3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
conclusão sociológica (por to<strong>do</strong>s: STJ – AgRg no REsp 1.235.440/RS – Rel. Min. Luis Felipe S<strong>al</strong>omão – Quarta Turma – j.<br />
05.09.2013 – DJe 16.09.2013; AgRg no AREsp 102.550/PE – Rel. Min. Maria Isabel G<strong>al</strong>lotti – Quarta Turma – j. 06.08.2013 –<br />
DJe 16.08.2013 e REsp 1.364.775/MG – Rel. Min. Nancy Andrighi – Terceira Turma – j. 20.06.2013 – DJe 28.06.2013).<br />
Seguin<strong>do</strong> nas ilustrações, ainda <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, na mesma linha <strong>de</strong> justa <strong>de</strong>cisão, conclui-se pela presença <strong>de</strong><br />
cobertura relativa ao marca-passo em instrumento com cláusula <strong>de</strong>masiadamente ampla, aplican<strong>do</strong>-se a justiça esperada:<br />
“Agravo regiment<strong>al</strong>. Seguro. Plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Negativa <strong>de</strong> prestação jurisdicion<strong>al</strong>. Não ocorrência. Fornecimento <strong>de</strong> marca-passo.<br />
Cláusula ampla. Interpr<strong>et</strong>ação favorável ao consumi<strong>do</strong>r. Art. 47 <strong>do</strong> CDC. Fundamento inataca<strong>do</strong>. Súmula STF/283. I. Ten<strong>do</strong><br />
encontra<strong>do</strong> motivação suficiente para fundar a <strong>de</strong>cisão, não fica o Órgão julga<strong>do</strong>r obriga<strong>do</strong> a respon<strong>de</strong>r, um a um, os<br />
questionamentos suscita<strong>do</strong>s pelas partes, mormente se notório seu propósito <strong>de</strong> infringência <strong>do</strong> julga<strong>do</strong>. II. Examinan<strong>do</strong> o contrato<br />
firma<strong>do</strong> entre as partes concluiu o Colegia<strong>do</strong> estadu<strong>al</strong> que o fornecimento <strong>de</strong> marcapasso não estaria excluí<strong>do</strong> <strong>de</strong> cobertura. Isso<br />
porque, tratan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> cláusula <strong>de</strong>masiadamente ampla, inserida em contrato <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, sua interpr<strong>et</strong>ação <strong>de</strong>veria ser feita da maneira<br />
mais favorável ao consumi<strong>do</strong>r, em consonância com o art. 47 <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. III. Esse fundamento, suficiente,<br />
por si só, para manter a conclusão <strong>do</strong> julga<strong>do</strong>, não foi impugna<strong>do</strong> nas razões <strong>do</strong> especi<strong>al</strong>, atrain<strong>do</strong>, à hipótese, a aplicação da Súmula<br />
283 <strong>do</strong> Supremo Tribun<strong>al</strong> Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong>. Agravo improvi<strong>do</strong>” (STJ – AgRg-Ag 1.002.040/RS – Terceira Turma – Rel. Min. Sidnei Ben<strong>et</strong>i –<br />
j. 19.06.2008 – DJe 01.07.2008).<br />
Na mesma esteira, <strong>de</strong>duz o Tribun<strong>al</strong> da Cidadania que é abusiva a negativa <strong>do</strong> plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em cobrir as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong><br />
intervenção cirúrgica <strong>de</strong> gastroplastia, necessária à garantia da sobrevivência <strong>do</strong> segura<strong>do</strong> acom<strong>et</strong>i<strong>do</strong> por obesida<strong>de</strong> mórbida.<br />
Conforme po<strong>de</strong> ser r<strong>et</strong>ira<strong>do</strong> <strong>de</strong> aresto publica<strong>do</strong> no seu Informativo n. 510, “a gastroplastia, indicada para o tratamento da obesida<strong>de</strong><br />
mórbida, bem como <strong>de</strong> outras <strong>do</strong>enças <strong>de</strong>la <strong>de</strong>rivadas, constitui cirurgia essenci<strong>al</strong> à preservação da vida e da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> paciente<br />
segura<strong>do</strong>, não se confundin<strong>do</strong> com simples tratamento para emagrecimento. Os contratos <strong>de</strong> seguro-saú<strong>de</strong> são contratos <strong>de</strong> consumo<br />
subm<strong>et</strong>i<strong>do</strong>s a cláusulas contratuais gerais, ocorren<strong>do</strong> a sua aceitação por simples a<strong>de</strong>são pelo segura<strong>do</strong>. Nesses contratos, as<br />
cláusulas seguem as regras <strong>de</strong> interpr<strong>et</strong>ação <strong>do</strong>s negócios jurídicos estandardiza<strong>do</strong>s, ou seja, existin<strong>do</strong> cláusulas ambíguas ou<br />
contraditórias, <strong>de</strong>ve ser aplicada a interpr<strong>et</strong>ação mais favorável ao a<strong>de</strong>rente, conforme o art. 47 <strong>do</strong> CDC. Assim, a cláusula<br />
contratu<strong>al</strong> <strong>de</strong> exclusão da cobertura securitária para casos <strong>de</strong> tratamento estético <strong>de</strong> emagrecimento prevista no contrato <strong>de</strong> segurosaú<strong>de</strong><br />
não abrange a cirurgia para tratamento <strong>de</strong> obesida<strong>de</strong> mórbida. Prece<strong>de</strong>ntes cita<strong>do</strong>s: REsp 1.175.616/MT, DJe 4/3/2011; AgRg<br />
no AREsp 52.420/MG, DJe 12/12/2011; REsp 311.509/SP, DJ 25/6/2001, e REsp 735.750/SP, DJe 16/2/2012” (STJ – REsp<br />
1.249.701/SC – Rel. Min. Paulo <strong>de</strong> Tarso Sanseverino – j. 04.12.2012).<br />
Em senti<strong>do</strong> próximo, <strong>do</strong> mesmo Tribun<strong>al</strong> Superior, presentes divergências entre os <strong>do</strong>cumentos entregues ao segura<strong>do</strong>,<br />
enten<strong>de</strong>u-se pela prev<strong>al</strong>ência da cobertura <strong>do</strong> seguro por inv<strong>al</strong>i<strong>de</strong>z em v<strong>al</strong>or superior, por ser a interpr<strong>et</strong>ação mais benéfica ao<br />
segura<strong>do</strong>-consumi<strong>do</strong>r. Na espécie, aplicou-se ainda o art. 46 <strong>do</strong> CDC, por último estuda<strong>do</strong>, em interação ef<strong>et</strong>iva com o art. 47 da<br />
mesma norma:<br />
“<strong>Direito</strong> <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Contrato <strong>de</strong> seguro. Inv<strong>al</strong>i<strong>de</strong>z permanente. V<strong>al</strong>or da in<strong>de</strong>nização. Divergência entre os <strong>do</strong>cumentos<br />
entregues ao segura<strong>do</strong>. Prev<strong>al</strong>ência <strong>do</strong> entregue quan<strong>do</strong> da contratação. Cláusula limitativa da cobertura. Não incidência. Arts. 46 e<br />
47 da Lei 8.078/1990. Doutrina. Prece<strong>de</strong>nte. Recurso provi<strong>do</strong>. I. Haven<strong>do</strong> divergência no v<strong>al</strong>or in<strong>de</strong>nizatório a ser pago entre os<br />
<strong>do</strong>cumentos emiti<strong>do</strong>s pela segura<strong>do</strong>ra, <strong>de</strong>ve prev<strong>al</strong>ecer aquele entregue ao consumi<strong>do</strong>r quan<strong>do</strong> da contratação (‘certifica<strong>do</strong><br />
individu<strong>al</strong>’), e não o envia<strong>do</strong> posteriormente, em que consta cláusula restritiva (condições gerais). II. Nas relações <strong>de</strong> consumo, o<br />
consumi<strong>do</strong>r só se vincula às disposições contratuais em que, previamente, lhe é dada a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prévio conhecimento, nos<br />
termos <strong>do</strong> art. 46 <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. III. As informações prestadas ao consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong>vem ser claras e precisas, <strong>de</strong><br />
mo<strong>do</strong> a possibilitar a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha na contratação <strong>de</strong> produtos e serviços. A<strong>de</strong>mais, na linha <strong>do</strong> art. 54, § 4º da Lei<br />
8.078/1990, <strong>de</strong>vem ser redigidas em <strong>de</strong>staque as cláusulas que importem em exclusão ou restrição <strong>de</strong> direitos” (STJ – REsp<br />
485760/RJ – Quarta Turma – Rel. Min. Sálvio <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> Teixeira – j. 17.06.2003 – DJU 01.03.2004, p. 186).<br />
Merece <strong>de</strong>staque, igu<strong>al</strong>mente, o julgamento superior que interpr<strong>et</strong>ou extensivamente cláusula <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a<br />
fim <strong>de</strong> incluir filho da segurada <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, abarcan<strong>do</strong> também a tutela da família constante <strong>do</strong> art. 226 da Constituição Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong>.<br />
Nos termos da publicação constante <strong>do</strong> Informativo n. 520 <strong>do</strong> STJ, “no caso em que o contrato <strong>de</strong> seguro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> preveja<br />
automática cobertura para d<strong>et</strong>erminadas lesões que acom<strong>et</strong>am o filho <strong>de</strong> ‘segurada’ nasci<strong>do</strong> durante a vigência <strong>do</strong> pacto, <strong>de</strong>ve ser<br />
garantida a referida cobertura, não apenas ao filho da ‘segurada titular’, mas também ao filho <strong>de</strong> ‘segurada <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte’. Tratan<strong>do</strong>se,<br />
nessa hipótese, <strong>de</strong> relação <strong>de</strong> consumo instrument<strong>al</strong>izada por contrato <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, as cláusulas contratuais, redigidas pela própria<br />
segura<strong>do</strong>ra, <strong>de</strong>vem ser interpr<strong>et</strong>adas da forma mais favorável à outra parte, que figura como consumi<strong>do</strong>ra a<strong>de</strong>rente, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o<br />
que dispõe o art. 47 <strong>do</strong> CDC. Assim, <strong>de</strong>ve-se enten<strong>de</strong>r que a expressão ‘segurada’ abrange também a ‘segurada <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte’, não se<br />
restringin<strong>do</strong> à ‘segurada titular’. Com efeito, caso a segura<strong>do</strong>ra pr<strong>et</strong>en<strong>de</strong>sse restringir o campo <strong>de</strong> abrangência da cláusula<br />
contratu<strong>al</strong>, haveria <strong>de</strong> especificar ser esta aplicável apenas à titular <strong>do</strong> seguro contrata<strong>do</strong>” (STJ – REsp 1.133.338/SP – Rel. Min.<br />
Paulo <strong>de</strong> Tarso Sanseverino – j. 02.04.2013).