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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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Primeira Câmara Cível – Rel. Designa<strong>do</strong> Des. Maurício Barros – j. 22.05.2006 – DJMG 21.07.2006).<br />

Tem-se inici<strong>al</strong>mente a culpa ou o fato exclusivo <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r quan<strong>do</strong> ele <strong>de</strong>srespeita as normas regulares <strong>de</strong> utilização <strong>do</strong><br />

produto constantes <strong>do</strong> seu manu<strong>al</strong> <strong>de</strong> instruções, muitas vezes por sequer ter li<strong>do</strong> o seu conteú<strong>do</strong>.<br />

Outro caso típico em que há risco exclusivo assumi<strong>do</strong> pelo consumi<strong>do</strong>r ocorre no surfismo ferroviário, prática que foi muito<br />

comum em São Paulo e no Rio <strong>de</strong> Janeiro, presente quan<strong>do</strong> <strong>al</strong>guém, por ato <strong>de</strong> aventura ou <strong>de</strong>safio, viaja em cima <strong>do</strong> vagão <strong>do</strong><br />

trem, o que exclui a responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva <strong>do</strong> transporta<strong>do</strong>r, típica prestação <strong>de</strong> serviço (nesse senti<strong>do</strong>: STJ – REsp 160.051/RJ<br />

– Terceira Turma – Rel. Min. Antônio <strong>de</strong> Pádua Ribeiro – j. 05.12.2002 – DJ 17.02.2003, p. 268; e STJ – REsp 261.027/RJ –<br />

Quarta Turma – Rel. Min. Barros Monteiro – j. 19.04.2001 – DJ 13.08.2001, p. 164).<br />

A respeito da culpa exclusiva da vítima, por <strong>de</strong>srespeito a norma regulamentar contratu<strong>al</strong>, é comum a sua a<strong>do</strong>ção para afastar a<br />

responsabilida<strong>de</strong> civil <strong>do</strong> médico, quan<strong>do</strong> o paciente não toma as <strong>de</strong>vidas medidas para a sua recuperação ou para o sucesso da<br />

intervenção. A título <strong>de</strong> exemplo, vejamos interessante julga<strong>do</strong> <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> Gaúcho, que aplicou a premissa diante <strong>do</strong> uso <strong>do</strong><br />

tabaco por parte da paciente médica <strong>de</strong> cirurgia plástica estética ou embeleza<strong>do</strong>ra:<br />

“Apelação cível. Ação monitória. Re<strong>al</strong>ização <strong>de</strong> cirurgia plástica embeleza<strong>do</strong>ra. Obrigação <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>. Ausência <strong>de</strong> nexo caus<strong>al</strong>.<br />

Culpa exclusiva da paciente. Uso indiscrimina<strong>do</strong> <strong>de</strong> tabaco. Não haven<strong>do</strong> o reconhecimento na ação in<strong>de</strong>nizatória (n. 1.06.0000582-<br />

0) proposta pela parte <strong>de</strong>mandada (paciente) <strong>de</strong> <strong>de</strong>feito na prestação <strong>do</strong> serviço presta<strong>do</strong> por parte <strong>do</strong> autor (médico) e diante da<br />

prova inequívoca da re<strong>al</strong>ização <strong>de</strong> cirurgia e <strong>do</strong> acerto <strong>do</strong> v<strong>al</strong>or da mesma entre as partes, justo se faz o pagamento da dívida<br />

existente por parte da ora apelante. Apelo <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong>. Unânime” (TJRS – Apelação Cível 70036200970, Bagé – Quinta Câmara<br />

Cível – Rel. Des. Gelson Rolim Stockerm – j. 28.05.2010 – DJERS 09.06.2010).<br />

Pelo mesmo caminho, quan<strong>do</strong> um frequenta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> casa noturna causa exclusivamente a confusão que gera a agressão física,<br />

não há que se f<strong>al</strong>ar em responsabilida<strong>de</strong> civil <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> lazer. Vejamos, nesse diapasão, acórdão <strong>do</strong> Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong><br />

Minas Gerais:<br />

“Apelação cível. Responsabilida<strong>de</strong> civil. Danos morais. Tumulto em casa noturna. R<strong>et</strong>irada <strong>do</strong> autor. Agressão física. Legítima<br />

<strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>monstrada. Relação <strong>de</strong> consumo. Culpa exclusiva da vítima. Improcedência <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> que se impõe. A responsabilida<strong>de</strong><br />

civil <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> serviços por f<strong>al</strong>ha na prestação <strong>de</strong> serviços se sujeita aos preceitos <strong>do</strong> art. 14, <strong>do</strong> CDC, sen<strong>do</strong> certo o <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar se ele não provar a ocorrência <strong>de</strong> <strong>al</strong>guma causa exclu<strong>de</strong>nte da responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva, como a culpa exclusiva <strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r ou <strong>de</strong> terceiro, ou que inexiste o <strong>de</strong>feito ou f<strong>al</strong>ha na prestação <strong>do</strong> serviço. Ten<strong>do</strong> em vista que o conjunto fáticoprobatório<br />

<strong>do</strong>s autos comprovou que a parte autora causou tumulto em casa noturna, e que, por isso, foi r<strong>et</strong>ira<strong>do</strong> <strong>do</strong> loc<strong>al</strong> pelos<br />

seguranças, não há f<strong>al</strong>ar em conduta imotivada <strong>do</strong>s prepostos da ré. Se da prova testemunh<strong>al</strong> colhida <strong>de</strong>monstrou, também, que o<br />

autor investiu contra o chefe <strong>de</strong> segurança da ré, que, para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>sferiu-lhe um golpe, a solução <strong>de</strong> rigor é a improcedência<br />

<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong>, haja vista a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> que os fatos se <strong>de</strong>ram por culpa exclusiva <strong>do</strong> requerente, e, sob a ótica <strong>do</strong> CDC, presente a<br />

exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> serviços” (TJMG – Apelação Cível 4997061-38.2009.8.13.0024, Belo Horizonte –<br />

Décima Sétima Câmara Cível – Rel. Des. Luciano Pinto – j. 13.01.2011 – DJEMG 01.02.2011).<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, enten<strong>de</strong>-se que se o correntista bancário não guardar <strong>de</strong>vidamente o seu cartão magnético ficará evi<strong>de</strong>nte a<br />

sua culpa exclusiva, a excluir eventu<strong>al</strong> responsabilida<strong>de</strong> por vício ou fato <strong>do</strong> serviço. Do Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> São Paulo:<br />

“Responsabilida<strong>de</strong> civil. Danos morais e materiais. Saques em conta corrente. Cartão magnético e senha utiliza<strong>do</strong>s por terceiro.<br />

Furto ocorri<strong>do</strong> na residência <strong>do</strong>s autores. Culpa exclusiva da vítima. Em que pese, regra ger<strong>al</strong>, a incidência <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong><br />

Consumi<strong>do</strong>r sobre a relação jurídica travada entre instituição financeira e correntista, o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar é afasta<strong>do</strong> se o substrato<br />

probatório e fático <strong>do</strong>s autos comprovar que o correntista não zelou pela guarda segura <strong>de</strong> seu cartão e <strong>de</strong> sua senha pesso<strong>al</strong>,<br />

oportunizan<strong>do</strong>, com isto, a atuação <strong>de</strong> terceiro frauda<strong>do</strong>r. Ação improce<strong>de</strong>nte. Recurso não provi<strong>do</strong>” (TJSP – Apelação<br />

990.10.263689-5 – Acórdão 4815381, Itápolis – Vigésima Primeira Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong> – Rel. Des. Itamar Gaino – j.<br />

10.11.2010 – DJESP 07.12.2010).<br />

Igu<strong>al</strong>mente a título <strong>de</strong> ilustração, se o próprio consumi<strong>do</strong>r fizer inst<strong>al</strong>ações irregulares e em <strong>de</strong>sacor<strong>do</strong> com a legislação<br />

vigente, a causar refluxo no esgoto e danifican<strong>do</strong> móveis e utensílios, presente está a culpa exclusiva da vítima, a afastar o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>nizar <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> serviço correspon<strong>de</strong>nte (TJSP – Apelação 992.05.060392-1 – Acórdão 4355202, Bauru – Trigésima<br />

Segunda Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong> – Rel. Des. W<strong>al</strong>ter Zeni – j. 04.03.2010 – DJESP 31.03.2010). A <strong>de</strong>dução <strong>de</strong>ve ser a mesma<br />

se o consumi<strong>do</strong>r fraudar o serviço público, caso da energia elétrica (popular gato). Todavia, <strong>de</strong>ve ficar claro que o ônus <strong>de</strong> t<strong>al</strong><br />

comprovação cabe ao presta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> serviço (por to<strong>do</strong>s: TJBA – Recurso Cível 0004662-71.2008.805.0079-1 – Terceira Turma<br />

Recurs<strong>al</strong> – Rel. Juiz B<strong>al</strong>tazar Miranda Saraiva – DJBA 28.10.2010).<br />

Como último exemplo contemporâneo relativo à culpa ou fato exclusivo <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, no caso <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> dívida, é<br />

perfeitamente lícita a inscrição <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r em cadastro <strong>de</strong> inadimplentes, o que constitui exercício regular <strong>de</strong> direito por<br />

parte <strong>do</strong> cre<strong>do</strong>r. Como t<strong>al</strong> exclu<strong>de</strong>nte não consta expressamente <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r, ao contrário <strong>do</strong> que ocorre

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