strong>de</strong> requisito<br />

constitucion<strong>al</strong>, bastan<strong>do</strong> a comprovação <strong>de</strong> sua existência jurídica há mais <strong>de</strong> um ano e a pertinência temática.<br />

Infelizmente, entr<strong>et</strong>anto, como, inclusive, já era <strong>de</strong> esperar, a equivocada <strong>de</strong>cisão, proferida em recurso especi<strong>al</strong> subm<strong>et</strong>i<strong>do</strong> a<br />

julgamento <strong>de</strong> recurso rep<strong>et</strong>itivo, logo passou a ser utilizada como razão <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir a questão no Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, que<br />

passou a exigir para fins <strong>de</strong> atuação da associação no polo ativo da ação col<strong>et</strong>iva a autorização expressa <strong>de</strong> seus associa<strong>do</strong>s150.<br />

Interessante notar que ainda existem <strong>de</strong>cisões daquele tribun<strong>al</strong>, mesmo posteriores ao prece<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Supremo Tribun<strong>al</strong> Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong>, que<br />

continuam a enten<strong>de</strong>r pela <strong>de</strong>snecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autorização expressa <strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s 151 .<br />

Criou-se nos tribunais superiores uma situação peculiar. Caso se reconheça, como tais tribunais vêm fazen<strong>do</strong>, que a atuação da<br />

associação no polo ativo da ação col<strong>et</strong>iva <strong>de</strong>ve ser admitida somente nos termos <strong>do</strong> art. 5.º, XXI, da CF, não há mais senti<strong>do</strong> em<br />

f<strong>al</strong>ar em legitimida<strong>de</strong> extraordinária, porque o dispositivo claramente trata <strong>de</strong> representação processu<strong>al</strong>. Curiosamente, entr<strong>et</strong>anto,<br />

os tribunais continuam a consi<strong>de</strong>rar o fenômeno como <strong>de</strong> legitimação processu<strong>al</strong>, afirman<strong>do</strong> que sem a autorização expressa <strong>de</strong><br />

seus associa<strong>do</strong>s f<strong>al</strong>ta legitimida<strong>de</strong> à associação para a propositura da ação col<strong>et</strong>iva 152 .<br />

Partin<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>ssa incorr<strong>et</strong>a premissa criada pelos tribunais superiores, a autorização expressa <strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s passa a ser mais<br />

um requisito para a associação ter legitimida<strong>de</strong> ativa na propositura da ação col<strong>et</strong>iva, ao la<strong>do</strong> da existência jurídica há pelo menos<br />

um ano e da pertinência temática.<br />

O equivoca<strong>do</strong> entendimento tem um efeito prático perverso, porque, a partir <strong>do</strong> momento em que se enten<strong>de</strong> que a legitimida<strong>de</strong>

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