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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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ativa na ação col<strong>et</strong>iva da associação está condicionada à autorização expressa <strong>de</strong> seus associa<strong>do</strong>s, é natur<strong>al</strong> a conclusão <strong>de</strong> que a<br />

ação só possa aproveitar a quem era associa<strong>do</strong> no momento da propositura da <strong>de</strong>manda judici<strong>al</strong> e que autorizou a sua propositura.<br />

Ou seja, mesmo sen<strong>do</strong> associa<strong>do</strong>, não ten<strong>do</strong> autoriza<strong>do</strong> a propositura da ação col<strong>et</strong>iva, não po<strong>de</strong>rá se beneficiar da sentença<br />

col<strong>et</strong>iva153.<br />

Registrem-se <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, mesmo posteriores ao prece<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Supremo Tribun<strong>al</strong> Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong>, que<br />

continuam a apontar que to<strong>do</strong>s os indivíduos pertencentes à comunida<strong>de</strong>, associa<strong>do</strong>s ou não à autora da ação col<strong>et</strong>iva, se<br />

beneficiam da sentença col<strong>et</strong>iva, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> executá-la em seu favor 154 . O tema, portanto, continua polêmico, tanto que a Segunda<br />

Seção <strong>do</strong> Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça af<strong>et</strong>ou recurso especi<strong>al</strong> ao julgamento rep<strong>et</strong>itivo (tema 948) para pacificar o entendimento <strong>do</strong><br />

tribun<strong>al</strong> a respeito <strong>do</strong> tema.<br />

Essa re<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> é ruim no caso <strong>do</strong> direito individu<strong>al</strong> homogêneo, porque exigirá daqueles sujeitos na mesma situação fáticojurídica<br />

<strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s a propositura <strong>de</strong> nova <strong>de</strong>manda para a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus interesses. Conspira, portanto, contra os v<strong>al</strong>ores mais<br />

importantes da tutela col<strong>et</strong>iva: a economia processu<strong>al</strong> e a harmonização <strong>do</strong>s julga<strong>do</strong>s, porque exige a propositura <strong>de</strong> novas ações e<br />

abre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões contraditórias e/ou conflitantes.<br />

Já no caso <strong>do</strong>s direitos difuso e col<strong>et</strong>ivo a re<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> é péssima, porque viola a própria natureza indivisível <strong>de</strong> tais espécies <strong>de</strong><br />

direitos. Como exatamente compatibilizar a limitação ora an<strong>al</strong>isada com t<strong>al</strong> indivisibilida<strong>de</strong>? Se a tutela favorece a col<strong>et</strong>ivida<strong>de</strong> ou<br />

uma comunida<strong>de</strong> (grupo, classe ou categoria <strong>de</strong> pessoas), como exatamente <strong>de</strong>ve ser compreendida a limitação <strong>de</strong> benefício<br />

somente à parcela <strong>do</strong>s sujeitos que compõem o titular <strong>do</strong> direito (que não são os indivíduos, mas a col<strong>et</strong>ivida<strong>de</strong> ou comunida<strong>de</strong>)?<br />

Esse problema prático, entr<strong>et</strong>anto, a meu ver, po<strong>de</strong> ser afasta<strong>do</strong> sem violação ao entendimento já pacifica<strong>do</strong> nos tribunais<br />

superiores. Quan<strong>do</strong> a associação atua como autora <strong>de</strong> ação col<strong>et</strong>iva em benefício da col<strong>et</strong>ivida<strong>de</strong> (direito difuso) ou <strong>de</strong> uma<br />

comunida<strong>de</strong> (direito col<strong>et</strong>ivo), ela claramente não está em juízo na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus associa<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> forma a ser inaplicável a esses<br />

casos o art. 5.º, XXI, da CF. Nessa hipótese, portanto, a legitimida<strong>de</strong> ativa será an<strong>al</strong>isada exclusivamente à luz das normas<br />

referentes ao tema constantes da Lei <strong>de</strong> Ação Civil Pública e <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r.<br />

Registre-se, por fim, que o prece<strong>de</strong>nte ora an<strong>al</strong>isa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Supremo Tribun<strong>al</strong> Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong> trata especificamente <strong>de</strong> tutela col<strong>et</strong>iva <strong>de</strong><br />

direito individu<strong>al</strong> homogêneo, <strong>de</strong> forma que seus possíveis efeitos vinculantes não po<strong>de</strong>m af<strong>et</strong>ar ações col<strong>et</strong>ivas que tenham como<br />

obj<strong>et</strong>o direito difuso ou col<strong>et</strong>ivo. O Superior Tribun<strong>al</strong> <strong>de</strong> Justiça, aparentemente, também assim compreen<strong>de</strong>u os limites <strong>do</strong><br />

prece<strong>de</strong>nte cria<strong>do</strong> no Supremo Tribun<strong>al</strong> Fe<strong>de</strong>r<strong>al</strong>, já que continua a consi<strong>de</strong>rar a associação legitimada para a tutela <strong>de</strong> direito<br />

col<strong>et</strong>ivo sem fazer menção à exigência <strong>de</strong> autorização <strong>de</strong> seus associa<strong>do</strong>s155.<br />

11.4.6. Defensoria Pública<br />

Pela Lei 11.448, <strong>de</strong> 15.01.2007, com a <strong>al</strong>teração <strong>do</strong> art. 5º, II, da Lei 7.347/85 (LACP), houve a expressa inclusão da<br />

Defensoria Pública no rol <strong>de</strong> legitima<strong>do</strong>s à propositura da ação col<strong>et</strong>iva. Antes <strong>de</strong> an<strong>al</strong>isar a norma leg<strong>al</strong> propriamente dita, é<br />

preciso fazer uma exposição, ainda que breve, da participação da Defensoria Pública no âmbito das ações col<strong>et</strong>ivas antes da Lei<br />

11.448/2007.<br />

É necessário reconhecer que, mesmo antes <strong>de</strong>ssa previsão leg<strong>al</strong>, a Defensoria Pública já participava <strong>de</strong> ações col<strong>et</strong>ivas. Parece<br />

não haver maiores dúvidas a respeito da legitimida<strong>de</strong> da Defensoria Pública como mero assistente judici<strong>al</strong> <strong>de</strong> associação que<br />

funcionaria como autora da ação col<strong>et</strong>iva. Como se po<strong>de</strong> notar com relativa facilida<strong>de</strong>, nessa circunstância a Defensoria Pública<br />

não compõe o polo ativo da ação col<strong>et</strong>iva, servin<strong>do</strong> simplesmente como assistente judici<strong>al</strong> <strong>de</strong> pessoa jurídica legitimada<br />

expressamente em lei para a propositura <strong>de</strong> t<strong>al</strong> espécie <strong>de</strong> ação.<br />

Ainda que não seja parte na ação col<strong>et</strong>iva, a mera atuação da Defensoria Pública já é o suficiente para suscitar relevante<br />

questionamento: auxilian<strong>do</strong> judici<strong>al</strong>mente o autor da ação col<strong>et</strong>iva, <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong>monstrada sua situação <strong>de</strong> carência econômica,<br />

inviabiliza<strong>do</strong>ra da atuação em proteção <strong>do</strong> direito transindividu<strong>al</strong>? Importante lembrar que, apesar da gratuida<strong>de</strong> existente para os<br />

autores das ações col<strong>et</strong>ivas, é necessária a presença <strong>de</strong> agente com capacida<strong>de</strong> postulatória, <strong>de</strong> preferência experimenta<strong>do</strong>, o que<br />

nem sempre po<strong>de</strong> ser obti<strong>do</strong> pelas associações menos organizadas.<br />

O mesmo se po<strong>de</strong> dizer da ação popular, na qu<strong>al</strong> o cidadão pobre po<strong>de</strong> não ter condições <strong>de</strong> contratar um advoga<strong>do</strong>. Apesar da<br />

extrema improbabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> t<strong>al</strong> circunstância, é possível imaginar a presença da Defensoria Pública como assistente judici<strong>al</strong> <strong>do</strong><br />

autor da ação popular. Contu<strong>do</strong>, se o réu tivesse condições <strong>de</strong> arcar com a contratação <strong>do</strong> advoga<strong>do</strong>, ainda assim po<strong>de</strong>ria a<br />

Defensoria Pública atuar na qu<strong>al</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistente judici<strong>al</strong>?<br />

Para parcela <strong>do</strong>utrinária a comprovação da hipossuficiência econômica <strong>do</strong> autor é indispensável, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser compreendida<br />

essa atuação da Defensoria Pública <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua função típica <strong>de</strong> proteção ao economicamente necessita<strong>do</strong>. Outra parcela<br />

<strong>do</strong>utrinária enten<strong>de</strong> que essa comprovação é dispensada, até porque a <strong>de</strong>fesa em juízo não se dá para tutela <strong>de</strong> interesse <strong>do</strong> autor da<br />

ação col<strong>et</strong>iva, mas sim da col<strong>et</strong>ivida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> um grupo, classe ou categoria <strong>de</strong> pessoas156.

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