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3 - TARTUCE, Flávio et al. Manual de Direito do Consumidor - Direito Material e Processual (2017)

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esponsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva prevista na Lei 8.078/1990: a) a produção em massa; b) a vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r; c) a<br />

insuficiência da responsabilida<strong>de</strong> subj<strong>et</strong>iva; d) a existência <strong>de</strong> antece<strong>de</strong>ntes legislativos, ainda que limita<strong>do</strong>s a certas ativida<strong>de</strong>s; e)<br />

o fato <strong>de</strong> que o fornece<strong>do</strong>r tem <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r pelos riscos que seus produtos acarr<strong>et</strong>am, já que lucra com a venda.7 Relativamente<br />

ao último fator, leciona o jurista, mencionan<strong>do</strong> a sua origem romana: “como já <strong>de</strong> resto diziam os romanos, ‘ubi emolumentum ibi<br />

onus, ubi commoda, ibi incommoda’; ou seja, quem lucra com d<strong>et</strong>erminada ativida<strong>de</strong> que representa um risco a terceiro <strong>de</strong>ve<br />

também respon<strong>de</strong>r pelos danos que a mesma venha a acarr<strong>et</strong>ar”. 8<br />

Consigne-se que várias <strong>de</strong>cisões jurispru<strong>de</strong>nciais fazem menção a t<strong>al</strong> máxima e à concepção <strong>do</strong> risco-proveito (por to<strong>do</strong>s:<br />

TJDF – Recurso Inomina<strong>do</strong> 0731579-80.2015.8.07.0016 – Terceira Turma Recurs<strong>al</strong> <strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s Especiais – Rel. Juiz Asiel<br />

Henrique <strong>de</strong> Sousa – j. 20.09.2016 – DJDFTE 27.09.2016; TJRS – Apelação Cível 0306485-11.2015.8.21.7000, Sananduva –<br />

Nona Câmara Cível – Rel. Des. Eugênio Facchini N<strong>et</strong>o – j. 25.11.2015; TJSP – Apelação 4002586-41.2013.8.26.0533 – Acórdão<br />

8959634, Santa Bárbara d’Oeste – Vigésima Quarta Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong> – Rel. Des. Ferreira da Cruz – j. 05.11.2015 –<br />

DJESP 17.11.2015; TJMG – Apelação Cível 5253483-86.2008.8.13.0702, Uberlândia – Décima Quarta Câmara Cível – Rel. Des.<br />

Rogério Me<strong>de</strong>iros – j. 03.02.2011 – DJEMG 15.03.2011; TJSP – Apelação com Revisão 554.789.4/0 – Acórdão 3578545, Santos<br />

– Terceira Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Priva<strong>do</strong> – Rel. Des. Egidio Giacóia – j. 07.04.2009 – DJESP 08.05.2009; e TJRJ – Apelação Cível<br />

2006.001.48011 – Quarta Câmara Cível – Rel. Des. Sidney Hartung – j. 13.03.2007).<br />

Essa responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva gera uma inversão automática e leg<strong>al</strong> <strong>do</strong> ônus da prova, não haven<strong>do</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o<br />

consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong>monstrar o <strong>do</strong>lo ou a culpa <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r ou presta<strong>do</strong>r. Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>al</strong>iás, ementa publicada pelo STJ por meio da<br />

ferramenta Jurisprudência em Teses (Edição n. 39), em 2015, segun<strong>do</strong> a qu<strong>al</strong> “em <strong>de</strong>manda que trata da responsabilida<strong>de</strong> pelo fato<br />

<strong>do</strong> produto ou <strong>do</strong> serviço (arts. 12 e 14 <strong>do</strong> CDC), a inversão <strong>do</strong> ônus da prova <strong>de</strong>corre da lei (ope legis), não se aplican<strong>do</strong> o art. 6º,<br />

inciso VIII, <strong>do</strong> CDC”.<br />

Pois bem, o Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r, ao a<strong>do</strong>tar a premissa ger<strong>al</strong> <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva, quebra a regra da<br />

responsabilida<strong>de</strong> subj<strong>et</strong>iva prevista pelo Código Civil <strong>de</strong> 2002, fundada na culpa lato sensu, que engloba o <strong>do</strong>lo (intenção <strong>de</strong> causar<br />

prejuízo por ação ou omissão voluntária) e a culpa stricto sensu (<strong>de</strong>srespeito a um <strong>de</strong>ver preexistente, seja ele leg<strong>al</strong>, contratu<strong>al</strong> ou<br />

soci<strong>al</strong>). Vejamos o quadro com essa confrontação:<br />

Código Civil <strong>de</strong> 2002<br />

Regra: Responsabilida<strong>de</strong> civil subj<strong>et</strong>iva, fundada na<br />

culpa lato sensu ou em senti<strong>do</strong> amplo (arts. 186 e 927,<br />

parágrafo único, <strong>do</strong> CC).<br />

Exceção: Responsabilida<strong>de</strong> civil obj<strong>et</strong>iva, nos casos<br />

especifica<strong>do</strong>s em lei ou presente a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> risco<br />

(art. 927, parágrafo único, <strong>do</strong> CC). O próprio Código Civil<br />

consagra várias hipóteses <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva,<br />

como nos casos <strong>de</strong> ato <strong>de</strong> terceiro (arts. 932 e 933), fato<br />

<strong>do</strong> anim<strong>al</strong> (art. 936) e fato da coisa (arts. 937 e 938).<br />

Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r<br />

Regra: Responsabilida<strong>de</strong> civil obj<strong>et</strong>iva <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> produtos e presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> serviços (arts. 12, 14, 18,<br />

19 e 20 <strong>do</strong> CDC).<br />

Exceção: Responsabilida<strong>de</strong> civil subj<strong>et</strong>iva <strong>do</strong>s<br />

profissionais liberais (art. 14, § 4º, <strong>do</strong> CDC).<br />

Conforme se r<strong>et</strong>ira da exposição acima, a regra da responsabilida<strong>de</strong> obj<strong>et</strong>iva <strong>do</strong> Código Consumerista é quebrada em relação<br />

aos profissionais liberais que prestam serviço, uma vez que somente respon<strong>de</strong>m mediante a prova <strong>de</strong> culpa (responsabilida<strong>de</strong><br />

subj<strong>et</strong>iva). Enuncia o art. 14, § 4º, da Lei 8.078/1990 que “A responsabilida<strong>de</strong> pesso<strong>al</strong> <strong>do</strong>s profissionais liberais será apurada<br />

mediante a verificação da culpa”. Para caracterização <strong>de</strong>sse profission<strong>al</strong> liber<strong>al</strong>, preciosas são as lições <strong>de</strong> Rizzatto Nunes, no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vem estar presentes as seguintes características: a) autonomia profission<strong>al</strong>, sem subordinação; b) prestação<br />

pesso<strong>al</strong> <strong>do</strong>s serviços; c) elaboração <strong>de</strong> regras pessoais <strong>de</strong> atendimento; d) atuação lícita e <strong>et</strong>icamente admitida.9<br />

A norma é justificada, visto que os profissionais liberais individuais, assim como os consumi<strong>do</strong>res, estão muitas vezes em<br />

posição <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> ou hipossuficiência. Além disso, quan<strong>do</strong> o serviço é presta<strong>do</strong> por um profission<strong>al</strong> liber<strong>al</strong>, há um caráter<br />

person<strong>al</strong>íssimo ou intuitu personae na relação jurídica estabelecida, conforme bem expõe Zelmo Denari.10 Desse mo<strong>do</strong>, a título <strong>de</strong><br />

exemplo, a responsabilida<strong>de</strong> pesso<strong>al</strong> <strong>de</strong> advoga<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>ntistas e médicos somente existe no âmbito consumerista se provada a sua<br />

culpa, ou seja, o seu <strong>do</strong>lo – intenção <strong>de</strong> causar prejuízo – ou a sua culpa, por imprudência (f<strong>al</strong>ta <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> + ação), negligência<br />

(f<strong>al</strong>ta <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> + omissão) ou imperícia (f<strong>al</strong>ta <strong>de</strong> qu<strong>al</strong>ificação ger<strong>al</strong> para <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> uma atribuição).<br />

Ato contínuo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, é utilizada, também como justificativa para a responsabilida<strong>de</strong> subj<strong>et</strong>iva <strong>do</strong>s profissionais liberais, a<br />

premissa da assunção <strong>de</strong> uma obrigação <strong>de</strong> meio ou <strong>de</strong> diligência. Nas hipóteses envolven<strong>do</strong> os profissionais da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

caso <strong>do</strong>s médicos, a responsabilida<strong>de</strong> subj<strong>et</strong>iva é expressa pelo art. 951 <strong>do</strong> Código Civil, in verbis: “O disposto nos arts. 948, 949 e

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